Guia da Premier League 2020/21 – Wolverhampton: De onde tirar mais?
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Cidade: Wolverhampton
Estádio: Molineux Stadium (31.700 pessoas)
Técnico: Nuno Espírito Santo
Posição em 2019/20: 7º
Projeção: Brigar por Liga Europa
Principais contratações: Fábio Silva (Porto-POR), Marçal (Lyon-FRA), Matlja Sarkic (Aston Villa), Vitinha (Porto-POR)
Principais saídas: Hélder Costa (Leeds), Matt Doherty (Tottenham), Jordan Graham (Gillingham), Ming-Yang Yang (Grasshoppers-SUI), Will Norris (Burnley)
Dois sétimos lugares em sequência tendo acabado de subir à Premier Legue são o sonho de qualquer equipe promovida, mas o Wolverhampton entrará na terceira campanha na elite precisando buscar maneiras para elevar o seu teto se quiser disputar a Champions League, como ameaçou fazer algumas vezes, ou pelo menos se tornar apenas o terceiro clube a se inserir no top seis nos últimos cinco anos – após Southampton e Leicester.
Ao contrário do que costuma acontecer com equipes de médio orçamento que conseguem vaga na Liga Europa, a campanha do Wolverhampton foi melhor do que a anterior, mas em apenas dois pontos. Passou de 57 a 59. O fato de que muitas vezes pareceu pronto para ir além e chegou a bater à porta da zona de classificação à Champions League antes de sucumbir na reta final aumenta a percepção de que esse talvez seja o seu limite.
Se isso for verdade, não é por causa do nível de desempenho, em seus melhores dias capaz de ganhar de qualquer time da Inglaterra, mas pelo tamanho do seu elenco. A combinação entre os chineses da Fosun International, dona do clube, e o bom relacionamento com Jorge Mendes construiu um time de qualidade para o excepcional trabalho de Nuno Espírito Santo. Não há, porém, muita quantidade. O treinador português roda muito pouco os seus titulares. Doze jogadores tiveram mais de 2.000 minutos na Premier League – os 11 titulares e Adama Traoré – e, depois, o que mais atuou foi Pedro Neto, com 926.
Isso foi especialmente preocupante em uma temporada tão longa. Começou contra o Crusaders, da Irlanda do Norte, na segunda fase preliminar da Liga Europa, em 25 de julho de 2019, e terminou contra o Sevilla, nas quartas de final da competição europeia, em 11 de agosto. Houve a paralisação no meio do caminho, mas foi mais de um ano precisando estar pronto para 59 jogos competitivos. As copas, em que haveria uma chance real de ser campeão de alguma coisa pela primeira vez desde 1980, acabaram ficando para trás. Escalou um time forte na FA Cup, mas o adversário era o Manchester United. Na Copa da Liga, foi eliminado, com reservas, pelo Aston Villa. Apesar de ter perdido por apenas 1 a 0 para o Sevilla, com gol aos 43 minutos do segundo tempo, não fez uma grande partida, defendendo-se quase o tempo inteiro.
Com o peso das fases preliminares da Liga Europa, começou muito mal a Premier League. Apenas duas vitórias nos primeiros 11 jogos. Recuperou-se bem antes de sofrer mais algumas derrotas na virada do ano e estava arrancando para o quarto lugar antes e depois da paralisação. Passou oito jogos invicto, com cinco triunfos e sete jogos sem ser vazado. A seis rodadas do fim, estava empatado em pontos com o Manchester United e a dois do Chelsea, mas perdeu de Arsenal e Sheffield United em sequência, empatou com o Burnley e foi derrotado pelo Chelsea, na última rodada, já sem chances de Champions League.
No fim, ficou a apenas sete pontos do quarto lugar, o que não é uma diferença irrecuperável, mas foi uma Premier League em que o segundo escalão oscilou demais e teve uma pontuação relativamente baixa. Como parâmetro, em 2018/19, com quase a mesma pontuação, o Wolverhampton ficou a 14 pontos do Tottenham, quarto lugar. Na temporada anterior, ficaria a quase 20 do Liverpool. De onde tirar os recursos para cobrir essa distância?
O mercado ainda não trouxe soluções. Trouxe mais dois portugueses, um deles, Fábio Silva, por € 40 milhões, mais um jogador intermediado por Jorge Mendes. É uma grande promessa – no Football Manager, então, voa -, mas é um alto investimento por um garoto de 18 anos que até agora fez três gols em 21 jogos pelo time principal do Porto. Deve ganhar chances, mas é mais uma contratação para o futuro do que para o presente. O outro reforço foi Marçal do Lyon, para a disputar a ala esquerda com Rúben Vinagre e Jonny Otto, que deve ficar um bom tempo afastado depois de uma lesão no joelho. Um lateral direito ainda precisa chegar, após a venda de Matt Doherty para o Tottenham.
Em 2018/19, o problema foi os jogos contra os pequenos. Desperdiçou 16 pontos contra os quatro piores times do campeonato e conseguiu a proeza de perder duas vezes para o Huddersfield. Desta vez, fez um bom miolo, derrotado apenas por Tottenham e Liverpool, duas vezes, e pelo Watford, cansado após ter enfrentado os Reds e o Manchester City em um intervalo inferior a 48 horas. A instabilidade no começo e no fim custaram um preço, assim como o excesso de empates – 14, maior total da liga, ao lado de Arsenal e Brighton, sendo quatro por 0 a 0 e nove por 1 a 1.
Ainda houve certa dificuldade contra equipes mais fechadas, mas o Wolverhampton se mostrou um time mais maduro, fruto de saber exatamente quem é. Tem um ótimo goleiro em Rui Patrício, uma defesa forte com Conor Coady, Romain Saïss e Willy Bolly, criatividade no meio com Rúben Neves e João Moutinho, força nas alas com Doherty e Otto, e um belo entrosamento entre Raúl Jiménez e Diogo Jota. Nuno varia entre reforçar o meio-campo com Leander Dendoncker ou soltar um pouco mais com Traoré, cujo crescimento deu o grande salto de qualidade do time para esta temporada.
A diferença pode estar em mais algum jogador despontar com qualidade, como Patrick Cutrone ou Daniel Podence, ou se Fábio Silva se mostrar um fenômeno. Quem sabe no crescimento natural de um time que está junto há dois anos no alto nível e não terá competição europeia para distraí-lo, o que no momento parece ser a aposta mais segura.