Parlamento britânico quer excluir clubes ligados à Rússia de programas do governo

A prisão de Alexei Navalny na Rússia tem gerado uma crise diplomática com a União Europeia e com o Reino Unido e pode afetar também o futebol. Membros do Parlamento britânico (equivalente aos deputados federais no Brasil) querem excluir dois clubes de futebol de programas oficiais que promovem o país por estarem ligados a oligarcas bilionários russos.
Navalny é um ativista político e opositor de Putin. Está preso desde o dia 17 de janeiro, depois de voltar a Moscou pela primeira vez desde que foi envenenado, no ano passado, e ficou meses se tratando na Alemanha. O Reino Unido pediu que a Rússia o libere, mas ele foi condenado a três anos e meio de prisão por fraude fiscal. A justiça russa considera que ele descumpriu a liberdade condicional ao sair do país.
O ativista culpou o presidente russo Vladimir Putin pelo seu envenenamento. O Kremlin nega qualquer envolvimento. Além do Reino Unido, União Europeia e Estados Unidos exigiram que ele seja solto. O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse em entrevista à agência de notícias estatal TASS que os pedidos de liberdade ao preso não têm qualquer fundamento na realidade e que devem respeitar a soberania russa.
Os clubes que podem sofrer as consequências são o Chelsea, que tem Roman Abramovich como dono, e o Everton, que tem um patrocinador cujo dono é Alisher Usmanov, ex-acionista do Arsenal. Abramovich comprou o Chelsea em 2003, o que mudou a história do clube. Tradicional, mas pouco vencedor, o clube se tornou uma potência. Usmanov, por sua vez, além de ser dono da empresa que patrocina o Everton, tem ligações também com o acionista majoritário do clube de Liverpool.
Um grupo de 24 membros do parlamento de seis partidos diferentes assinaram um documento enviado à Secretaria de Assuntos Exteriores, que tem Dominic Raab à frente, pedindo para garantir que nenhum dos dois clubes participem de qualquer missão ou missões comerciais do governo.
Quem escreveu o documento foi Layla Moran, porta-voz do partido Democratas Liberais para assuntos externos. O documento, segundo a BBC, diz que o trabalho dessas missões é enfraquecido se esses clubes estão envolvidos. “O soft power do Reino Unido é mais fraco por causa disso”, diz o documento.
Dois projetos que envolvem diretamente os dois clubes da Premier League são alvo dos parlamentares britânicos. Um deles é o Premier Skills, programa de treinamento de base, que é uma parceria da Embaixada Britânica e da Premier League que trabalhou em 29 países desde 2007. Outro programa que os parlamentares querem tirar os clubes é o a campanha GREAT, que promove comércio e investimento no Reino Unido, e que a Premier League apoia.
Para os parlamentares britânicos, há oito indivíduos que deveriam sofrer sanções para colocar pressão em Putin em relação ao caso. Entre os oito nomes estão Roman Abramovich e Alisher Usmanov. Eles foram descritos como “principais facilitadores e beneficiários da cleptocracia [governo de ladrões] russa, com envolvimento e bens significativos com o Ocidente”.
“Futebol e nossos clubes de futebol são parte da marca britânica. Eles nos ajudam a promover nossos interesses e nossos valores fora do país. O trabalho é minado se permitimos que clubes com ligações fortes com o governo russo estejam envolvidos nesses esforços. O soft power do Reino Unido é mais fraco por isso”, diz o pedido dos parlamentares.
“Pedimos que trabalhe com os colegas do Gabinete para garantir que qualquer clube com tais conexões não esteja liderando ou faça parte de tais programas, incluindo: The GREAT Campaign, Premier Skills, visitas comerciais do governo realizadas em parceria com a Premier League. Os clubes que devem ser considerados para tal ação incluem Chelsea FC e Everton FC”, continua ainda o documento.
“O Reino Unido deve mostrar liderança e defender seus valores. Além de mais sanções, deixar claro que nossas instituições culturais e esportivas devem ser protegidas enviará um sinal claro aos nossos aliados e à Rússia”, diz ainda o documento.
“Nós continuamos a trabalhar e proteger os direitos humanos e civis na sociedade na Rússia. Nós estamos considerando todas as opções para mais ações. Seria inapropriado para mim especular sobre quaisquer listagens futuras”.