Premier League

Guia da Premier League 2020/21 – Arsenal: Para ir além de apenas bons sinais

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Cidade: Londres
Estádio: Emirates (60.000 pessoas)
Técnico: Mikel Arteta
Posição em 2019/20: 
Projeção: Brigar pela Champions
Principais contratações: Gabriel (Lille-FRA), Pablo Marí (Flamengo-BRA), Cédri c Soares (Southampton), Willian (Chelsea), Dani Ceballos (Real Madrid)
 Principais saídas: Konstantinos Mavropanos (Stuttgart-ALE), Henrikh Mkhitaryan (Roma-ITA)

O Arsenal ainda não tem a resposta para a dúvida mais importante para a temporada que se aproxima: Pierre-Emerick Aubameyang renovará seu contrato? Todos os sinais indicam que, sim, Pierre-Emerick Aubameyang renovará seu contrato, e teria sido gentil da parte da cúpula do Arsenal oficializar a permanência do gabonês antes do início da redação deste guia, mas vamos pressupor que ele se comprometerá a mais alguns anos no norte de Londres ou, pelo menos, que não será vendido, mesmo se recusar a proposta – situação em que a diretoria dos Gunners teria que tomar a decisão de vendê-lo ou deixá-lo sair de graça que, de qualquer forma, seria muito dolorosa.

Partindo desse pressuposto, portanto, o Arsenal começa a Premier League com um dos melhores atacantes da liga em seus quadros. Com a queda física de Sergio Agüero, a irregularidade de Harry Kane na última temporada e os freelas que Roberto Firmino faz como armador, há argumentos para defender que ele seja o melhor. Um desses argumentos é a quantidade de gols que Aubameyang marca, costumeiramente um indicativo razoável da importância de um atacante: 54 em 85 partidas pela liga inglesa. Média de um a cada 128 minutos em campo, cerca de um jogo e meio. Ter um atacante que garanta dois gols a cada três rodadas é um ótimo ponto de partida.

Caso Aubameyang renove, o segundo aspecto mais importante é o voto de confiança ao projeto do Arsenal,  que jogadores do seu calibre tem se recusado a dar há mais ou menos dez anos – Özil foi uma das exceções, e o Arsenal, hoje, gostaria muito que ele não o tivesse dado. Essa esperança deriva dos bons sinais do início do trabalho de Mikel Arteta. Pode ser que o trem saia dos trilhos em alguns meses, como aconteceu com Unai Emery na temporada passada, após um primeiro ano relativamente positivo, mas há mais lastro na convicção de que o ex-auxiliar de Guardiola pode conduzir com sucesso a transição entre o reinado de Arsène Wenger e o que o futuro reserva ao Arsenal.

Arteta está alinhado com os métodos mais modernos do futebol atual, fruto inalienável de ter passado três anos e meio ouvindo tudo que Guardiola tem a dizer. Não que Emery também não estivesse, mas, em pouco tempo, o ex-meia conseguiu dar uma identidade um pouco mais clara ao Arsenal. Embora ainda precise de ajustes, a pressão funciona melhor, há organização no ataque, uma tentativa de tomar a iniciativa em certas situações e muita velocidade nas ações ofensivas. Até mais importante, Arteta criou uma cultura de trabalho mais rígida, em falta desde a reta final de Wenger, às vezes criticado por ser bonzinho demais com os jogadores.

Arteta usou a analogia do barco: quem quiser entrar no barco precisa estar disposto a seguir as regras, estar 100% comprometido com o projeto, corresponder ao que é exigido no dia a dia, prontos para ajudar uns aos outros e lutar uns pelos outros. Sem querer especular sobre quem ainda está atracado no porto, mas Özil fez apenas 12 jogos com Arteta e foi substituído em nove deles. Nem apareceu na retomada pós-paralisação, oficialmente com lesão nas costas. Matteo Gendouzi também não, e esse foi citado diretamente por Arteta – “algumas coisas têm que mudar e nada mudou”. O Arsenal parece saber o que quer fazer em campo e o que precisa fazer nos treinamentos. O próximo passo é construir um time que consiga efetivamente fazer tudo isso, semana após semana. Esse costuma ser o mais difícil.

O Arsenal não nadava em dinheiro antes da pandemia. Depois dela, a piscina ficou um pouco mais rasa e houve até críticas por estar fazendo negócios no mercado após demitir 55 funcionários considerados redundantes. Isso à parte, foram movimentações relativamente comedidas e que fazem sentido dentro do projeto em andamento. Gabriel, ex-Lille, se junta a William Saliba, contratado ano passado, mas devolvido ao Saint-Étienne por empréstimo, para dar mais juventude e vitalidade a uma defesa que é frequentemente tida como ponto fraco do Arsenal. Willian chegou sem custos do Chelsea, e sua principal força, a regularidade, pode ser essencial a um time viciado em alternar boas apresentações com verdadeiras tragédias.

Mas há potencial para que o Arsenal dê um salto de qualidade apenas desenvolvendo jogadores com os quais já conta. Não apenas jovens que dão água na boca, como Bukayo Saka e Gabriel Martinelli, mas outros com potencial ainda enrustido, como Reiss Nelson, Eddie Nketiah e Joe Willock. Pablo Marí, contratado em definitivo do Flamengo, pode ser considerado um reforço completamente novo, por ter feito apenas três jogos antes de se machucar. Na verdade, você pode até se convencer com certa facilidade que mais da metade da janela de transferências anterior do Arsenal acabou de chegar porque jogadores como Nicolás Pépé, Kieran Tierney e Dani Ceballos, por motivos diferentes, ainda têm muito mais a apresentar.

Assim como Mikel Arteta. O título da Copa da Inglaterra foi uma boa surpresa, e impediu que o Arsenal ficasse sem competições europeias pela primeira vez desde mil novecentos e fita cassete (1995/96), mas o oitavo lugar ainda foi a pior campanha na Premier League em 25 anos. Tudo bem que ele pegou o trabalho em andamento, perdeu pouco e que, com quatro pontos a mais, seria sexto, em linha com as três temporadas anteriores. Outro fator positivo foram alguns duelos contra os maiores rivais em que se mostrou mais capaz de resistir à pressão. Se ainda não é possível jogar de igual para igual, pelo menos manteve o jogo apertado, estreito, defendeu bem e mostrou aquele espírito de luta que tantas vezes fez falta nos clássicos da reta final do trabalho de Wenger. Tirou o Manchester City da Copa da Inglaterra, ganhou do Liverpool e replicou o mesmo encaixe na Supercopa da Inglaterra contra os Reds.

Houve também oscilações, como a injustificável derrota para o Olympiacos na Liga Europa, última chance real de conquistar vaga na Champions League. Natural não apenas para um trabalho ainda no nascedouro, como também para um treinador que está testando, na prática, o que aprendeu na teoria. Não mais como auxiliar, como o responsável por todas as decisões. As boas e as ruins. A missão será difícil. O objetivo tem que ser terminar entre os quatro primeiros. Liverpool e Manchester City seguem muito fortes. Manchester United e Chelsea se reforçaram. Oportunidade para Arteta mostrar que é mais que apenas bons sinais.

 

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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