Em situação delicada, Solskjaer condena violência em protesto, mas defende direito de expressão dos torcedores
De maneira compreensível, treinador defendeu seus empregadores e pediu maior comunicação entre clube e torcida
O último domingo (2) foi marcado por um Manchester United, que invadiu o gramado do Old Trafford e impossibilitou a realização do clássico com o Liverpool. Colocado em uma situação difícil diante da falta de comunicação por parte dos proprietários do clube, coube a Ole Gunnar Solskjaer, técnico dos Red Devils, tratar o assunto nesta quarta-feira (5), durante entrevista coletiva prévia ao duelo contra a Roma, pela Liga Europa.
Solskjaer lamentou que o duelo com o Liverpool não tenha sido possível e, embora tenha defendido o direito dos torcedores de se expressarem, afirmou que as coisas foram longe demais.
“Foi um dia difícil para nós. Claro que queríamos jogar, queríamos vencer o Liverpool pelos torcedores, porque nosso trabalho tem que ser buscar boas atuações e bons resultados em campo. Como disse antes do jogo, temos que escutar a voz dos torcedores. Todo mundo tem o direito de protestar, mas precisa ser de uma maneira civilizada”, defendeu o técnico.
A cobertura por parte da imprensa inglesa tem sido diversa, com uma parcela afirmando que os atos irresponsáveis de alguns não podem deslegitimar a mensagem válida de uma maioria não-violenta, enquanto outra parte tem destacado os danos ao estádio e os ataques a policiais. Como um porta-voz do clube, Solskjaer foi diplomático e lamentou a violência.
“Infelizmente, quando você invade e quando policiais são machucados, marcados pelo resto da vida, é porque foi longe demais. Quando sai de controle assim, é um assunto de polícia, não se trata mais de demonstrar suas opiniões.”
Na posição delicada em que foi colocado, era impensável que Solskjaer fosse se posicionar contra seus empregadores. Ainda assim, o treinador defendeu uma melhora na comunicação entre o clube e sua massa, algo que tem sido exigido pelos torcedores nestes protestos, e afirmou ver um princípio de evolução neste sentido.
“Não é preciso ser um cientista de foguetes para ver que temos desafios, fricções e coisas com que precisamos lidar. A comunicação entre indivíduos, incluindo eu, é claro, já começou. Estamos discutindo com os torcedores, e isso será muito importante para nós daqui pra frente. O clube precisa ser unido. Para que as coisas cresçam, é preciso ter um pouco de paciência. Espero que, com o tempo, possamos nos unir”, afirmou.
Avram Glazer, abordado por uma repórter da Sky nos Estados Unidos, teve a oportunidade de falar diretamente com os torcedores, de responder às demandas colocadas no último domingo e de se desculpar pelas ações do clube na proposta da Superliga, mas preferiu se esquivar das perguntas da jornalista e gerou ainda mais descontentamento entre a torcida. Nos bastidores, no entanto, Solskjaer afirmou ter recebido um pedido de desculpas dos proprietários.
“Tenho me comunicado com os proprietários. Recebi desculpas, pessoalmente, e eles se desculparam com os torcedores quando isso (os planos da Superliga) surgiu (por meio de um comunicado no site oficial assinado por Joel Glazer). É uma posição difícil para mim, porque preciso focar no futebol. Sempre tive uma boa relação (com os Glazers). Eles me escutam e escutam os torcedores. Tenho certeza de que haverá uma comunicação melhor daqui pra frente”, explicou.
Se, por um lado, a posição de Solskjaer hoje é compreensível, por outro, vale relembrar que o treinador, ainda como jogador do Manchester United, em 2005, virou patrono de um grupo de torcedores que se opunham à compra dos Glazers, afirmando ao Telegraph, à época, que estava “absolutamente do lado dos torcedores e acho que o clube está em boas mãos hoje. Eu mesmo sou um torcedor do United e quero apenas o melhor para o futuro”.
Ainda que tenha sido colocado numa situação difícil nesta semana, o norueguês conseguiu manter a diplomacia e deseja que o momento atual seja catalisador de mudanças positivas: “Às vezes, fricção e desafios são bons e fazem as coisas avançarem. As últimas semanas têm sido difíceis”.