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Liverpool e Arsenal nem permitiram piscar diante da tela, com um eletrizante 2×2 de reviravoltas e emoção no talo

O Arsenal conseguiu abrir uma vantagem de dois gols em Anfield, mas o Liverpool cresceu e reagiu, ficando a um triz da virada até esbarrar em Ramsdale

Quem parou os 90 e tantos minutos diante da televisão neste domingo não se arrependeu. Arsenal e Liverpool ofereceram um dos melhores jogos da temporada, em Anfield, com dois tempos muito distintos. A primeira etapa ficou nas mãos dos Gunners. Foi uma apresentação segura e imponente, em que Gabriel Martinelli e Gabriel Jesus impulsionaram a vantagem de dois gols dos londrinos. Os Reds, no entanto, ressurgiram com o desconto no final da primeira etapa. E voltaram com tudo para o segundo tempo, com um pênalti perdido por Salah, mas o empate arrancado por Roberto Firmino. Os minutos derradeiros, por fim, ofereceram uma loucura. Nenhum dos times se entregava, mas a virada do Liverpool era mais possível. Ramsdale não deixou, com duas defesas monstruosas nos acréscimos. O lamento ficou apenas para o minuto final, que encerrou o 2 a 2 tão eletrizante. Não é um resultado ruim ao Arsenal como um todo, mas o problema fica pela forma como a vantagem escapou. Enquanto isso, o Liverpool relembrou o futebol dos melhores tempos de Klopp, mas sem que isso sirva tanto para a temporada como um todo.

Jürgen Klopp escalou o Liverpool com Alisson, Trent Alexander-Arnold, Ibrahima Konaté, Virgil van Dijk e Andy Robertson na defesa. O meio reunia Jordan Henderson, Fabinho e Curtis Jones. Já na frente, o trio composto por Mohamed Salah, Cody Gakpo e Diogo Jota. Mikel Arteta mantinha sua base praticamente completa. Aaron Ramsdale abria a escalação, protegido pela zaga alinhada com Ben White, Rob Holding, Gabriel Magalhães e Oleksandr Zinchenko. O meio possuía Thomas Partey, Granit Xhaka e Martin Odegaard. Mais à frente, Bukayo Saka e Gabriel Martinelli davam apoio a Gabriel Jesus.

O Arsenal precisou de um minuto para ganhar uma falta no campo do Liverpool. E logo Gabriel Martinelli se apresentou e criou perigo, mas Xhaka não aproveitou a continuação do lance. Foram minutos iniciais bastante intensos, inclusive com o Liverpool também buscando o ataque. Gakpo tentou a primeira finalização da entrada da área, mas bateu para fora. Diante das aberturas, o gol não tardou, aos oito minutos. Saiu para o lado dos Gunners, superiores. Numa tabela entre Saka e Odegaard, Van Dijk não conseguiu cortar o passe por completo. A sobra ficou na entrada da área com Martinelli, que carregou como deu e conseguiu bater de biquinho, superando Alisson. Era um gol fundamental.

Depois disso, o Arsenal pôde estabelecer seu jogo com mais tranquilidade. Adiantava suas linhas e rodava a bola com calma quando a recuperava. Alisson precisou salvar uma batida de Zinchenko aos 12 minutos. E a calma dos Gunners impressionava num jogo deste calibre, com muita fluidez especialmente pela direita, onde Saka voava baixo. Quase o segundo surgiu aos 17, num cruzamento que encontrou Gabriel Jesus entrando sozinho no segundo pau, mas o atacante bateu por cima. O Liverpool tinha dificuldades para equilibrar o duelo, mas não era mero espectador. Aos 20, Robertson invadiu a área com muita liberdade e mandou ao lado da trave. Logo depois, um cruzamento de Alexander-Arnold fez Holding afastar o perigo no limite.

O Arsenal sabia que não podia se descuidar, mas também tinha confiança sobre os seus recursos. E o segundo gol deu mais segurança para os Gunners, aos 28. Xhaka teve ótima participação no lance, com um passe por elevação que fez Martinelli disparar no corredor pela esquerda. O ponta encontrou muito espaço contra uma defesa lenta na recomposição e pôde caprichar no cruzamento. Uma bola milimétrica, direto na cabeça de Gabriel Jesus, que saltou também sem tanto incômodo e só cumprimentou para as redes. O tento, além do mais, brecou o ímpeto do Liverpool. Os Reds só voltaram a assustar aos 34, num passe errado que permitiu a arrancada de Salah, mas o atacante bateu para fora na saída de Ramsdale.

