Adaptado ao Bordeaux, Malcom, ex-Corinthians, elogia Tite e projeta classificação à Liga Europa

Revelação do Campeonato Brasileiro de 2015, Malcom foi vendido ao Bordeaux aos 19 anos de idade, ainda jovem e com o título de campeão brasileiro no currículo. Fruto das categorias de base do Corinthians, o atacante se tornou titular no time de Tite jogando pelo lado esquerdo, marcou gols importantes e se destacou. O Bordeaux levou a revelação corintiana por € 5 milhões em janeiro de 2016. Um ano e três meses depois, Malcom é um dos jogadores com mais minutos em campo pelo time, vice-artilheiro e um dos principais jogadores.
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São 41 jogos na temporada, com nove gols marcados e cinco assistências. Em número de jogos, é quem tem mais partidas, empatado com o meia Jeroslav Plasil, da Tchéquia. Em minutos em campo, Malcom é o segundo, com 2.953, atrás apenas do zagueiro Nicolas Pallois, com 3.307. Jérémy Toulalan (2.737) e Plasil (2.732) vem logo em seguida.
Completamente adaptado à França, Malcom contou em entrevista à Trivela como foi o seu início, com aulas de francês indicadas pelo clube. Também falou sobre a sua posição preferida no campo, diferente do que jogava no Corinthians, comentou sobre o momento de Tite na Seleção e também sobre o objetivo de chegar à Liga Europa na próxima temporada.
Atualmente, o Bordeaux é o quarto colocado na tabela, depois de passar o Lyon e à frente do Olympique de Marseille, posição que leva à Liga Europa. A briga está acirrada: o Bordeaux tem 55 pontos contra 54 do Lyon e 52 do Olympique de Marseille. O Nice, terceiro colocado e último classificado à Champions League, já está distante, com 74 pontos.
Como está a adaptação à França? Já aprendeu alguma coisa do idioma?
O pessoal até toma um susto quando falo disso, a minha adaptação foi muito rápida. Tem alguns jogadores sul-americanos aqui, uruguaios e argentinos, que me ajudaram bastante. Conheci brasileiros aqui que me ajudaram bastante também. Fiz curso de francês e aprendi mais no dia a dia. Com quatro meses de clube eu já indicava a maioria das coisas.
Foi o clube que te ofereceu o curso de francês?
Foi sim. O clube perguntou se eu queria e respondi: “Claro que quero”. Eu já falo, já entendo quase tudo que se fala. Algumas frases eu ainda não consigo falar, mas é normal, vou aprender mais, me aperfeiçoar, vou fazer de tudo para falar o melhor possível francês. Mas já me comunico em francês em tudo que preciso.
Existe alguma diferença em sistema de treinamento na França em relação ao Brasil?
Aqui o treinamento no dia a dia é um pouco diferente. Não no conteúdo do trabalho técnico e tático, que é a mesma coisa. A diferença é o tempo. Aqui a gente não fica duas horas treinando no campo. Só uma hora, uma e dez, combinado com outros trabalhos fora de campo.
Você já teve alguns técnicos por aí, pouco tempo depois de chegar já teve uma mudança de técnico e nesta temporada um novo treinador. Como foi para você?
Foi tranquilo para mim, sem problemas. Eu sou um cara bem tranquilo, faço o meu trabalho e me dou bem com todo mundo. Independente de quem é o técnico, eu sou a mesma pessoa e tento fazer o meu melhor aqui. Não tive nenhum problema, me dou bem com o técnico aqui [Nota do editor: Jocelyn Gouvennec, ex-jogador, assumiu como técnico do clube nesta temporada, depois de bom trabalho no Guingamp de 2010 a 2016 e vem apostando muito em Malcom].
Dá para comparar o nível técnico da Ligue 1 com o Brasileiro?
Vendo assim, no Brasil o campeonato é mais disputado que na Ligue 1. Em 2015 o Corinthians foi campeão, em 2016 foi o Palmeiras. Este ano pode ser outro time. É bem disputado. Aqui faz um tempo que o Paris [Saint-Germain] tem ganhado, este ano o Monaco está na briga e pode levar. A diferença é mais no equilíbrio que há no Brasil na busca pelo título, não tanto no nível técnico.
