Premier League

Manchester United consegue o que queria em Anfield, embora devesse ambicionar mais

Dizer que José Mourinho é um pragmático é chover no molhado. Tem sido esse seu estilo.  Algumas partidas em que o time treinado por ele passará a impressão de que assinaria um 0 a 0 antes mesmo de a bola começar a rolar fazem parte do pacote. Foi assim em Anfield: o Manchester United defendeu-se durante 90 minutos contra o Liverpool e saiu com o pontinho que seu treinador queria. O problema é que ele deveria querer mais.

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Ao colocar sua equipe na postura que tem adotado em grandes jogos fora de casa neste sábado, Mourinho desperdiçou um ótimo contexto. O Manchester United estava voando na Premier League, com seis vitórias em sete rodadas, 21 gols marcados e apenas dois sofridos. Ao mesmo tempo, o Liverpool estava com a confiança defasada por ter conseguido apenas uma vitória nos seus últimos sete jogos, com dois empates na Champions League, eliminação na Copa da Liga Inglesa e uma goleada para o Manchester City.

Tão bom em jogos psicológicos, Mourinho deveria ter ordenado seu time a entrar em campo partindo para cima do seu maior rival nacional para aproveitar essa fragilidade. Pela diferença de momentos, seriam boas as chances de o United abrir o placar, abalando ainda mais a confiança do Liverpool, que se veria precisando correr atrás do resultado, em um clássico com atmosfera festiva, pela inauguração da arquibancada Kenny Dalglish.

O tiro poderia sair pela culatra, o Manchester United poderia ser golpeado no contra-ataque e perder, mas esse é o risco que se corre. Defender-se o tempo inteiro também é arriscado. Praticamente garantido é que um time que não quer vencer não vai vencer. É necessária muita pontaria para acertar um único chute a gol em 90 minutos e ganhar uma partida. No segundo ano do trabalho de Mourinho, £ 300 milhões depois, o United ainda não é capaz de jogar um pouquinho mais contra times fortes fora de casa?

Não precisa partir com tudo irresponsavelmente, mas atacar e defender com certo equilíbrio. O Manchester United teve apenas duas ações ofensivas interessantes em Anfield: um chute de Matic de fora da área e uma tabela entre Martial e Lukaku, que resultou na finalização do belga para boa defesa de Mignolet. A estratégia de Mourinho acabou funcionando porque, no outro lado, estava um time que passa por um momento difícil.

O Liverpool tem a capacidade de se tornar uma força ofensiva quase indefensável nos seus melhores dias, mas eles dificilmente existem quando alguma das suas peças principais não estão disponíveis. Acentua-se o problema quando a ausência é a de Sadio Mané. Klopp pensou na equipe desta temporada com o senegalês e Salah atacando pelos lados, entrando em diagonal, com muita verticalidade. Quando um deles é desfalque, a característica muda.

Coutinho é excepcional, mas, partindo da esquerda, joga de outra maneira. Centraliza, aproxima-se dos meias, e o Liverpool perde força por aquele lado ao mesmo tempo em que sobrecarrega a direita. Soma-se a isso um dia ruim do brasileiro, talvez cansado pelos compromissos com a seleção brasileira – foi substituído junto com Salah, outro que teve uma pausa internacional movimentada -, e a criação dos donos da casa não foi condizente com o domínio territorial.

A melhor oportunidade surgiu em uma jogada de Firmino, outro que esteve abaixo do que pode fazer. O brasileiro sambou para cima da marcação, puxou para a perna esquerda e cruzou rasteiro. Matip completou à queima-roupa, e De Gea fez uma linda defesa com o pé. No rebote, Salah atrapalhou Coutinho e mandou para fora. No segundo tempo, apesar de seu controla do jogo ter sido aprofundado, o Liverpool criou sua melhor oportunidade em um passe por elevação de Gomez para Can, que desviou com a perna esquerda por cima do travessão.

 

O resultado evidentemente foi melhor para o Manchester United. O Liverpool, além de jogar em casa, precisava da vitória para se recuperar de um mês de setembro muito ruim e tentar embalar na temporada. Mas, justamente por isso, os Red Devils perderam a oportunidade de sair de Anfield com uma vitória que seria muito apreciada pelos seus torcedores. Ou, pelo menos, de tentá-la.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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