A sequência do primeiro tempo era controlada pelo Arsenal. Os Gunners tocavam sem pressa. O clima só esquentou um pouco numa breve confusão entre Xhaka e Alexander-Arnold, que rendeu cartões amarelos para ambos. Foi nesta hora que o Liverpool conseguiu descontar, aos 42. Numa ótima trama pela esquerda, Henderson ajeitou no meio da área e Salah apareceu nas costas da marcação para só cutucar às redes. Anfield despertou a partir de então, enquanto o duelo recuperou intensidade e até passou a contar com mais faltas. A última chance da etapa inicial seria dos Reds, nos acréscimos. Ramsdale rebateu o tiro fechado de Diogo Jota e Henderson mandou por cima a sobra. E a saída para os vestiários ainda teve sua dose de confusão quando o assistente de arbitragem Constantine Hatzidakis acertou o cotovelo no queixo de Robertson – o lateral ainda recebeu o amarelo, para revolta de todos no Liverpool.

De fato, o segundo tempo recomeçou fervilhante. E bem melhor para o Liverpool, que acelerava o jogo e parecia mordido para buscar o empate. Foram algumas bolas espetadas em velocidade, com Salah mandando um chute perigoso pelo lado externo da rede aos quatro minutos. Nesta panela de pressão, os Reds ganharam um pênalti. Holding derrubou Jota dentro da área, numa marcação óbvia. Porém, Salah não aproveitou a oportunidade aos sete minutos. O egípcio mirou o canto esquerdo e mandou ao lado da trave, num erro que soava como anticlímax aos anfitriões. Apesar disso, ao menos a postura do time não mudou. E o próprio Salah daria a resposta, num chute que exigiu boa defesa de Ramsdale na sequência.

As primeiras mudanças foram do Liverpool, aos 15 minutos. Thiago Alcântara e Darwin Núñez entraram, nas vagas de Fabinho e Diogo Jota. O abafa dos Reds se seguiu neste momento, sem tantas finalizações claras, mas com insistência nas infiltrações. Somente depois dos 20 minutos é que o Arsenal conseguiria ter um pouco mais de respiro, com escapadas esporádicas. Por um momento, o ritmo do jogo baixou e o Liverpool já não conseguia assustar tanto. E aos 29, enfim, os Gunners voltaram a ter um bom lance ofensivo. Robertson fez um corte importante na área, antes de Odegaard arriscar de fora e Alisson pegar. Os contragolpes dos londrinos passavam a encaixar.

Novas trocas aconteceram aos 33. O Liverpool apostou em Roberto Firmino na vaga de Fabinho. Já o Arsenal ganhava Jakub Kiwior e Leandro Trossard nos postos de Gabriel Jesus e Odegaard, se fechando um pouco mais. Os Reds podiam capitalizar logo de cara, num avanço em que Darwin Núñez arrancou sozinho, mas chutou em cima de Ramsdale. O duelo estava totalmente aberto. Os Gunners também flertaram com o terceiro num escanteio, mas a cabeçada de Gabriel Magalhães foi direto para a defesa de Alisson. E, nesta trocação, o empate dos Reds saiu aos 42, a partir de um lance sensacional de Alexander-Arnold. O lateral deu uma caneta em Zinchenko na linha de fundo e cruzou com muito esmero. Firmino, com estrela, concluiu de cabeça às redes.

A emoção chegava no talo para a reta final do jogo. E o Arsenal não se entregaria, elevando novamente o abafa para buscar a vitória. Seriam seis minutos de acréscimos, em que os londrinos tinham que aumentar a carga no ataque, mas não podiam se descuidar dos contragolpes. Aos 47, um escanteio dos Gunners gerou um avanço para os Reds, em pancada de Alexander-Arnold para fora. Depois, Salah ainda recebeu uma bola por cima e emendou de primeira, direto para fora. O Liverpool se indicava mais inteiro para uma virada, e quase conseguiu.

O nome nos minutos finais foi Ramsdale. Se a vitória do Liverpool não aconteceu, foi por duas defesas monumentais do goleiro. Primeiro, o arqueiro buscou com a ponta dos dedos um chute colocado de Salah, ainda desviado, que tomava os rumos do ângulo. Depois, se agigantou para salvar à queima-roupa um desvio de peito de Konaté na pequena área. Salah reclamaria de um pênalti na sobra. O Arsenal ainda teria uma última tentativa, num contra-ataque que Alisson limpou fora da área. Uma pena que o jogo tenha acabado, porque oferecia um prato cheio, entre dois times ávidos pelo triunfo. Foi uma partidaça.

O Arsenal termina a rodada com 73 pontos, ainda na liderança isolada da Premier League. A vantagem sobre o Manchester City fica em seis pontos, com uma partida a menos para os celestes. O campeonato segue aberto, embora não seja esse empate que atrapalhe necessariamente as pretensões dos Gunners. O Liverpool, por sua vez, fica na oitava colocação. Chega aos 44 pontos, a 12 pontos da zona de classificação à Champions. Foi uma apresentação de brio em meio a uma sequência ruim. O problema é que a falta de regularidade custa demais ao time de Jürgen Klopp.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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