Ligue 1

Lyon tem orçamento reprovado e suas finanças serão limitadas para 2023/24

Lyon precisava de um depósito de €60 milhões e, sem atender às demandas do Fair Play Financeiro da Ligue 1, operará com limites no mercado

O Lyon terá suas finanças limitadas na preparação rumo à próxima temporada. Nesta terça-feira, o comitê de apelação da Direção Nacional do Controle de Gestão (DNCG), entidade responsável pela aplicação do Fair Play Financeiro nas estruturas profissionais da liga francesa, negou o recurso apresentado pelo clube e ratificou a punição por falta de garantias financeiras. O Lyon precisava providenciar um depósito de €60 milhões (R$323 milhões) até o final de junho para que seu orçamento de 2023/24 fosse aprovado. Com a sanção, os Gones não poderão aumentar sua folha salarial e também terão limitações para receber o dinheiro da venda de jogadores.

Acionista majoritário do Lyon desde a última temporada, John Textor se manifestou sobre o assunto em nota oficial e se queixou da burocracia administrativa do futebol francês. Segundo o americano, o rombo de €60 milhões não corresponde ao patrimônio atual do OL. O presidente dos Gones tentou negociar com as autoridades da DNCG antes que a punição fosse aplicada, mas não teve suas justificativas aceitas. A sanção limitará o planejamento do Lyon para a próxima edição da Ligue 1 e talvez force o clube a se desfazer de jogadores para reformular o elenco.

Qual foi a estratégia do Lyon para viabilizar seu orçamento

Segundo a sua versão oficial, o Lyon tinha diferentes estratégias para viabilizar seu orçamento. Um dos pontos era produzir um fluxo de caixa a partir da venda de ativos que não estivessem diretamente relacionados ao futebol masculino. John Textor usava como garantia o repasse de direitos sobre o time feminino do Lyon para a empresária americana Michele Kang e a venda do OL Reign, equipe feminina que disputa a NWSL nos Estados Unidos, que deve ser concluída nas próximas semanas. Também mencionava a possível venda de propriedades não essenciais, como imóveis.

Outro caminho previsto pelo Lyon para viabilizar o orçamento era transferir os ativos do Eagle Football, o grupo administrado por Textor, para o OL Groupe, a organização do clube francês – o que garantiria mais de €300 milhões em patrimônio. Os outros clubes de John Textor, como o Botafogo e o Crystal Palace, se tornariam garantias dentro da estrutura do Lyon. Além disso, Textor faria um depósito de €60 milhões numa conta específica para servir de capital de giro e para atender a demanda da DNCG.

O intuito principal do Lyon com essas medidas, além de garantir sua aprovação dentro da DNCG, era reduzir a dependência da venda de jogadores. Entretanto, o organismo avaliou como insuficientes as medidas e manteve a sanção prevista desde o fim de junho. O buraco no orçamento teve influência da diferença no planejamento realizado por Jean-Michel Aulas anteriormente e pelas contas apresentadas por John Textor após assumir o clube como presidente, em maio. O antigo mandatário previa €70 milhões em vendas que não foram atingidos na temporada passada.

Disputa nos bastidores

Nesta terça-feira, Jean Michel Aulas falou sobre a situação do Lyon com a DNCG. O ex-presidente do clube apontou que não tem mais contato com os atuais proprietários e sublinhou como sempre manteve as contas no azul: “Nunca tive problemas com a DNCG em 35 anos como presidente. Até agora, a DNCG sempre tinha nos parabenizado pela nossa capacidade na gestão”. Segundo o L'Équipe, Aulas e seu staff chegaram a oferecer uma solução para Textor diante do imbróglio, mas teriam sido ignorados. O antigo proprietário ainda mantém 9% das ações do OL.

O mercado do Lyon

O Lyon ainda poderá trazer reforços para o elenco, mas dentro de um limite salarial pré-estabelecido. Também verá o dinheiro de possíveis vendas sendo realocado para viabilizar seu orçamento dentro da DNCG. Desta maneira, o planejamento dos Gones para a próxima temporada se sugere comprometido. O clube se vê numa situação desfavorável para melhorar sua posição na tabela da Ligue 1, depois de duas temporadas consecutivas em que não se classificou para as copas europeias.