No Bordeaux muitas vezes você atua como atacante pelos lados do campo, especialmente pela direita. É a posição que você mais gosta de jogar?
No Corinthians o Tite me colocava pela esquerda e consegui ir muito bem, mas nunca foi muito a minha. Desde a base eu sempre joguei mais pela direita, um atacante pelo lado direito. Aqui eu tenho jogado a maior parte das vezes assim e me dou bem nessa posição. Eu também atuei mais centralizado, como um camisa 10.
Foi difícil se adaptar a essa função?
Fazer a função de camisa 10 foi mais fácil do que eu imaginava. Aqui o pessoal tem mais a força, brasileiros têm mais técnica do que os franceses. Consegui fazer essa função, mas ainda prefiro atuar pela direita, como atacante.
Você é um dos jogadores com mais minutos em campo no time, perdendo apenas do Nicolas Pallois. É um sinal de confiança em você.
Fico feliz com em ser o jogador que mais atuou, ao lado do Pallois e do Plasil. Fico feliz pela confiança do treinador e confiou no meu potencial. Ele veio de um outro clube aqui da França e confiou em mim. É um reconhecimento do trabalho e eu trabalhei para isso. Quero fazer o melhor para o clube e para mim.
Quais são os times mais difíceis de enfrentar?
PSG e Monaco são os mais difíceis, mas quando a gente joga em casa, a gente também põe pressão e dificulta para os adversários. E quando vamos jogar com os times que estão embaixo na tabela, eles tentam complicar também. O Bordeaux está muito bem na temporada. Não esperava que fosse tão bem assim, mas eu trabalhei para isso e é ótimo.
A expectativa do Bordeaux é classificar à Liga Europa?
Com certeza! Nosso objetivo tá traçado, basta vamos lutar muito para conseguir. O time está fazendo uma boa campanha este ano. Vamos trabalhar para conseguir essa vaga na Liga Europa e quem sabe a gente consiga um título europeu na temporada que vem com o Bordeaux.
Como você tem visto o trabalho do Tite na Seleção aí da França?
Não perco um jogo. É o trabalho que ele sempre fez, com honestidade, um trabalho que ele estudou para isso. As coisas vão acontecer para ele, Tite se preparou para isso. Está fazendo um grande trabalho na Seleção.
Dá para sonhar como uma convocação?
Estou pensando só no meu trabalho, sei que tem muitos jogadores à minha frente. Claro que eu tenho um sonho, todo jogador sonha em defender a seleção, mas eu estou muito tranquilo com isso. Sei que tem muitos jogadores de qualidade na minha frente e meu foco é fazer o meu trabalho aqui.
Alguém te pergunta aí no time, ou mesmo na França, sobre o Tite?
Todo mundo aqui conhece o Tite, sabe que ele acompanhou muitos grandes treinadores. Ele junta muito de outros treinadores com o que ele conhece, que é muita coisa. Para mim, ele está entre os maiores treinadores do mundo hoje.
Você é formado no Corinthians e o clube tem aproveitado mais as categorias de base. Tem acompanhado alguma coisa daí da França?
Com certeza é legal, na época só eu e o Arana. Subiu eu, Pedro Henrique, Arana, Zé Paulo e o Fabiano. Cada um foi ganhando oportunidade, o Zé Paulo entrou e acabou não aproveitando, o Arana demorou um pouco para receber a sua e depois se firmou, eu entrei e aproveitei. Estou muito feliz com essa evolução, mostra também a evolução da base do Corinthians, sempre chegando a campeonatos importantes. É um orgulho e eu acompanho sempre.
O que você diria pra alguém que recebeu proposta da França e te pedisse um conselho?
Diria que o principal é a mentalidade. A cabeça tem que estar 100% focada na adaptação. Se você não conseguir focar, as coisas se complicam. Como foi com o André [atualmente no Sport, que fez só oito jogos, sem nenhum gol], ficou seis meses aqui e não adaptou. Se você não está focado nisso, é um pouco difícil. Você não fala a língua e não pode ter timidez para falar e errar. O que eu gostei é que se você erra alguma palavra, os franceses eles te corrigem, aí você aprende. No dia a dia, eles me ajudam. O pessoal tá muito feliz aqui comigo porque eu já falo com todo mundo, já brinco e eles gostam [que você fale aprenda a falar o idioma].