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O prisioneiro de guerra alemão que virou lenda no futebol inglês: A vida de Bert Trautmann será contada em um filme

Bert Trautmann possui uma das histórias mais incríveis que o futebol já registrou. O alemão de Bremen completou sua maioridade durante a Segunda Guerra Mundial e, por três anos, foi obrigado a lutar no Front Oriental pela Luftwaffe – a força aérea do Terceiro Reich. Depois, seria transferido às tropas que batalhavam na região da Normandia e acabaria preso por militares britânicos. Raro sobrevivente de seu regimento, seria mantido como prisioneiro e se recusou a voltar para a Alemanha, tentando reconstruir sua vida na Inglaterra depois da libertação em 1948. O futebol seria o seu caminho. Goleiro de uma equipe amadora, chamou a atenção do Manchester City e chegou à Football League já em 1949. Virou um dos melhores arqueiros da história do futebol inglês. Em 1956, ano em que terminou eleito o melhor futebolista do país, conquistou a Copa da Inglaterra em mítica final na qual jogou com o pescoço fraturado durante 17 minutos – após cair inconsciente em campo. Uma epopeia biográfica que parece até mesmo obra dos cinemas. E que neste ano ganhará as telonas, no filme “The Keeper”.

O passado de Trautmann possui suas ranhuras e suas controvérsias. Durante a adolescência, ele participou de instituições atléticas ligadas à juventude hitlerista. Já como soldado, ganhou cinco medalhas, embora sua maior virtude fosse mesmo sair ileso das situações que colocavam em risco sua vida. Detido por soviéticos e por rebeldes franceses, conseguiu fugir ambas as vezes. Além disso, só foi pego pelos britânicos quando novamente escapava de soldados americanos – em uma época na qual havia desertado do exército alemão e temia sua execução. Mesmo no futebol, obviamente, a resistência ao soldado inimigo era enorme. Quando foi anunciada a sua contratação pelo Manchester City, os torcedores ameaçaram boicotar as partidas do clube, cartas de protesto foram enviadas aos montes e mais de 20 mil participaram de uma passeata contra o alemão.

Sua aceitação contou com a participação do capitão Eric Westwood, ele mesmo um veterano do exército britânico. E por mais que a qualidade de Trautmann tenha convencido a torcida celeste, era comum ser chamado de nazista pelas torcidas adversárias. Conquistou a confiança apenas através de seu trabalho, com mais de 500 partidas pela Football League. Sua qualidade era tão grande que passou a ser cotado à seleção alemã. Encontrou-se com Sepp Herberger, mas o fato de não jogar no futebol alemão o impediu de atuar pelo Nationalelf. Nada que fizesse falta à sua grande história, mesmo com a possibilidade de ser campeão do mundo. Em 1956, deixou Wembley a seus pés com a atuação heroica na conquista da FA Cup. Jogou profissionalmente até 1964, nome indiscutível na lista de grandes ídolos do City. E seu legado perdurou, influenciando vários goleiros por seu estilo arrojado sob as traves, sobretudo pelos pênaltis defendidos e pela excelente saída de bola. Não à toa, serviu de inspiração a Gordon Banks.

O filme, com ares de romance, recontará desde os dias de Trautmann no exército alemão à sua ascensão rumo ao Manchester City. A história de amor que construiu com Margaret Friar, filha do dono do primeiro clube que o acolheu na Inglaterra, dita o tom da produção. O ápice até viver a partida lendária na final da Copa da Inglaterra. Filmado em 2018, o longa será lançado em março na Alemanha e em abril no Reino Unido. O diretor Marcus H. Rosenmüller passou um bom tempo entrevistando o próprio Trautmann antes do falecimento do goleiro, em 2013. Já o protagonista será o ator alemão David Kross, que em 2008 teve um papel importante no filme O Leitor – responsável por render o Oscar de melhor atriz a Kate Winslet.

Abaixo, o trailer. Apesar dos contornos melodramáticos, parece se candidatar a um dos melhores filmes sobre futebol já lançados. O roteiro, em si, já provoca as expectativas. Que não demore a chegar ao Brasil:



Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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