Gerrard sobre nova carreira de treinador: “Envelheci dois anos em seis meses”

Steven Gerrard está vivendo intensamente a sua nova carreira no futebol. Depois de se aposentar dos gramados ao final de 2016, o ídolo voltou ao seu clube da maior parte da carreira, o Liverpool, para trabalhar como treinador nas categorias de base. A carreira no futebol era algo que Gerrard almejava e já tinha deixado claro na época que jogava e as experiências têm mostrado muitas novidades para ele. Em entrevista ao jornal inglês Guardian, ele contou algumas das descobertas que tem feito comandando um grupo de jovens.
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Aos 37 anos, o ex-jogador contou sobre a experiência de ser técnico e disse que, ao contrário de muitos que penduram as chuteiras, ele sente falta dos treinamentos nessa época do ano, que é normalmente o período mais difícil para os times. “Na verdade, eu sinto falta”, disse o lendário jogador do Liverpool. “Era apenas uma hora e eu só gosto da noite de Natal, de qualquer forma. O resto é longo demais. Eu odiaria se não houvesse futebol agora por algumas semanas”, contou o agora treinador.
O trabalho nas categorias de base do Liverpool é pesado. Gerrard é o técnico do time sub-18 do Liverpool. São seis dias por semana trabalhando no centro de treinamento. “Eu definitivamente estou sentindo”, afirmou o jogador. “Eu envelheci dois anos em seis meses. O conselho de Jürgen quando eu voltei foi: ‘Eu apenas quero que você fique nas sombras por um período curto porque você precisa de alguns anos cometendo erros, escolhendo seu próprio time, decidindo sua tática. Você precisa achar a sua filosofia, um modo de jogar, você precisa lidar com problemas individuais, você precisa elogiar jogadores, ajudar jogadires, precisa sentir a decepção e contratempos e então, depois de alguns anos, você saberá se esse show é para você’. Ele pintou uma imagem real de como é”, contou Gerarrd.
“Nos últimos cinco meses, eu senti todos os altos e baixos e experimentei todas coisas que técnicos precisam lidar, embora nas categorias de base. Isso definitivamente irá me preparar onde quer que eu vá. Não está me assustado ou me afastando. Eu sei que quanto mais longe eu vá, mais escrutínio, mais atenção, mais opiniões, mais críticas e mais elogios. Eu recebo tudo. Para mim, foi importante sentir o gosto disso longe das câmeras e experimentar essas coisas antes de entrar na loucura”, explicou ainda o ex-meio-campista.
A aposentadoria para os jogadores profissionais de futebol em geral significa um período de descanso. Não para Gerrard. O ex-jogador diz que a nova carreira chama a sua atenção justamente por isso: o número de horas que é preciso se dedicar nela.
“Como jogador, eu podia desligar quando o jogo acabava. Isso é muito difícil como técnico. Esta tem sido a principal diferença. Agora, depois do jogo eu fico pensando o que foi bem, o que não foi bem, que jogadores eu preciso trabalhar na semana, quem eu preciso elogiar, com quem preciso falar, quem aprontou na escola”, declarou ainda o agora técnico.
“Há muito mais o que pensar do que em relação a quando você é jogador. Eu tenho mais respeito pelos treinadores e técnicos agora, ainda que eu sempre tenha respeitado aqueles com quem eu trabalhei. Eu não percebia o quanto de trabalho estava envolvido nas suas funções até que eu me envolvi por mim mesmo”, revelou.
Gerrard contou que não gosta de usar exemplos de quando ele jogava, porque acha importante separar o jogador que foi do treinador que ele é. “Eu nunca trago nada do meu tempo de jogador e nunca trago vídeos de quando eu estava envolvido”, disse.
“Se eu quero mostrar algo a eles taticamente, eu sempre uso o time principal do Liverpool de agora ou outro time atual. Eu não acho que é certo dizer: ‘Olhe para isso’ e eu estou correndo no vídeo. Não me entenda mal, se tem algo absolutamente óbvio que aconteceu comigo, bom ou ruim, e eu acho que irá beneficiá-los, então não vou esconder isso deles. Mas eu apenas não acho que é certo ficar falando: ‘Olhe o que eu fiz e olhe o que nós fizemos’. Minha carreira como jogador acabou. Agora se trata do que acontece amanhã, não ontem”.
O ex-camisa 8 do Liverpool disse que atualmente é mais difícil para os jogadores das categorias de base chegarem aos times principais de clubes da Premier League do que antes. A razão é simples e óbvia: os clubes são muito mais ricos do que eram antes. “Atualmente os clubes estão bem mais ricos, então podem comprar jogadores por grandes quantias”, ele conta.
“Dez ou 15 anos atrás você podia chegar ao time se fosse um jogador decente. Agora você precisa ser sensacional para chegar e para ficar. Eu olho para os jogadores como Brewster, [Phil] Foden e [Dominic] Solanke. Eles são bons, mas eles podem chegar ao próximo nível para que possam entrar no time, ficar no time? Os padrões estão mais altos em relação a alguns anos atrás”, analisou.
Gerrard está se preparando para ser técnico e não quer precipitar o seu caminho para o banco de reservas de um time principal. Parece ser uma experiência que ele está gostando.