Sylvinho, em busca da Euro com Albânia: “A identidade desse time é o espírito de luta”

Sylvinho é um dos treinadores mais elogiados nas eliminatórias da Euro 2024. A Albânia participou recentemente do torneio continental, em 2016, mas não parecia muito cotada a voltar na próxima edição. Num grupo em que outros adversários vinham mais badalados, os albaneses têm todas as condições de confirmarem a classificação. Estão na liderança do Grupo E e dependem apenas das próprias forças para carimbar o passaporte. Serão mais três jogos pela frente, com destaque ao confronto direto com a República Tcheca nesta quinta-feira. É esperado uma atmosfera contagiante na Arena Kombëtare, em Tirana, para encaminhar a vaga dos balcânicos.

A fama de Sylvinho como treinador não era das melhores. As primeiras experiências como técnico principal foram ruins, tanto no Lyon quanto no Corinthians. No entanto, o brasileiro demonstra uma compreensão maior para dirigir seleções – especialmente após a vivência de ter sido auxiliar de Tite por três anos. Além do mais, há uma bagagem inegável do ex-lateral, de importantes passagens por clubes como Arsenal e Barcelona. Conseguiu criar um impacto imediato na Albânia e também extraiu rapidamente o melhor de seu time.

Mesmo no país, existia certa desconfiança sobre a capacidade de Sylvinho. O brasileiro interrompia uma sequência de comandantes italianos, com destaque aos trabalhos de Gianni De Biasi e Edoardo Reja, assim como não tinha a rodagem de nomes mais antigos, a exemplo de Otto Baric e Arie Haan. A resposta veio em campo, com uma sequência muito consistente nas eliminatórias da Eurocopa. O sucesso ficou evidente em especial na Data Fifa de setembro, quando o time empatou com a República Tcheca em Praga e dominou a Polônia em Tirana. Foi o momento em que o sonho de disputar a competição continental se aproximou.

“Três finais pela frente”

“Teremos três finais pela frente e precisamos encarar cada uma com a mesma atitude que tivemos até agora. Tudo começa na quinta-feira”, declarou Sylvinho, em entrevista a Fernando Kallás, na Reuters. “Estamos cientes do entusiasmo dos nossos torcedores, mas os jogadores sabem que esse é um cenário externo, algo que não podemos controlar. Eles estão absolutamente calmos e conscientes. Uma vitória na quinta-feira seria um grande passo rumo à tão esperada classificação. É extremamente importante, mas ainda não é determinante”.

A Albânia soma dez pontos no Grupo E, com cinco partidas disputadas. A República Tcheca é o único time com quatro jogos e tem oito pontos. Apenas dois times se classificam diretamente à Eurocopa. Fora da zona de classificação, Moldova tem oito pontos e a Polônia corre atrás do prejuízo com seis pontos, enquanto Ilhas Faroe está fora do páreo com somente um ponto. A vitória por 2 a 0 no confronto direto com os poloneses valeu demais aos albaneses. O grande desafio nesta sequência final é exatamente o embate contra os tchecos em Tirana. Depois, visitam Moldova em Chisinau e recebem Ilhas Faroe na Arena Kombëtare. Mesmo um tropeço nesta sequência tende a não ser tão custoso.

Sylvinho salienta como há uma ideia de jogo principal nesta seleção da Albânia e ela é uma das razões do sucesso, mesmo que o time ganhe elogios por seus gols bonitos: “O mais importante que conseguimos na estreia foi que nos conectamos com os jogadores e eles entenderam imediatamente o que queríamos. Claro que queremos um time bem organizado, anotar belos gols, construir jogadas bonitas. Mas eu insisto na ideia de que esse time precisa manter sua identidade, que é o espírito de luta. A vontade, a coragem e a atitude em cada jogada. Isso é algo que os jogadores entenderam desde o início”.

As bases do trabalho

A seleção da Albânia convocada para esta Data Fifa não conta com um jogador sequer em atividade no país. A maioria dos atletas atua em ligas mais importantes da Europa, sobretudo na Itália, onde estão sete convocados e alguns dos protagonistas do time. Há também jogadores espalhados por Espanha, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Turquia, Portugal e ainda alguns campeonatos na Ásia. Mesmo com essa diáspora, Sylvinho reforça como o trato diário dentro da federação é essencial.

“Temos que estar aqui em Tirana, porque é onde nosso trabalho será desenvolvido. Viajamos muito, nos reunimos com os jogadores, mas a base de dados que temos da federação albanesa é inestimável. Se não estivéssemos aqui, provavelmente não teríamos encontrado Jasir Asani”, pontuou o treinador.

O ponta Jasir Asani é um dos destaques na campanha das Eliminatórias, com dois gols e duas assistências. Nascido na Macedônia do Norte, mas com cidadania albanesa, ele atuou nas seleções de base e esperou sete anos até ganhar sua chance na equipe principal. O chamado de Sylvinho em março aconteceu depois de uma recomendação da equipe de observação da federação, diante do destaque do jogador de 28 anos no Campeonato Sul-Coreano, pelo Gwangju. Tornou-se uma peça fundamental.

“Há milhões de albaneses vivendo ao redor do mundo. Estávamos procurando por um ponta direita que fosse canhoto e encontramos Asani. Adoramos o que vimos de imediato e ele tem sido ótimo para nós. Nossa filosofia é atrair os jogadores com nosso trabalho. Deixar que os resultados, o projeto e a estrutura que estamos construindo falem por nós, toquem o coração e a alma dos jogadores albaneses no exterior, para que sintam o chamado de volta à casa”, complementou Sylvinho.

O próprio ambiente na Arena Kombëtare é uma motivação a mais para os jogadores albaneses. Contra a Polônia, a vibração das arquibancadas também marcou a vitória por 2 a 0 do time de Sylvinho. A expectativa agora é de que esse apoio se transforme em energia para que a equipe some mais três pontos vitais na campanha e abra o caminho para disputar a segunda Eurocopa de sua história. Parece totalmente possível.