Corinthians Guerrero. Nada mais simbólico

Normalmente quando se diz que a qualidade do time é ter raça, é porque não há outra qualidade no time. Time “brigador” ou “determinado” é muitas vezes um eufemismo para times ruins que se esforçam no seu limite. O Corinthians é um time de raça. Mas não tem nada de ruim. Técnico, organizado, frio. O Corinthians é raçudo, mas não por ser um time fraco, como foi muitas vezes na sua história e ganhou na vontade. Desta vez, o time é raçudo, mas é muito bom. A começar pelo goleiro, Cássio, decisivo e eleito o melhor jogador do Mundial. E não poderia ter um nome mais simbólico para o autor do gol da vitória do Corinthians que GUERRERO.
Não é só no nome que José Paolo Guerrero faz referência a um guerreiro. Faz na alma, na personalidade. Mostrou a vontade, mostrou a precisão de um jogador que parecia ter um arco e flecha nas mãos. E, na hora certa, soltou uma flecha mortal, quando a defesa do Chelsea o deixou livre. Mortal. Como já tinha sido contra o Al Ahly, mas agora o adversário era o campeão europeu, o time que venceu o Barcelona, aquele que derrotou o Bayern Munique na casa do adversário na final da Liga dos Campeões. Guerrero foi decisivo.
Guerrero, um símbolo de uma torcida que se acostumou por muito tempo a ser campeã com times inferiores tecnicamente, mas muito superior em vontade, em raça. E nesse Corinthians de Tite, o que sobra mesmo é organização. Disciplina. Merecimento. Aliás, poucas vezes um campeão mundial foi tão merecido. Se no histórico título brasileiro de 1990 o Corinthians não era o melhor time, mas levou mesmo assim, desta vez não foi assim. Foi melhor. E não foi melhor só em campo. Fora, foi muito melhor.
E o comando de um técnico que dá um exemplo ao futebol brasileiro: Tite. Tática, antes, era só considerada uma arma para aqueles sem técnica. Um pensamento que tem que ser enterrado, para sempre. Porque Tite montou um grande time, técnico, raçudo, um time organizado e que sabe usar a tática para crescer. Futebol não se ganha só na técnica, só no talento, só no improviso. Se ganha com treino, repetição. E isso Tite sabe e sabe muito bem. Mas tem outro fato, que Tite sabe e entende bem: a torcida.
São Paulo acordou cedo. Desde a noite de sábado, os fogos já apareciam, mas não eram nem sete da manhã quando começou o foguetório na zona leste, região da cidade conhecida pelo predomínio de corintianos. Ninguém dorme na zona leste. Mesmo aqueles que não gostam de futebol e não sabiam do jogo acordaram. Porque seria impossível ignorar.

No Japão, os torcedores do Corinthians fizeram de Yokohama um estádio brasileiro. Faixas por todos os lados e o mantra “vai Corinthians” sendo repetido de forma incansável. Eram 68.275 pessoas no estádio de Yokohama. Não se sabe quantos corintianos, quantos viajaram… Mas o que se viu foi uma festa da torcida do Corinthians, que transformou o estádio de Yokohama no Pacaembu em final de Libertadores.
O Corinthians não foi o Corinthians da Libertadores. Foi melhor. Tem um centroavante melhor, um banco melhor e um time maduro, seguro. Danilo, um jogador que parece não se abalar nunca, foi muito importante para o time. Mas tem algo igual à Libertadores. Um gigante, um monstro: o goleiro Cássio.
Foram ao menos quatro grandes defesas durante o jogo, todas decisivas. Todas poderiam ter mudado o rumo da partida. Com a segurança de Cássio, veio o gol decisivo. Justo e simbólico. Jogada que começou com Jorge Henrique, aquele que entrou na final por influência direta da visão de Tite. A bola foi para Paulinho, melhor jogador do time, chegou em Danilo, técnico, decisivo e fundamental, até que a bola sobrou livre, limpa para Guerrero subir e lá do alto soltar a cabeçada que morreria no fundo da rede e faria milhões de corações explodirem no Japão, no Brasil, na África, na Europa, no mundo. O Corinthians é o campeão do mundo.
O grande campeão do mundo, o time que trouxe de volta a soberania do futebol sul-americano, ao menos por um ano. Desde 2006 o título mundial não vinha para a América do Sul. Já estava com saudade. E virá ao Brasil, o país mais forte da América do Sul. E nada mais justo que volte nos braços do melhor time do país, que foi melhor que o time africano, que o europeu. Foi melhor que todos que enfrentou na Libertadores e no Mundial. É campeão, Corinthians. É campeão mundial, porque se para conquistar o mundo é preciso atravessá-lo, a torcida atravessou. O time atravessou como melhor da América para se consagrar como melhor do mundo. Parabéns, Corinthians. E parabéns à torcida, a maior merecedora do título.