Até o momento, o Lyon fez apostas modestas para seu elenco. Chegaram o lateral Clinton Mata (Club Brugge) e o meia Skelly Alvero (Sochaux), em gastos totais que não passaram dos €9 milhões. Bem mais numeroso é o número de atletas que voltam de empréstimo e podem ser reaproveitados pelo técnico Laurent Blanc. Além disso, os Gones fizeram €25 milhões em vendas. Saíram jogadores como o meia Roman Faivre (Bournemouth) e o volante Thiago Mendes (Al-Rayyan). O clube também se despediu de diversos atletas em fim de contrato. Houssem Aouar assinou com a Roma, enquanto Moussa Dembélé e Jérôme Boateng ficaram sem clube.

Sétimo colocado na Ligue 1 2022/23, o Lyon subiu de produção na reta final da temporada, mas nada suficiente para alcançar a zona de classificação às copas europeias. Alexandre Lacazette esteve entre os melhores jogadores do campeonato, enquanto o elenco mescla figuras rodadas com alguns jovens talentos. O goleiro Anthony Lopes, o zagueiro Dejan Lovren, o lateral Nicolás Tagliafico e o volante Corentin Tolisso são outras lideranças. Já entre as promessas, o zagueiro Castello Lukeba, o meio-campista Maxence Caqueret, o meia Rayan Cherki e o ponta Bradley Barcola vêm em ascensão. É ver se Textor mantém esse potencial ou se abre mão de alguém para buscar reforços pontuais.

A nota oficial do Lyon

“Nesta manhã, 18 de julho, a direção do Lyon apresentou argumentos a favor do seu orçamento 2023/24. O orçamento do OL Groupe representa um equilíbrio prático de um negócio diversificado que inclui esportes, entretenimento e imóveis. A decisão do OL Groupe de se concentrar em seu negócio principal, o futebol, resultou em um orçamento revisado que reduziria a dependência das vendas de jogadores, produziria um fluxo de caixa positivo significativo por meio da venda de ativos não essenciais ao negócio e garantiria um futuro saudável e sustentável para a instituição por muitos anos”.

“Tal estratégia, implementada por meio do gerenciamento direto e livre de suas operações de futebol, também permitiria ao OL Groupe reter seus principais jogadores e fortalecer as perspectivas de competitividade do clube”

“Além da apresentação do nosso orçamento e da estratégia corporativa, a administração do OL Groupe disponibilizou também novos elementos, conforme anteriormente solicitado pela DNCG, comprovando a existência de um depósito de €60 milhões numa conta de finalidade específica para ser usada exclusivamente em apoio do capital de giro do OL Groupe. Não pensamos que este montante devesse ser necessário, mas foi reservado, por respeito à DNCG, como uma garantia adicional de que o OL Groupe está bem capitalizado, mesmo nos cenários de projeção mais conservadores”.

“Com €86 milhões investidos no balanço em dezembro, €65 milhões investidos na oferta pública obrigatória em junho e agora €60 milhões investidos em julho, a Eagle Football investiu €211 milhões em patrimônio para apoiar a saúde financeira do OL Groupe desde sua aquisição em dezembro. Também propusemos à DNCG e à Comissão a transferência de todos os ativos do Eagle Football para o OL Groupe, injetando mais de €300 milhões em patrimônio líquido no balanço e garantindo que o OL Groupe seja um dos mais bem capitalizados grupos de futebol na Europa”.

“A administração do OL Groupe também destacou o histórico de sucesso da Eagle Football em melhorar a saúde financeira e o desempenho competitivo de seus outros clubes de futebol, administrados diretamente no Brasil e na Bélgica, bem como nosso investimento significativo no Crystal Palace Football Club, que ajudou a fortalecer uma das academias de maior sucesso, servindo sua comunidade na Premier League”.

“Apesar de uma apresentação completa de tudo isso, incluindo novos elementos importantes como os provas de fundos correspondentes ao valor de €60 milhões solicitado pela DNCG… Ainda não foi suficiente. A Câmara de Recurso decidiu manter a decisão da DNCG de limitar a liberdade dos novos proprietários na gestão das suas operações futebolísticas”.

“Fomos convidados a comprar um dos verdadeiros tesouros do futebol na França. Fomos solicitados a pagar quase €400 milhões em dinheiro para seus acionistas de longo prazo, pagar €65 milhões em dinheiro para seus acionistas públicos, reduzir a dívida bancária em €50 milhões e depois financiar mais €60 milhões em dinheiro (no curto prazo) apenas por garantia… Mas ainda não somos convidados a executar um plano de negócios com base em nossas convicções, com as mãos livres, em benefício da comunidade que servimos”.

“Mais uma vez, bem-vindo ao futebol na França!”

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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