Liga Europa

Um guia para acompanhar a final da Liga Europa, entre Rangers e Eintracht Frankfurt

Preparamos um guia com detalhes de ambas as equipes que chegam para disputar a taça em Sevilla

A Liga Europa terá uma das decisões mais legais de sua história nesta quarta-feira – e não é preciso nem esperar o jogo para fazer essa afirmação. Eintracht Frankfurt e Rangers, dois clubes tradicionalíssimos e de torcidas fanáticas, valorizam a competição. Ambos esperam há anos uma conquista desse relevo e mobilizaram suas massas ao redor da campanha. Mais importante, as equipes fazem por merecer esse sucesso. Bateram adversários mais badalados e se superaram especialmente nos mata-matas, entre viradas e imposições até surpreendentes. Agora, falta apenas mais um duelo para a coroação em Sevilha.

Para esquentar a final que acontece às 16h (com transmissão de ESPN, Star+, SBT e TV Cultura), preparamos um guia dos times. Falamos sobre a caminhada, a história europeia, o momento da temporada, os jogadores, os treinadores e até damos motivos para reforçar sua torcida. Essa é uma decisão, afinal, que desperta a vontade de ver ambos os times campeões, tão legais são suas histórias.

A torcida do Frankfurt comemora (IAN KINGTON/IKIMAGES/AFP via Getty Images/One Football)

A campanha até a final

O Eintracht Frankfurt permanece invicto na Liga Europa. Os alemães encararam um grupo cheio de clubes tradicionais, contra Fenerbahçe, Olympiacos e Royal Antuérpia. As Águias somaram três vitórias e três empates – curiosamente, com um aproveitamento melhor fora. Com a primeira colocação, a equipe avançou diretamente às oitavas. Venceu o Betis por 2 a 1 na Espanha e conseguiu a classificação num dramático 1 a 1 arrancado nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação. Depois, veio a imposição contra o Barcelona nas quartas, com boa atuação no 1 a 1 da Alemanha e os 3 a 2 inapeláveis no Camp Nou, que ficaram baratos. Já nas semifinais, duas vitórias sobre o West Ham, com os 2 a 1 em Londres complementados pelo 1 a 0 em Frankfurt.  É um desempenho assombroso.

O Rangers começou sua jornada continental na Champions, mas caiu nas preliminares diante do Malmö. Repescado para a Liga Europa, o campeão escocês passou aperto contra o Alashkert, mas evitou a zebra. E a campanha na fase de grupos também não começou bem, com derrotas para Lyon e Sparta Praga. Os Teddy Bears só pegaram embalo contra o Brondby, somando oito pontos nas quatro rodadas finais para avançar em segundo. O time cresceu nos mata-matas, especialmente nos 4 a 2 contra o Dortmund no Signal Iduna Park, antes de segurar o emocionante empate por 2 a 2 em Ibrox. Os Gers fizeram 3 a 0 na ida das oitavas contra o Estrela Vermelha, passando mesmo com a derrota por 2 a 1 na volta. Depois, perderam para o Braga por 1 a 0 e reverteram em Glasgow, avançando com os 3 a 1 alcançados na prorrogação. Por fim, de novo a situação parecia ameaçada com a derrota por 1 a 0 para o Leipzig na Alemanha, até que os históricos 3 a 1 na Escócia valessem a vaga na final.

Jogadores do Rangers comemoram a classificação (OLI SCARFF/AFP via Getty Images)

O saldo da temporada

Curiosamente, o Eintracht Frankfurt fez campanhas fracas nos torneios domésticos durante a atual temporada. A participação na Copa da Alemanha se encerrou na primeira fase, com derrota para o Waldhof Mannheim, da terceira divisão. Já na Bundesliga, a equipe acumulou empates nas primeiras rodadas, até engrenar no fim do primeiro turno e se colocar brevemente na zona de classificação às copas europeias. Porém, as Águias voltaram a cair de nível e oscilaram na segunda metade do campeonato, quando também estavam mais focadas na Liga Europa. O time não venceu em nenhuma das últimas oito rodadas e terminou no modesto 11° lugar. O ponto alto ficou para a vitória sobre o Bayern no primeiro turno, com o triunfo por 2 a 1 dentro da Allianz Arena.

O Rangers não conseguiu um desempenho tão arrasador no Campeonato Escocês quanto na temporada passada, mas teve condições de buscar o bi. A primeira metade da caminhada foi muito boa e colocou os Teddy Bears na liderança. Mesmo com a mudança de técnico, Gio van Bronckhorst manteve o ritmo visto com Steven Gerrard e sustentava a ponta. O maior problema foi mesmo a subida de produção do Celtic, que melhorou bastante seu aproveitamento e venceu dois confrontos diretos. Assim, os Gers deixaram o topo e viram os rivais levarem o caneco. Outra esperança de título fica para a Copa da Escócia, em final contra o Hearts, após a épica classificação na Old Firm das semifinais.

