Premier League

Diante das necessidades mais urgentes antes do salto, o Newcastle anuncia Eddie Howe como seu novo treinador

Eddie Howe fez um trabalho histórico no Bournemouth, mas não é o treinador mais renomado que o Newcastle poderia bancar

A venda do Newcastle se concretizou sob expectativas de que o clube investisse o suficiente para lutar pelo título da Premier League no futuro. O primeiro passo da controversa administração saudita, no entanto, mantém os pés no chão e precisa livrar os alvinegros do rebaixamento. E, como já especulado durante os últimos dias pela imprensa britânica, Eddie Howe será o novo comandante dos Magpies. O treinador estava sem clube desde agosto de 2020, após deixar o Bournemouth com um histórico trabalho de dez anos (dividido em duas passagens), em que liderou as Cherries da quarta divisão ao inédito acesso à Premier League. Seu novo contrato vai até o final da temporada 2023/24.

“É uma grande honra ser treinador de um clube com a estatura e a história do Newcastle. É um dia de muito orgulho para mim e para minha família. É uma oportunidade maravilhosa, mas também temos muito trabalho pela frente e estou ansioso para começar a trabalhar com os jogadores. Gostaria de agradecer aos donos do clube pela chance e aos torcedores pela incrível recepção que me deram. Estou muito entusiasmado para começarmos nossa jornada juntos”, declarou Howe, que já esteve nas arquibancadas durante o duelo com o Brighton no final de semana.

Já Amanda Staveley, coproprietária do Newcastle, afirmou: “Ficamos incrivelmente impressionados com Eddie através de nosso rigoroso processo de seleção. Para além de seus feitos óbvios com o Bournemouth, onde teve um impacto transformador, ele é um treinador apaixonado e dinâmico, que tem ideias claras sobre como levar esta equipe e este clube para frente. Ele se encaixa perfeitamente no que estamos tentando construir aqui. Estamos muito satisfeitos em receber Eddie e sua equipe em St. James Park, e estamos ansiosos para trabalhar juntos em prol de nossas ambições coletivas”.

Eddie Howe possui sua trajetória esportiva ligada umbilicalmente ao Bournemouth. Ainda nos tempos de jogador, o então zagueiro começou na base do clube e atuou como profissional por lá durante oito anos, de 1994 a 2002. Teve passagens curtas por Portsmouth e Swindon Town, até retornar às Cherries em 2004, numa transferência bancada pelos próprios torcedores. Já em 2007, com apenas 30 anos, as lesões forçaram a aposentadoria precoce do defensor. No entanto, Howe já treinava as equipes de base antes mesmo de pendurar as chuteiras e era visto como uma opção natural para o comando do time principal no futuro.

A promoção de Eddie Howe ao papel de técnico aconteceu em dezembro de 2008, meses depois que o Bournemouth tinha caído para a quarta divisão. Apesar dos riscos claros de que as Cherries caíssem também na League Two e entrassem em falência, o novo comandante foi capaz de uma recuperação inacreditável em 2008/09, evitando o descenso. Melhor ainda, em 2009/10 ele possibilitaria o acesso à terceira divisão. Todavia, com o assédio de outros clubes, Howe aceitou uma proposta do Burnley em janeiro de 2011. Fez duas campanhas de meio de tabela na Championship e acabou deixando o cargo em outubro de 2012.

O retorno de Eddie Howe para o Bournemouth aconteceu logo na sequência, também em outubro de 2012. As Cherries seguiam na League One e ascenderam de vez com o retorno de seu velho comandante. Howe conquistou o acesso já em 2012/13 e recolocou o clube na segunda divisão pela primeira vez em 23 anos. Seriam então mais duas campanhas na Championship, até se sagrar campeão em 2014/15 e pela primeira vez botar o Bournemouth na elite do Campeonato Inglês. Naquele momento, Howe chegou a ser escolhido como “treinador da década” na Football League.

