Premier League

Guia da Premier League 2020/21 – Southampton: Um homem com um plano – e um livro

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Cidade: Southampton
Estádio: St. Mary’s Stadium (32.384 pessoas)
Técnico: Ralph Hasenhüttl
Posição em 2019/20: 16º
Projeção: Meio de tabela
Principais contratações: Kyle Walker-Peters (Tottenham), Mohammed Salisu (Valladolid-ESP)
 Principais saídas: Pierre-Emile Hojbjerg (Tottenham), Harrison Reed (Fulham), Mario Lemina (Fulham), Cédric Soares (Arsenal), Jack Rose (Walsall), Maya Yoshida (Sampdoria-ITA)

Sabe aquela história de aproveitar a quarentena para escrever um livro? Foi o que Ralph Hasenhüttl fez com seu tempo livre em Munique enquanto esperava a temporada voltar. Um guia de princípios e diretrizes – o famoso “Playbook” – do seu projeto no Southampton, com foco especial para a base. Faz tempo que a academia dos Saints parou de produzir jogadores como James Ward-Prowse, Luke Shaw, Calum Chambers, Alex Oxlade-Chamberlain, Adam Lallana ou Gareth Bale. Hasenhüttl quer que os próximos subam conhecendo o seu estilo de jogo para facilitar a integração. Porque pretende ficar um bom tempo no St. Mary's Stadium.

O longo-prazo foi colocado em risco em 25 de outubro quando o Southampton levou 9 a 0 do Leicester, maior goleada da história da Premier League, junto a Manchester United x Ipswich, em 1995, mas duas coisas extraordinárias aconteceram. A primeira é que ele não foi demitido. A segunda é que quase imediatamente iniciou uma recuperação que o levou a terminar a Premier League em 11º lugar, quase na parte de cima da tabela.

Após a goleada, segurou o Manchester City, perdeu do Everton, e entrou em uma sequência de dez jogos em que foi derrotado apenas duas vezes e que terminou com a vingança contra a as Raposas, no King Power Stadium. Sinal claro de que havia dado a volta por cima. E o fez retornando às origens, trocando o esquema com três zagueiros que o havia ajudado a escapar do rebaixamento na temporada anterior pelo 4-2-2-2 que usara no RB Leipzig. Principalmente, com uma postura mais positiva durante as partidas.

Dava até para ir mais longe porque, depois de vencer o Leicester, talvez um pouco relaxado pela sensação de dever cumprido, voltou a perder jogos demais, mas a diretoria estava convencida de que não havia errado.Deu-lhe um novo contrato, até 2024, e o Southampton teve apenas uma derrota após a pausa, para o Arsenal. Encerrou a Premier League com quatro vitórias e três empates. A ideia, segundo este artigo da The Athletic, é que o austríaco construa um clube à sua imagem, como Klopp no Liverpool e Sean Dyche no Burnley. Provavelmente mais como Klopp no Liverpool, considerando que o apelido de Hasenhüttl é “Klopp dos Alpes”. Por isso, os jogadores deixarão de jogar com posse de bola nas categorias de base para aprender movimentos sem a bola e agressividade no mano a mano, mais afeitos a seu estilo.

O Southampton deseja voltar ao caminho em que esteve com Mauricio Pochettino e Ronald Koeman. Desde então, não apenas não contratou treinadores particularmente excepcionais, como parou de revelar jogadores da mesma qualidade e investiu muito mal o dinheiro de vendas como Lovren, Lallana, Shaw, Schneiderlin, Mané e Van Dijk. Prova disso é que a ida do zagueiro para o Liverpool foi a última transferência acima de € 20 milhões de um clube que ficou famoso por não apenas revelar, como identificar talentos jovens em outros países, contratá-los e desenvolvê-los. Em 2017, gastou € 60 milhões em Wesley Hoedt e Guido Carrillo, que passaram a última temporada emprestados, e Mario Lemina, que disputará a próxima pelo Fulham.

A falta de material humano limita o potencial do trabalho de Hasenhüttl, que terminou a temporada jogando com Kyle Walker-Peters pela direita, Jack Stephens ao lado de Jannik Vestergaard ou Jan Bednarek e Ryan Bertrand na esquerda. James Ward-Prowse teve uma temporada de amadurecimento e virou o coração do meio-campo. Corre o tempo inteiro e é letal na bola parada. Teve a parceria de Oriel Romeu ou Hojbjerg, negociado com o Tottenham. Stuart Armstrong armou pela direita, Nathan Redmond pela esquerda, e há um outro corpo no ataque, geralmente Che Adams, para abrir espaço a Danny Ings, responsável por quase metade dos gols dos Saints na Premier League.

É possível melhorar quase todas as posições e necessário se o Southampton quiser voltar a atacar o top seis da Premier League. Apenas ele e o Leicester conseguiram nos últimos cinco anos. Por enquanto, apenas confirmou a permanência de Walker-Peters e contratou o zagueiro Mohammed Salisu, do Valladolid. Mas não precisa de pressa. Se um coisa ficou clara na última temporada, é que o Southampton funciona na base da paciência.

 

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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