Com novo acordo de TV, pequenos e médios da Premier League se agigantam na janela

Logo após o anúncio do novo acordo pelos direitos de transmissão da Premier League no Reino Unido, representando um aumento de 70% em relação ao anterior e um valor de € 7,8 bilhões por três anos, Bernard Caiazzo, presidente do Saint-Étienne, alertou para o perigo de o Campeonato Inglês se tornar “uma NBA do futebol”. Mas ninguém esperava que o temor de que os clubes pequenos e médios da Inglaterra tivessem mais força no mercado e tirasse jogadores de qualidade de outras ligas se tornasse realidade tão cedo. Esta primeira parte da janela de transferências do verão europeu tem mostrado que o acordo já tem surtido efeito.
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Recém-promovido à primeira divisão, o Watford aposta que permanecerá na elite e tem feito um investimento pesado para o retorno à Premier League depois de nove anos de ausência. Estamos apenas na primeira metade de julho, e o clube já anunciou as contratações do grego Holebas, do suíço Behrami e do francês Étienne Capoue, os dois primeiros peças importantes de suas respectivas seleções.
O West Ham, que projeta um crescimento econômico considerável a partir da próxima temporada, quando passará a mandar seus jogos no Estádio Olímpico de Londres, não espera a nova realidade para começar a gastar. Já trouxe para 2015/16 Angelo Ogbonna, bom zagueiro italiano que estava na Juventus e que de vez em quando é chamado para a Azzurra, e Dimitri Payet, francês habilidoso que, na última temporada, pelo Olympique de Marseille, foi o maior assistente da Ligue 1.
O Newcastle é outro que atraiu um bom nome da janela. Georginio Wijnaldum, interessante talento de apenas 24 anos que estava no PSV e é nome constante na seleção holandesa, chegou a ser especulado em clubes como Arsenal e Manchester United, mas acabou acertando com os Magpies. Já o Swansea tirou do Marseille André Ayew, destaque da seleção de Gana e que em janelas anteriores também despertou o interesse de grandes, e contratou também o português Éder, também membro da seleção de seu país.
Todos esses nomes já são suficientes para apontar a tendência, e é possível que estejamos vendo apenas uma pequena porção das ótimas contratações de clubes apenas medianos da Inglaterra nesta janela. Mas nenhuma delas até agora é mais emblemática que a de Yohan Cabaye pelo Crystal Palace. O jogador se destacou na Premier League pelo Newcastle e foi contratado pelo Paris Saint-Germain, em uma tentativa do clube parisiense de se conectar mais a seu país tendo em seu elenco jogadores de qualidade da seleção francesa. Como era perfeitamente possível, a aposta não funcionou e Cabaye deixou o time, mas o atleta tinha mais mercado do que apenas a opção de ir para o Selhurst Park. O Manchester United mesmo sempre admirou o jogador, tentando sua contratação tanto quando defendia o Newcastle quanto quando estava meio encostado em Paris.
Sem levar em conta os acordos pelos direitos internacionais de transmissão – € 1,4 bilhão por ano –, a Premier League receberá a partir de 2016 € 2,6 bilhões anualmente. O valor é maior do que o de Serie A (€ 960 milhões), La Liga (€ 750 milhões) e Bundesliga (€ 628 milhões) combinadas.
Anualmente, a Premier League receberá € 2,6 bilhões – e isto levando em conta apenas os acordos domésticos, sem os € 1,4 bilhões anuais dos direitos internacionais. O valor interno é maior do que o as ligas de Itália (€ 960 milhões), Espanha (€ 750 milhões) e Alemanha (€ 628 milhões) juntas. A estimativa é de que o último colocado do Inglês receba € 126 milhões da TV a partir de 2016/17. Em 2013/14, por exemplo, os únicos a ganharem mais do que isso foram Barcelona e Real Madrid.
Se a distância atual entre a Inglaterra e as outras principais ligas do mundo não for estreitada nos próximos anos, o que temos visto nesta janela será apenas um prelúdio, uma versão menor, do que virá pela frente. Mais dinheiro atrai melhores jogadores, que, por sua vez, atraem mais interesse e mais dinheiro, em um processo que se retroalimenta e tende a aumentar ainda mais as diferenças. Estaríamos vendo a profecia do presidente do Saint-Étienne se tornando realidade?