Mundial de Clubes

E se Arthur jogasse a final do Mundial de Clubes pelo Grêmio e Modric ficasse fora do Real Madrid?

Desde o sábado devo ter lido uns dez textos, alguns de caras que respeito muito, dando conta do massacre sofrido pelo Grêmio no jogo contra o Real Madrid. Muitos mencionam aspectos do jogo que realmente estavam lá, e que são preocupantes – o mais óbvio, claro, o abismo financeiro entre os clubes. Outros vão numa linha um pouco mais chicolanguiana. A maior parte, porém, difunde a narrativa: o Real Madrid massacrou o Grêmio, não há a menor possibilidade de comparar os dois times. E, no entanto, o jogo foi 1 a 0 e o gol foi marcado numa rara falha da defesa tricolor. Como fica então a narrativa?

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Façamos um exercício de imaginação: Arthur não se machucou contra o Lanús. O Grêmio foi a campo completo, pode jogar o que vinha jogando, não precisou se reestruturar em 10 dias. Do outro lado, Modric se quebrou e em seu lugar entrou… Qualquer um, pode escolher, Kovacic, Asensio, escolhe aí. Funcionou a sua imaginação? A minha funcionou: ganhou o Grêmio, 1 a 0, falha do goleiro Keylor Navas. Marcelo Grohe foi perfeito, a zaga gremista também, o Real teve mais bola, mas os chutes a gol foram todos muito longe do alvo, enquanto o Grêmio chegou menos, mas fez o gol.

Note que a descrição acima tem muitos elementos que de fato aconteceram no jogo: Navas é bom goleiro e faz boa temporada, mas não é um Buffon; Grohe e a zaga do Grêmio não erraram o jogo todo; os chutes a gol do Real Madrid foram todos (menos o gol e talvez mais um ou dois antes do gol) para fora. A diferença é que a sorte esteve do lado Merengue.

Um amigo argumentou que o Real Madrid tirou o pé, que se quisesse teria feito 20 gols. Não encaixa, sinto. O jogo estava 1 a 0, não 2 a 0. Numa bola espirrada, num erro, o Grêmio empataria. O Real Madrid correria esse risco se realmente pudesse ter marcado o segundo gol? De ter que jogar uma prorrogação, pênaltis? De ver contestada sua soberba? Não creio. É possível argumentar que o time não jogou tudo que sabe, nem totalmente motivada.

Ninguém aqui está dizendo que não há um abismo entre os elencos. O ponto é que, em um jogo só, isso não é sempre determinante. Elenco profundo faz diferença pra enfrentar temporada inteira, campeonato longo. Em um jogo só? Tem onze de cada lado e são só noventa minutos, no máximo 120. Não faz tanta diferença quanto por vezes se coloca.

Na esteira da derrota do time brasileiro houve até quem houvesse por bem chamar de surpresas algumas das vitórias brasileiras recentes. Como se o Corinthians não fosse no mínimo equivalente ao Chelsea (de Rafa Benítez), ainda que com alguns grandes jogadores, e o São Paulo não fosse superior ao Liverpool que, ainda que tivesse Gerrard, tinha também o técnico Rafa Benítez (de novo!), Harry Kewell e Peter Crouch – e Hyypia, Carragher, Finnan (AAAAAAHHHHHHH, PARA!).

Vocês, desculpem, têm um enorme complexo de inferioridade. O único jogador do Real Madrid que se sobressaiu na final do Mundial foi Modric. Se ele não joga, e Arthur joga, seria outro jogo. O Real Madrid ainda seria favorito, mas futebol tem isso, os favoritos perdem. E o Real Madrid poderia ter perdido se Arthur jogasse e Modric, não. O que não mudaria os problemas do futebol brasileiro, a diferença econômica e nem o potencial técnico de cada time. Mas o resultado poderia ser diferente.

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