Leicester vence jogo de xadrez contra o Liverpool e, em frangalhos, mostra sinal de reação
Pressão constante dos Reds esbarrou em Schmeichel, que parou Salah na marca do pênalti
Mais uma vez, os prognósticos não puderam prever o fator do imponderável, da vontade e da inspiração. Nesta terça-feira (28), o Leicester, esfacelado por lesões e pelo cansaço de seu elenco, recebeu o Liverpool no King Power Stadium e contrariou a lógica, vencendo por 1 a 0 e segurando um intenso bombardeio em sua área.
Não foi por falta de finalizações que o Liverpool deixou o estádio sem ponto algum. Pelo contrário: por grande parte dos 90 minutos, a tendência dos Reds foi de povoar o campo de ataque e tentar derrubar a barreira defensiva do Leicester na base da bolada.
O fiel da balança
De um lado, o time mais regular da Inglaterra na temporada. Do outro, um ex-campeão que vinha sofrendo com desfalques e sentindo como poucos o peso da sequência de jogos. Desde semana passada, quando caiu na Copa da Liga para o mesmo Liverpool, o Leicester não conseguiu descansar de maneira apropriada, o que foi atenuado por lesões que tiraram nove atletas de combate, ao todo.
A maratona dos Foxes teve seu ponto mais baixo no domingo, quando o Manchester City aplicou seis gols nessa mesma defesa, completamente remendada. A situação já era ruim antes disso: foram 33 gols sofridos em 18 partidas, algo bastante preocupante para quem se propõe a brigar por uma vaga na Europa. Mas este é o Leicester, que adora superar montanhas de dificuldade.
Um pênalti mal batido
O Liverpool fez o que lhe cabia. Descansado por não ter entrado em campo no fim de semana, o time de Jürgen Klopp martelou como se esperava ao longo dos 45 minutos iniciais. A postura combativa rendeu um pênalti aos 14 minutos, enquanto a defesa do Leicester tentava não bater cabeça. Na hora de abrir o caminho para o triunfo, Mohamed Salah bateu mal e esbarrou em Kasper Schmeichel. Mesmo tendo rebote, o egípcio errou a cabeçada e atingiu o travessão.
Com a bola e com o poder de decisão sobre o rumo da partida, o Liverpool não se incomodou com a chance perdida e seguiu colocando pressão no Leicester, que se contentou a sair para os vestiários sem levar gols, o que por sinal é bastante raro nesta temporada. A cada minuto vencido, os Foxes acreditavam que talvez não fosse uma derrota o desfecho planejado para o confronto.
A questão do Liverpool passava pela falta de pontaria e por uma noite iluminada de Schmeichel. Além da defesa no pênalti, o dinamarquês trabalhou outras três vezes para evitar que o Liverpool derramasse o sangue dos mandantes. Foi só no segundo tempo que veio a reação, embora não tenha sido necessário se expor tanto para punir os Reds.
A estocada que mata
Pelos pés de Kiernan Dewsbury-Hall saiu a jogada do único gol da partida, no minuto 59′. O meia carregou a bola pela esquerda e acionou o talismã Ademola Lookman, que já havia causado impacto contra o City, na rodada anterior. Lookman, com três minutos em campo (entrou no lugar de Hamza Choudhury), deu sequência à corrida de Dewsbury-Hall, penetrou na área e bateu na saída de Alisson. O crime estava completo. Foi o único chute do Leicester no gol, tirando as outras duas finalizações para fora.
O efeito do gol de Lookman colocou ainda mais fogo no time do Leicester, que mesmo no limite, resolveu agredir um pouco mais o Liverpool. Tinha pouco a bola, mas sabia cuidar bem dela. O volante Wilfried Ndidi, improvisado na zaga, ocupou todos os espaços que os Reds poderiam aproveitar em campo. Essa atuação voluntariosa animou os companheiros, que encaixotaram os visitantes até o fim da partida.
De mãos atadas, restou a Klopp mexer na estrutura do seu meio-campo. Fabinho, que ainda não está em plena forma após contrair covid-19, saiu no meio da etapa final para dar lugar a James Milner. Não era a intensidade que o time precisava para distribuir a bola com rapidez. Com a entrada de Roberto Firmino, no minuto 70, é que as coisas andaram.
Naturalmente, com o volume de jogo apresentado, Klopp poderia esperar ao menos o empate. O que o técnico não esperava era uma noite tão implacável de Schmeichel e Ndidi, que sempre apareciam para bloquear as ações ofensivas. Salah, que não foi o mesmo depois do pênalti perdido, esteve errático demais. Sadio Mané também ficou devendo. Sem uma participação efetiva dessa dupla, ficava difícil esperar algo de bom. Até a famosa subida de Alisson para a área nos minutos finais aconteceu, mas a bola sequer chegou perto do goleiro.
A estatística final evidencia o pé torto do Liverpool no King Power Stadium: foram 21 arremates, sendo 4 no gol, 12 para fora e outros 5 bloqueados, muito pouco. A frustração maior foi entrar em campo com a tarefa de bater um abalado Leicester e sair de lá com a segunda derrota pela Premier League na bagagem. Em Manchester, Pep Guardiola sorri: a distância do City pode aumentar ainda mais na quarta-feira, quando os Citizens enfrentam o Brentford. Nessa toada, o Chelsea também deve se aproveitar do tropeço de Klopp e seus comandados, se vencer o Brighton, também na quarta-feira.
A Premier League não perdoa esse tipo de revés. O Liverpool tinha todas as condições para vencer, seja por desempenho, ou pelo elenco completo e descansado. No entanto, não soube capitalizar em cima disso. Nos vestiários do King Power, o Leicester pode até não ter encantado como há cinco anos, mas venceu. E vencer, quando tudo está contra você e até o vento pode te derrubar, é a melhor coisa.