O Bournemouth conseguiu emendar cinco temporadas consecutivas na Premier League, um feito e tanto para um clube dessas dimensões. E as Cherries ainda conseguiram ser razoavelmente competitivas, por vezes figurando no meio da tabela, com destaque para o nono lugar em 2016/17. Com um time pautado no 4-4-2 e alguns bons talentos revelados no período, Howe consolidou seu nome na primeira prateleira do futebol inglês. Era elogiado por um estilo de jogo mais aberto e ousado, bem como pela maneira como conduzia os treinamentos. O fim da passagem só aconteceu em agosto de 2020, após o rebaixamento das Cherries à segunda divisão. Depois de algumas campanhas que começaram mal e o time engrenou, a recuperação não foi possível em 2019/20. No início da temporada seguinte, Howe entrou em acordo com a diretoria para sair.

Nestes últimos meses, Eddie Howe chegou a ser fortemente cotado para assumir o Celtic no início da atual temporada, mas não chegou a um acordo com os escoceses. Agora, virou a bola da vez no Newcastle, depois da demissão de Steve Bruce. Os Magpies até sondaram Unai Emery como seu principal alvo para este primeiro momento, mas o espanhol preferiu seguir em frente com seu projeto no Villarreal. Outros nomes citados na imprensa também não indicaram tanta abertura, inclusive por conta das violações de direitos humanos envolvendo os donos sauditas. A lista de especulados incluía Paulo Fonseca, Erik ten Hag, Antonio Conte e Zinédine Zidane.

Eddie Howe ganha um teste de fogo em St. James' Park. O treinador progrediu num local que conhecia muito bem, com um projeto para desenvolver jovens jogadores e com um futebol mais agressivo. No Newcastle, as exigências tendem a ser bastante diferentes. A pressão será maior, não apenas pelo tamanho da torcida alvinegra, como também pelas expectativas criadas com os novos proprietários e pela cobertura da imprensa. A próxima janela de transferências, além disso, já deve garantir os primeiros medalhões que serão geridos pelo técnico. E, considerando o momento, os Magpies precisam de um equilíbrio principalmente no aspecto defensivo. Ao menos, Howe oferecerá um pouco mais da ousadia demandada pelos torcedores.

Aos 43 anos, Eddie Howe possui uma experiência razoável para a pouca idade. A passagem malfadada pelo Burnley não merece ser tão considerada como um fracasso longe de sua casa, já que o treinador conseguiria os principais passos da ascensão do Bournemouth depois disso e também teria a chance de dirigir por cinco temporadas na Premier League. De qualquer forma, também precisará se provar, já que não é o treinador mais renomado para o dinheiro que o Newcastle pode pagar. Prova disso foi a própria intenção de levar Unai Emery, de currículo bem mais recheado no futebol espanhol e que já dirigiu clubes endinheirados, do tamanho de Arsenal e Paris Saint-Germain.

Para aquilo que o Newcastle necessita no momento, ao menos, Howe é alguém razoavelmente adequado. O time permanece na penúltima colocação da Premier League e ainda não venceu um jogo sequer, depois de 11 rodadas. O elenco deixado por Mike Ashley não tinha ambições maiores do que lutar pela sobrevivência e, apesar de muito criticado, Steve Bruce fazia um trabalho digno ao fugir do pior mesmo com o massacre contínuo que sofria. A missão de Howe será injetar uma nova energia na equipe e conseguir um mínimo de consistência, a partir de alguns nomes à disposição. Seus antigos comandados no Bournemouth podem ajudá-lo – Matt Ritchie, Ryan Fraser e principalmente Callum Wilson.

Talvez o maior desafio de Eddie Howe seja superar as impressões que muitos projetam sobre ele neste primeiro passo. Será um treinador para fazer o trabalho sujo na parte inferior da tabela, mas que deixa dúvidas quando o elenco estiver em melhores condições de almejar pelo menos uma vaga nas copas europeias. O contrato de duas temporadas e meia até indica um tempo grande para Howe se provar no St. James' Park. Porém, os testes tendem a ser repetidos, pela própria exigência que o Newcastle deve se colocar.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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