Mundial de Clubes

Provável titular, Vanderlan iniciou rumo ao Palmeiras com febre e foi salvo por ‘novo pai’

Lateral-esquerdo é o substituto lógico para o suspenso Piquerez na lateral

Aos 13 anos, Vanderlan viajou por quase doze horas, sozinho, até Salvador, para fazer um teste na Jacuipense. Cerca de 800 km separam Brumado, sua cidade-natal, da capital do Estado.

O então ponta-esquerda foi aprovado na peneira, mas não podia ficar no alojamento do clube. Apenas jogadores com mais de 14 anos podem morar no local.

Mas voltar também não era uma opção àquela altura. Apesar de ter jogado bem o suficiente para ser aceito no time, Vanderlan estava com febre. Não ia dar para encarar a estrada e o desconforto de quase 12 horas de ônibus naquelas condições.

Vanderlan não tinha como ir, tampouco onde ficar. O empresário Wilson Kraychete, que, na época, começava a investir na Jacuipense, ouviu a situação do garoto, conversou com a família dele e o colocou na sua casa.

Assim, em 2015, começou a carreira do palmeirense. Jogador que é a opção lógica para a lateral-esquerda do Palmeiras no confronto com o Chelsea, desta sexta-feira (4), pelas quartas de final da Copa do Mundo de Clubes — o Mundial de Clubes da Fifa.

Piquerez, o titular, está suspenso para o jogo. Assim como o capitão Gustavo Gómez.

Vanderlan visita ex-colegas da Jacuipense
Vanderlan visita ex-colegas da Jacuipense (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma segunda família

Kraychete, pai de Wilsinho, ponta-direita do sub-13 da Jacuipense, conversou com a família de Vanderlan, se apresentou e explicou a situação. Dona Walquíria e Seu Vanderlei ficaram aflitos, mas não tinham outra solução. Naquele dia, Vanderlan não sabia, mas estava ganhando uma segunda família.

— Nossa relação é de pai e filho mesmo — contou.

— Até se casar, sempre que tinha férias, ele passava metade do tempo na casa dos pais, metade com a gente aqui em Salvador. Tipo, Natal em Brumado, Ano Novo aqui — explicou.

Wilsinho e Vanderlan se tornaram melhores amigos de imediato. Não havia ciúmes na relação. Vanderlan era exemplar dentro de casa e excepcional na escola.

— Pense numa pessoa organizada — diz Kraychete.

Enquanto você lê esse texto, Vanderlan provavelmente já recebeu um vídeo que Wilsinho produziu para o seu melhor amigo assistir antes do jogo na Filadélfia.

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Convencer as mães

Maria Auxiliadora, a Dora, esposa de Kraychete, tinha com Vanderlan o cuidado de uma mãe mesmo. Por pouco, aliás, os dois garotos não dividiam até mesmo a mesma data de nascimento. Wilsinho é de 4 de setembro de 2002. Vanderlan, do dia 7 do mesmo mês e do mesmo ano.

Foi em 2017, que um olheiro do Palmeiras viu Vanderlan em uma partida, se aproximou e disse que queria levar o jogador para o Sub-15 Alviverde. Mas não ia ser tão fácil.

— A Dora não queria deixar o Vanderlan ir para o Palmeiras. Ela era promotora de Justiça. Para ela, o mais importante era terminar de estudar — relembra o “segundo pai” do lateral alviverde.

— Tudo isso era combinado com a Valquíria. As duas tinham essa preocupação — acrescentou.

João Paulo Sampaio, o coordenador das categorias de base do Palmeiras, foi jantar na casa de Wilson e Dora para tentar convencer “as mães” a deixá-lo seguir para São Paulo.

Já Kraychete estava certo de que o destino do garoto tinha de ser mesmo o CT da base do Palmeiras, em Guarulhos.

— Eu já conhecia o João Paulo desde a época em que ele trabalhava no Vitória. A confiança no trabalho dele era total. O Vanderlan teve de explicar para a Dora que aquele era o sonho dele, que ele tinha que partir. E conseguiu.

Futebol e música na família

Quando Vanderlan veio para o Palmeiras, ele praticamente já era o único “filho” de Kraychete envolvido no futebol.

Àquela altura, Wilsinho já havia abandonado a bola para abraçar uma carreira de músico. Segundo o pai, o ex-ponta canta uma espécie de forró modernizado, com pitadas de arrocha.

— É uma carreira dura — diz Wilson pai.

A música também faz parte da vida de Wilson Kraychete. À frente da Salvador Produções, ele agencia pesos-pesados da música, como Leo Santana e o grupo Parangolé, além de organizar eventos como o “Tardezinha”, de Thiaguinho, e o “Numanice”, de Ludmilla.

No futebol, em parceria com Marcelo Pitombeira, ele agencia Wesley ex-Palmeiras, hoje no Internacional, Matheus Bahia, do Ceará, e Nilton, que jogou o Mundial pelo Botafogo.

Antônio, seu outro filho sanguíneo, foi para os EUA com uma bolsa universitária de 80% para jogar futebol, mas deixou a carreira esportiva de lado para seguir na engenharia mecânica. Já Maria, a filha mais nova, se formou em publicidade.

Até hoje, o contato de Vanderlan com a família permanece. Em 2022, prestes a ser integrado de vez no profissional do Palmeiras, Vanderlan foi a Salvador ver a posse de Dora como Procuradora de Justiça do Estado da Bahia.

Kraychete esteve nos EUA na primeira fase do Mundial. Assistiu ao 2 a 2 do Palmeiras com o Inter Miami. Encontrou Vanderlan, ganhou uma camisa e prometeu voltar para vê-lo na final.

O cumprimento da promessa passará muito pelos pés de Vanderlan e pode começar a se encaminhar hoje, contra o Chelsea.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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