(CHRISTOF STACHE/AFP via Getty Images/One Football)

A história europeia

A trajetória continental do Eintracht Frankfurt começa grandiosa, com a campanha até a final da Champions de 1959/60. Despacharam o Rangers por 12 a 4 no agregado da semifinal e depois fizeram a histórica decisão contra o Real Madrid, com derrota por 7 a 3. O Frankfurt seguiu realizando campanhas relevantes nas copas secundárias durante as décadas de 1960 e 1970, até conquistar a Copa da Uefa em 1980, batendo o Bayern na semifinal e o Gladbach na decisão. As Águias mantiveram certa relevância nos anos 1980 e 1990, com campanhas esporádicas até quartas de final, antes de um momento de vacas magras na virada do século. As reaparições em fases de grupos se tornaram mais constantes na última década, com destaque para a caminhada até as semifinais da Liga Europa em 2018/19, dando trabalho ao Chelsea. Agora, um passo maior.

Até por sua importância na Escócia, o Rangers sempre mereceu respeito nos torneios continentais. E foi uma equipe de boas campanhas especialmente nos anos 1960, com direito a dois vices de Recopa, além de semifinais na Champions e na Copa das Cidades com Feiras. O ápice viria enfim com o título da Recopa de 1972, em cima do Dynamo Moscou, deixando um poderoso Bayern pelo caminho. Depois disso, os Teddy Bears viveram certa entressafra entre os anos 1970 e 1980. O fortalecimento ocorreu na década de 1990, quando dominaram a liga nacional e quase foram à final da Champions em 1992/93. Depois disso, os Gers somavam participações em fases de grupos, mas nada muito além, até a final da Copa da Uefa perdida ante o Zenit em 2008. Após a falência em 2012, foram oito anos longe dos torneios continentais, com um gradual crescimento mais recente.

Tavernier, capitão do Rangers (Foto: Imago / One Football)

Destaques na defesa

Kevin Trapp é um goleiro feito para o Eintracht Frankfurt. O camisa 1 se consolida como grande ídolo e permanece como um importante destaque na campanha. Já uma peça importante no miolo de zaga, com o sistema de três zagueiros, é Evan Ndicka. O francês de 22 anos é um dos jogadores mais sólidos da equipe, especialmente pela capacidade no jogo aéreo, e tem muito potencial. Quem também se afirma é o brasileiro Tuta, de 22 anos, que decola em Frankfurt depois de ser levado da base do São Paulo. Virou titular na temporada passada e é uma grata surpresa. Já um problema no setor será a ausência de Martin Hinteregger, lesionado. A opção por ali é Almamy Touré.

A escalação do Rangers começa com Allan McGregor, que continua em grande forma aos 40 anos e operou alguns milagres ao longo desta Liga Europa. O goleiro é um ponto de confiança. Já o grande protagonista do time é o lateral direito James Tavernier, dono da braçadeira e artilheiro da Liga Europa. Bate na bola como poucos e tem muita chegada ao ataque. Pelo que se viu contra o Leipzig, pode ser adiantado como ala. Borna Barisic é outro jogador com bom escape pela esquerda. Já o miolo de zaga costuma trazer o tarimbado Leon Balogun. Connor Goldson é uma peça importante no atual ciclo, nome intocável nas últimas temporadas. Calvin Bassey é alternativa se os Gers optarem por três atrás.

Kostic comemora o seu gol pelo Frankfurt no Camp Nou (Eric Alonso/Getty Images)

Destaques no meio

A grande força do Eintracht Frankfurt está nos lados do campo. Filip Kostic é um dos melhores passadores do futebol alemão faz tempo e seus cruzamentos sempre representam um perigo. É símbolo de qualidade pela esquerda. O lado direito ainda conta com Ansgar Knauff, grata surpresa ao ser emprestado pelo Dortmund. Já na cabeça de área, Sebastian Rode é um dos jogadores mais rodados do grupo e usa a braçadeira de capitão. É um parceiro dinâmico para a pegada de Djibril Sow ao lado. Kristijan Jakic é uma alternativa recorrente na temporada.

O trabalho dos meio-campistas é muito importante na engrenagem do Rangers, pelo ritmo forte que o time costuma imprimir. John Lundstram é um nome frequente, após chegar do Sheffield United, mas ultimamente atua mais recuado na zaga. Sem ele, as opções costumam ser Ryan Jack e Glen Kamara – este, outro notável na ascensão dos Teddy Bears. Joe Aribo é o mais apto na ligação, como um dos atletas mais agressivos à disposição do time. Ainda há à disposição Aaron Ramsey, um dos mais conhecidos do elenco, mas reserva nesta campanha da Liga Europa.

