Europa

O triste destino de Bosman

O nome de Jean-Marc Bosman é sempre lembrado ao mencionar a revolução causada no futebol durante os anos 90, quando levou às últimas consequências sua briga por liberdade.

A “Lei Bosman” surgiu em 1995, quando a União Europeia deu razão ao jogador belga, impedido pelo RFC de Liège de se transferir para o Dunkerque, da França, mesmo com seu contrato encerrado.

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Na época vigorava o sistema de passe, no qual o clube poderia impedir a saída de um jogador caso não recebesse uma oferta financeira satisfatória.

A partir de então, todo jogador em fim de contrato passou a ser livre para assinar com outro clube, e o futebol passou a respeitar a liberdade de movimento para cidadãos da UE: todo comunitário tem o mesmo direito ao trabalho que os cidadãos de cada país integrante.

As consequências foram gigantescas: os jogadores ganharam mais poder nas negociações contratuais, e os clubes se tornaram capazes de montar verdadeiras seleções internacionais.

Quem não pôde se beneficiar da Lei Bosman foi o próprio jogador, que hoje, aos 46 anos, (sobre)vive em uma casa na periferia de Liège, graças a um subsídio estatal.

Não pode viver com os filhos, Samuel e Martin, e a companheira, Carine, por medo de ter o benefício cortado – ela vive em outra casa, também com ajuda do governo, e tem uma filha de 14 anos de uma relação anterior. O cachorro labrador Freedom Fighter, sua única companhia constante, morreu há duas semanas.

Bosman falou ao jornal inglês The Sun, na edição desta segunda-feira, sobre seu drama, repleto de pobreza, alcoolismo e depressão.

“As pessoas acham que eu guardei uma fortuna, mas a suposta fortuna não pagaria nem um dia do salário de Wayne Rooney. O dinheiro que recebi da FIFPro e a indenização estabelecida pela corte foram engolidos pelos advogados e pelas despesas do contrato”, contou.

Foram cinco anos entre a briga com o Liège e o desfecho do processo. Neste intervalo, atuou em ligas menores e até na ilha de Reunião, no Oceano Índico. Depois, ainda jogou por um tempo no Charleroi a princípio por um salário mínimo, e depois de graça, mas não conseguiu se sustentar. A tentativa de um grande jogo beneficente fracassou.

Voltou para a cidade de Liège, viveu na garagem da casa dos pais e tentou espaço em outros clubes belgas, sem sucesso. Caiu em depressão e cedeu ao álcool, do qual hoje se diz recuperado, desde que saiu do tratamento em dezembro de 2007. Mas no encontro com o repórter do Sun, tomou uma taça de vinho.

Apesar de sua desgraça, Bosman encontra satisfação em ser um mártir: “Fico feliz que os jogadores ganhem muito dinheiro. Não tenho ciúmes. Dei minha carreira para que os jogadores europeus não trabalhassem como escravos”.

“Só quero ser reconhecido. As pessoas sabem que existe uma Lei Bosman, mas não sabem que há um cara que deu tudo, que se tornou um alcoólatra”, lembra. “Como dizia Confúcio, nossa maior glória não é a de nunca cair, mas a de se levantar a cada vez que caímos”.

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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