
Foi em 15 de setembro de 2010 que Neymar foi centro do que viria a ser a primeira grande polêmica de sua vida. Ele tinha 18 anos, estava em sua segunda temporada pelo Santos e já era tido como melhor jogador do país por muitos e foi chamado de “monstro” pelo técnico Renê Simões. Mais do que isso, era quase unânime que Neymar seria o responsável por tirar a Seleção Brasileira da incômoda fila em Copas do Mundo e tirar o Brasil da fila de vencedores da Bola de Ouro. Neymar era o futuro do Brasil. Hoje, 2023, não consegue ser nem mesmo o presente. Mais ainda: vê as polêmicas não pararem e só crescerem.
Serão R$ 16 milhões em multas que Neymar deverá pagar por conta da construção de um lago artificial em sua casa em Mangaratiba, no Rio de Janeiro. São diversas irregularidades, todas ligadas à falta de controle e fiscalização ao mexer no Meio Ambiente. A punição se juntou às várias polêmicas recentes de Neymar, que vem cada vez mais afastando o jogador de sua carreira como atleta e o colocando apenas como personagem de seguidas controvérsias.
De 2010 até hoje, Neymar ganhou muito futebolisticamente falando. Foi campeão da Libertadores e da Copa do Brasil com o Santos, foi para Europa e fez trio histórico no Barcelona ao lado de Lionel Messi e Luís Suárez, venceu ligas, copas e, claro, a Champions League. Pela Seleção, deve terminar a carreira com mais gols que Pelé, apesar de sua maior glória ser apenas uma Copa das Confederações em 2013. Mas Neymar, de maneira impressionante, chega neste momento, aos 31 anos, com a sensação que ficou devendo.
Neymar é craque e todo mundo sempre soube disso. Não tem como discutir com fatos. Você pode achar isso, aquilo. Pode ter restrições ao estilo de jogo, talvez afirme que ele cai demais, tudo bem. Mas Neymar é craque de bola. O grande problema é que nos últimos anos ele vem sendo cada vez menos atleta, cada vez mais celebridade. As manchetes passam a ser cada vez menos sobre gols, títulos e feitos em campo e passam a ser cada vez mais sobre traições, polêmicas e, agora, multas milionárias.
Neymar: de jogador a sub-celebridade
As manchetes recentes que envolvem Neymar deixariam em dúvida alguém que entrou em coma em 2008 e acordou agora: esse cara é mesmo jogador de futebol? Além da multa, recentemente o craque esteve envolvido em caso de adultério que tomou o noticiário de fofoca do Brasil por mais de uma semana. Nos últimos vários anos, a participação de Neymar no Carnaval rendeu polêmicas sem fim. Seus relacionamentos chamaram muito mais atenção que seus gols. Aos poucos, Neymar parece deixar de lado seu lado atleta e investir totalmente na “carreira” de famoso.
As últimas temporadas, todas pelo PSG, foram no mínimo frustrantes. Recentemente Neymar até postou foto em seu Instagram fazendo o cinco com a mão em referência aos cinco títulos franceses que conquistou em Paris. Mas todo mundo sabe que ser campeão francês nunca foi o objetivo de Neymar ao chegar na capital francesa. Nem o dele e nem o de quem o contratou. Ou de quem deveria torcer por ele, mas, hoje, o quer longe de Paris.
É compreensível a frustração no PSG com Neymar. Nesta temporada foram apenas 29 partidas disputadas, muito por conta de seguidas lesões. Seus números nesses jogos estão longe de ser ruins: são nada menos do que 35 participações em gols nessas partidas. Acontece que Neymar deixou de ser decisivo. Deixou de ser importante para o PSG. Na verdade, Neymar, como atleta, fica cada vez mais irrelevante.
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Neymar tem salvação?
Veja bem, ninguém está falando do Neymar fora de campo. Até porque a vida dele o pertence e ele tem de fazer o que quiser com ela — desde que lembre que é uma pessoa pública e, inevitavelmente, as pessoas comentarão sobre isso. Mas e em campo? A reta final da carreira de Neymar pode sofrer um plot twist e terminar em alta? Acredito que sim, mas essa é uma mudança que tem de partir do próprio jogador.
A começar pela compreensão do próprio Neymar de que ele não está mais na prateleira de melhores do mundo. Pelo menos não neste momento. Sair de Paris seria a opção mais acertada, apesar da dificuldade de se fazer negócio por conta dos altos valores que o PSG parece pedir. Mas, cada vez mais, Neymar se torna um problema na mão dos franceses que, em reformulação, podem aproveitar para se livrar dele e dar de vez o time a Kyllian Mbappé.
O ideal seria que o PSG topasse negociar por um valor mais em conta e que coubesse no bolso, principalmente, do Barcelona. Foi lá que Neymar realmente brilhou a última vez, arrisco dizer até que foi a última vez em que ele realmente esteve feliz jogando futebol. Sim, ele não teria os grandes amigos Messi e Suárez, mas teria a oportunidade única de ser líder de um elenco que busca desesperadamente essa referência. Mas para tudo isso acontecer, PSG e Barcelona teriam de chegar a um bom acordo para os espanhóis, que atualmente sofrem a pior crise financeira de sua história.
Neymar poderia ser um dos melhores jogadores do Barcelona em campo e, fora dele, teria a oportunidade de, se não deixar tudo que rolou em Paris para trás, se redimir. Mas se nada disso acontecer, ele tem ainda uma ótima alternativa: a Seleção Brasileira.
Neymar precisa da Seleção e vice-versa
Se tem alguém no mundo do futebol que vive uma baixa como a de Neymar, esse “alguém” é a Seleção Brasileira. Com a derrota na Copa do Catar, o Brasil já garantiu que no mínimo empatará seu maior jejum sem vencer uma Copa do Mundo, 24 anos. Desde o penta, em 2002, a Seleção vive de momentos complicados e eliminações das mais variadas espécies no torneio. Em baixa desse jeito, a relação com Neymar pode ser o famoso win-win, com ambos aproveitando para tentar dar uma volta por cima.
Ainda sem técnico e com a impressão de que está largada, a Seleção teria em Neymar um líder dentro e fora dos campos. Seria ideal para que garotos promissores como Vini Jr. e Rodrygo, por exemplo, não carreguem todo o peso da responsabilidade em seus ombros. Seria bom também para futuras promessas, como Endrick e Vitor Roque, serem recebidos por um craque com história na Seleção. Sempre foi assim, lembra? Ronaldo era o presidente, Roberto Carlos abraçava a molecada. Na chegada de Neymar, esperava-se isso de Ronaldinho e Kaká. No entanto, o primeiro já vivia mais de baladas que de bola, enquanto o segundo via sua carreira definhar devido a problemas físicos.
Coincidentemente, Neymar não teve isso. Em 2010, convocado pela primeira vez, já teve de ser líder dentro e fora de campo. Agora, tem a chance de reverter esse ambiente. O que ele precisa para isso? Querer. E é aí que mora a dificuldade.