Premier League

Guia da Premier League 2020/21 – Fulham: Desfazendo o Fulham

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Cidade: Londres
Estádio: Craven Cottage (25.700 pessoas)
Técnico: Scott Parker
Posição em 2019/20: 4º na Championship
Projeção: Brigar contra o rebaixamento
Principais contratações: Anthony Knockaert (Brighton), Harrison Reed (Southampton), Mario Lemina (Southampton), Antonee Robinson (Wigan), Alphonse Areola (PSG-FRA)
Principais saídas: Luca de la Torre (Heracles-HOL), Magnus Norman (Carlisle United), Alfie Mawson (Bristol City), Steven Sessegnon (Bristol City)

É raro no futebol que um clube tenha a oportunidade de encarar uma situação idêntica pela segunda vez tão pouco tempo depois de uma experiência desastrosa. Se for esperto, pode transformar a tragédia em lições para não cometer os mesmos erros novamente – especialmente quando há tantos erros novos para cometer. O Fulham se prepara para disputar a Premier League, um ano após ser rebaixado, e, desta vez, promete que tudo será diferente. Para sua sorte, o sarrafo para uma campanha melhor está muito baixo.

A queda do Fulham em 2018/19 foi tão retumbante e claramente fruto de uma péssima política de transferências – batizada de “Fazer o Fulham” –  que, assim que o acesso foi confirmado, mais cedo do que até o torcedor mais otimista do clube londrino poderia imaginar, tanto o treinador Scott Parker quanto o vice-presidente Tony Khan disseram que adotariam uma estratégia diferente nesta segunda chance.

O Fulham gastou estimados € 100 milhões em 12 jogadores quando subiu à Premier League, dois anos atrás, e o problema não foi nem tanto a quantidade, porque precisava realmente compor o seu elenco, e mais o perfil dos reforços. Não seguiram uma ideia coerente de como a equipe queria atuar com o treinador Slavisa Jokanovic, que possui um estilo bem característico de toque de bola que havia encantado na Championship, e atraiu muita gente por empréstimo.

Foram, no geral, bons jogadores, mas estavam claramente de passagem por Craven Cottage, sem grande envolvimento com o projeto. Estavam em baixa em clubes mais poderosos, como Borussia Dortmund, Atlético de Madrid, Sevilla, Manchester United e Arsenal. O Fulham era uma oportunidade na ótima vitrine da Premier League, mas, se não desse certo, retornariam para seus contratantes e buscariam outro destino. Um bom exemplo é o goleiro Sergio Rico que, depois de levar 56 gols em 29 jogos da Premier League, virou reserva do Paris Saint-Germain.

“Como não podemos voltar e mudar aquilo agora, o melhor que posso fazer é aprender”, disse Tony Khan, ao site do Fulham. “Por isso eu quis assegurar que, se subíssemos novamente, não estaríamos nessa posição em que ficamos tão dependentes de jogadores emprestados e precisamos comprar um time quase inteiro. Agora, temos um time que está junto. Traremos reforços, mas não vamos construir um time novo do zero”.

E Scott Parker acrescentou, logo depois da vitória sobre o Brentford, na final dos playoffs da segunda divisão: “Você não pode construir times com mudanças drásticas, drásticas movimentações de jogadores. Estou com este time há 15 meses e eles melhoraram e melhoraram e melhoraram. Precisaremos de reforços – estamos indo para a maior liga que existe -, mas não mudanças drásticas. Alguns erros claros foram cometidos na última vez e vamos aprender com eles. Precisamos aprender com eles. O que estamos tentando construir e passar aos jogadores e a este clube são algumas fundações essenciais. Se você não estiver construindo seu clube em concreto, mas em areia, será uma montanha-russa”.

Parker assumiu a equipe em fevereiro do ano passado, após a demissão de Claudio Ranieri, que havia substituído Jokanovic. A situação era praticamente irrecuperável, na vice-lanterna, a dez pontos da salvação. Tornou-se literalmente irrecuperável com cinco derrotas em seus cinco primeiros jogos, mas o ex-jogador ganhou um voto de confiança da diretoria para conduzir o projeto na segunda divisão. Os emprestados foram embora, alguns altos investimentos, como os meias Jean Michaël Serri e André Anguissa foram cedidos temporariamente, para adequar a folha salarial às realidades da Championship, e o clube adotou outra postura no mercado.

Trouxe dois jogadores de Premier League, Ivan Cavaleiro e Anthony Knockaert, para as pontas. Emprestados, mas equipes de segunda divisão usam mais esse dispositivo para contar com quem está encostado no patamar de cima. Os meias Harry Arter (Bournemouth) e Harrison Reed (Southampton) e o zagueiro Michael Hector (Chelsea) foram outras oportunidades encontradas na elite. Contratou o atacante Bobby Reid, do Cardiff, que havia caído em sua companhia, e teve uma boa sacada ao trazer o promissor meia-atacante Josh Onomah, cujo contrato com o Tottenham havia chegado ao fim.

Montou um bom time para a segunda divisão. O goleiro Marek Rodak, de 22 anos, foi protegido por Denis Odoi, Tim Ream, Alfie Mawson ou Hector, e Joe Bryan, herói do acesso com os dois gols contra o Brentford na prorrogação. Reed, Arter e Stefan Johansen foram bastante utilizados no meio-campo, às vezes com Tom Cairney ou Onomah recuados, quando Parker alternava o 4-2-3-1 para um 4-3-3 ou mesmo mais perto de um 4-4-2. Knockaert e Cavaleiro deram profundidade pelos lados e Aleksandr Mitrovic teve a companhia de Reid ou de um dos dois meias-atacantes, Cairney e Onomah. O sérvio foi o grande destaque da campanha com 26 gols e, mais maduro, tentará emplacar uma temporada melhor na Premier League, após ter marcado 11 vezes pelo Fulham dois anos atrás.

O clube londrino não começou muito bem a Championship, mas embalou a partir de dezembro, com apenas quatro derrotas nas últimas 24 rodadas, mas dois empates nos últimos três jogos o impediram de subir automaticamente. Passou pelo Cardiff nas semifinais e não era favorito contra o Brentford. Ganhou com dois gols do seu lateral esquerdo no tempo extra, o que aumenta a sensação de que subiu antes do esperado, assim como em 2017/18, quando arrancou de maneira ainda mais espetacular na segunda metade do campeonato antes de bater o Aston Villa na decisão do mata-mata.

No entanto, chega mais inteiro dessa vez. Tornou permanente as presenças de Knockaert, Reed e Cavaleiro ainda antes do fim da temporada. Terá os retornos de Seri e Anguissa, titulares do Galatasaray e do Villarreal, respectivamente, na última temporada, e deve lhes dar uma nova chance. Acrescentou Mario Lemina, do Southampton, ao setor, e voltou a usar o empréstimo – que, com moderação, é importante – para trazer Alphonse Areola, um goleiro de alto nível e experiência em PSG e Real Madrid.

O essencial é que esses bons reforços ajudarão a rechear uma espinha dorsal mais coesa que atua junta há mais de um ano. Essa é uma mudança fundamental em relação à aventura anterior do Fulham na Premier League. Pode não dar certo também, e resultar em outro rebaixamento, mas pelo menos o clube não está fazendo a mesma coisa esperando resultados diferentes, o que seria uma loucura.

 

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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