Borré comemora gol pelo Frankfurt (Foto: CHRISTOF STACHE/AFP via Getty Images/One Football)

Destaques no ataque

Ao longo da Liga Europa, o Eintracht Frankfurt atuou com dois atacantes se aproximando pelo meio e um homem de referência. Quem desempenha esse papel como centroavante é Rafael Santos Borré, com muita mobilidade e também boa leitura dos espaços. O colombiano não é tão prolífico quanto outros artilheiros recentes das Águias, mas vem sendo vital. Daichi Kamada é um dos jogadores mais técnicos da equipe e cumpre o papel de vir de trás, muito bem especialmente na armação. A outra peça deve ser Jens Petter Hauge, dono de habilidade e boa finalização. Uma pena é a lesão de Jesper Lindström, dinamarquês que chegou nesta temporada mostrando muito talento e foi eleito o melhor jovem da Bundesliga.

O Rangers lamenta muito dois jogadores em seu departamento médico: Alfredo Morelos é o artilheiro do clube nas últimas temporadas e Ianis Hagi deslumbra por sua qualidade técnica. Ambos estão fora, com lesões sérias que os tiraram da reta decisiva da Liga Europa. O lado positivo é que o time tem se virado bem mesmo sem dois protagonistas. Outro em dúvida para a final, Kemar Roofe pode ser usado como homem de referência, mas os Teddy Bears têm apostado até em Aribo mais adiantado. Com isso, entram outros atletas mais móveis, como Scott Wright e Ryan Kent – este, um dos maiores garçons da equipe. Dependendo da formação, o rodado Scott Arfield pode pintar aberto na ponta ou recuado no meio.

O técnico

Oliver Glasner é mais um treinador formado pelo Red Bull Salzburg. Foi assistente de Roger Schmidt por dois anos, antes de tentar voo solo. Seu grande trabalho na Áustria aconteceu à frente do LASK Linz, que recolocou na briga por títulos. Saiu para assumir o Wolfsburg e, apesar de certas oscilações de início, montou uma equipe forte o suficiente na defesa para alcançar a vaga na Champions. Sua chegada em Frankfurt causava desconfiança, até pelo bom trabalho anterior de Adi Hütter. Contudo, o austríaco de 47 anos provou seu valor com um estilo até mais agressivo do que o visto na Volkswagen Arena. Não teve regularidade na Bundesliga, mas o que faz na Liga Europa já é memorável.

Steven Gerrard fez história no Rangers, mas estava claro que não ficaria tanto tempo assim no clube e os Teddy Bears precisaram seguir em frente com a saída do treinador em novembro. A escolha de Gio van Bronckhorst foi uma das melhores possíveis. O holandês teve uma carreira respeitável como jogador, inclusive como ídolo em Ibrox. Já como treinador, passou quatro temporadas no Feyenoord e encerrou o jejum de seu clube do coração, antes de uma rápida passagem pela China. Gio deu continuidade ao bom projeto e também adiciona sua identidade ao time. Mais importante, o nível competitivo segue lá no alto e isso se nota na Liga Europa.

Por qual torcer?

Uma das torcidas mais apaixonadas da Alemanha vem provando o seu valor repetidas vezes. Já tinha sido assim na caminhada até as semifinais da Liga Europa em 2018/19 e se repete de maneira notável principalmente nos compromissos fora. O Eintracht Frankfurt é um clube bem gerido, sempre consciente em relação ao seu papel social e com ótima conexão com sua massa de apaixonados. Para quem gosta do futebol alemão, um título também é uma forma de valorizar a Bundesliga para se olhar além do Bayern. E a conquista ainda renderia uma volta à Champions depois de 62 anos, algo que as Águias rondaram nas últimas temporadas, sem sucesso via liga nacional.

Dez anos depois de falir e de recomeçar na quarta divisão, o Rangers pode conquistar uma taça europeia. Isso, por si, já vale a torcida de muita gente. O peso histórico dos Teddy Bears é enorme e o troféu encerraria um jejum de 50 anos nas competições continentais. Ter duas taças no museu seria mais condizente ao tamanho da agremiação e também poderia motivar o combalido futebol escocês. E a comemoração de um título entre os torcedores escoceses talvez resultasse numa das maiores insanidades vistas na Europa. Basta lembrar o que ocorreu no último título escocês, mesmo com pandemia. O fanatismo azul se tornaria incontrolável. De quebra, o feito valeria um atalho à fase de grupos da Champions, algo que os Gers também não viveram desde a bancarrota.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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