Mundial de Clubes

Vietto fez uma partida contra o Flamengo para recordar as expectativas que seu futebol já criou

Vietto foi a principal arma do Al-Hilal na semifinal do Mundial e teve um ótimo momento numa carreira de decepções nos últimos anos

Luciano Vietto surgiu no Racing como um ótimo talento. E, por algum tempo, dava para acreditar que o atacante se transformaria num jogador de primeira linha no futebol mundial. Sua primeira temporada com o Villarreal foi excelente e fez seu preço quadruplicar em poucos meses. Porém, o jovem promissor se tornou um jogador parado no tempo. Rodou bastante e recebeu inúmeras chances, até deixarem de acreditar em seu futebol na Europa. No entanto, o Al-Hilal 3×2 Flamengo lembrou como o argentino possui qualidades. Foi o grande nome da partida e mostrou como, aos 29 anos, ainda pode produzir momentos relevantes.

Vietto surgiu no Racing pelas mãos de Diego Simeone. E o atacante teve boas sequências com o clube de Avellaneda em seus primeiros anos como profissional, a partir de 2011. Combinava boas doses de mobilidade e qualidade técnica, que logo o transformaram num xodó dentro da Academia. Anotou 18 gols em 74 partidas pelos racinguistas, números suficientemente interessantes para quem chegava aos 20 anos. Em 2014, o garoto arrumou as malas rumo à Espanha, contratado pelo Villarreal por €5,5 milhões.

A primeira temporada de Vietto em La Liga foi ótima. O atacante se colocou como artilheiro do Submarino Amarelo e liderou uma boa campanha sob as ordens de Marcelino García Toral. Terminou a temporada de 2014/15 eleito a revelação do Campeonato Espanhol. Foi então que o Atlético de Madrid promoveu o reencontro com Simeone por €20 milhões. A partir disso, o prodígio estagnou. Não deu certo no Atleti, também não vingou num empréstimo ao Sevilla. Decepcionou até no Valencia e não se encaixou quando arrumou as malas para a Inglaterra, rumo ao Fulham. A esta altura, o Atleti até recuperou parte do dinheiro ao vendê-lo para o Sporting por €11 milhões. Mas não que ele tenha se firmado em Lisboa.

A partir de 2020, a carreira de Vietto deixou os holofotes com sua saída rumo ao Al-Hilal, por €3,5 milhões. Mas nem num nível mais baixo conseguiu convencer totalmente. Seu melhor momento aconteceu em 2020/21, quando participou da conquista do Campeonato Saudita. Já no título recente da Champions Asiática, jogou apenas a fase de grupos em 2021, antes de ser emprestado para o Al-Shabab no primeiro semestre de 2022. Passava longe de ser o estrangeiro mais efetivo dos alviazuis. Recobrou um pouco mais de prestígio nesta temporada, de volta ao Hilal, sob as ordens do compatriota Ramón Díaz.

Vietto estreou bem no Mundial de Clubes, ao sair do banco e dar novo gás para o Al-Hilal na classificação contra o Wydad Casablanca. Mesmo assim, nada comparado ao que fez contra o Flamengo. Ramón Díaz explicou depois que usou o atacante conscientemente mais recuado por dentro, para flutuar atrás dos volantes do Flamengo e aproveitar a falta de pressão. Deu muito certo. Que se discuta os critérios da arbitragem na marcação dos pênaltis e no uso dos cartões, Vietto participou de ambas as penalidades e sofreu ambas as infrações. Era de longe o maior motivo de problemas num primeiro tempo em que o Hilal produziu pouco.

Os espaços se tornaram maiores com a expulsão de Gérson. Melhor ainda para Vietto desempenhar a função pedida por Ramón Díaz. O atacante foi um incômodo incessante. Tinha também a companhia de Salem Al-Dawsari pela esquerda, de Moussa Marega pela direita e depois pelo centro. Expuseram as debilidades do Flamengo. E, pela maneira como brilhava, Vietto merecia seu gol. Foi um lindo tento. O argentino auxiliou na recuperação e, depois de receber o lançamento magistral de Salem, teve toda a calma para decidir. Quebrou diante da marcação e acertou um míssil de dentro da área, na única fresta possível.

Os aplausos para Vietto foram merecidos, quando foi substituído ao final da partida. E sua participação fez falta nos acréscimos, no momento de maior temor ao Al-Hilal, quando o Flamengo encostou no placar. De qualquer forma, seu trabalho estava feito. Aos 29 anos, fica difícil imaginar o argentino de volta a uma grande liga. Ao menos, teve uma noite para justificar as expectativas do passado. Vai ser o nome de uma vitória inesquecível para a torcida massiva do Hilal. E também uma menção que os rubro-negros não desejarão ouvir mais. Foi o principal carrasco da eliminação flamenguista.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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