O Olympique rompeu seu sofrimento na prorrogação e, após 14 anos, volta a uma final europeia
Seria uma noite histórica na Liga Europa, a quem quer que fosse. Red Bull Salzburg e Olympique de Marseille se enfrentavam em uma semifinal europeia, algo imenso a ambos os clubes. Os austríacos buscavam a glória inédita além das fronteiras na sua “era moderna”, algo que já foi comum aos franceses, embora não tenha acontecido durante os últimos anos. Após a vitória por 2 a 0 no Estádio Vélodrome, os marselheses jogavam pela vantagem na Red Bull Arena, mas precisaram pagar a sua penitência. Os Touros Vermelhos foram mais time e dominaram os 90 minutos regulamentares, devolvendo o placar da ida. Já na prorrogação, o grito do Olympique saiu nos minutos finais. O gol de Rolando, aos 11 minutos do segundo tempo extra, determinou o placar de 2 a 1, em derrota magra suficiente para a festa. Após 14 anos de espera, os celestes voltam a uma final continental. Encararão o Atlético de Madrid em Lyon, por uma vocação do clube, e certamente em meio à erupção de sua torcida.
O primeiro tempo em Salzburgo teve poucas emoções, bastante estudado entre as equipes. O Red Bull tinha um pouco mais de iniciativa e via seus homens de frente trabalharem com intensidade, mas existia uma grande barreira à frente, com a bem armada defesa do Olympique de Marseille. Raras foram as vezes que os austríacos conseguiram encontrar espaços na marcação adversária e, quando o fizeram, pararam em uma boa defesa do goleiro Yohann Pelé. Já era uma atuação melhor dos Touros Vermelhos, se comparada à ida no Vélodrome, embora o time carecesse de precisão para concluir as jogadas. Os marselheses, por outro lado, estavam confortáveis em segurar a vantagem. Apesar das ótimas opções nas bolas paradas ou nos contra-ataques, atacaram pouco.
O ritmo se intensificou durante o segundo tempo. Principalmente porque o Red Bull Salzburg, como havia feito contra a Lazio, cresceu para sufocar os visitantes. As subidas de Stefan Lainer eram uma excelente saída pelo lado direito, enquanto os volantes ganhavam liberdade, com Valon Berisha e Amadou Haidara se aproximando do trio ofensivo. As oportunidades começaram a aparecer. E o gol saiu aos oito minutos. Haidara passou por três marcadores, invadiu a área e anotou um belíssimo gol. A energia do camisa 4 é um fator importante aos Touros Vermelhos, como já tinha ficado claro contra a Lazio, e fez falta no Vélodrome.
Se o Red Bull Salzburg martelava, é preciso ponderar também o sofrimento do Olympique de Marseille. A segurança defensiva dos celestes ruiu, com a zaga exposta, sofrendo com a lentidão de Luiz Gustavo e Adil Rami pela faixa central. Os Touros Vermelhos não se furtavam a arriscar. E o segundo gol acabou saindo aos 20 minutos, em uma pane geral dos franceses. Haidara arrancou pela direita e cruzou. Luiz Gustavo não cortou e a bola sobrou limpa para Xaver Schlager. Mesmo sem finalizar da melhor maneira, o armador contou com o auxílio de Bouna Sarr, que colocou o pé no meio do caminho e desviou contra as próprias redes. E na sequência, o terceiro não saiu apenas porque Pelé buscou um chute rasteiro.
Apenas depois de tantos avisos é que o Olympique de Marseille acordou. Florian Thauvin chegou a desviar uma bola no travessão, com os celestes saindo mais no ataque. A partida se tornou aberta, à medida que os franceses finalmente iam se arriscando. De qualquer forma, o vigor físico do Red Bull era um claro problema aos visitantes. Ficava difícil de conter a potência de Munas Dabbur no ataque, enquanto as entradas de Hwang Hee-Chan e Takumi Minamino ofereciam uma nova configuração ao setor ofensivo dos austríacos. Nos minutos finais do tempo regulamentar, a melhor chance de evitar a prorrogação foi dos marselheses, mas a cabeçada de Clinton N'Jie saiu ao lado da meta de Alexander Walke.
O Red Bull Salzburg tinha mais pernas durante a prorrogação. Buscava o ataque e explorava os lados do campo. Poderia muito bem ter aumentado a diferença aos nove minutos do primeiro tempo, quando Duje Caleta-Car parou em um milagre de Pelé. O Olympique parecia satisfeito em segurar o resultado, aumentando sua proteção defensiva com a entrada de Rolando, que deslocou Luiz Gustavo para a cabeça de área. Pois o zagueiro acabaria se tornando o herói. Aos 11 minutos do segundo tempo extra, Dimitri Payet cobrou escanteio e o lusitano estava livre dentro da área, desviando para o cantinho. Naquele momento, os Touros Vermelhos precisavam de dois gols. Algo que não conseguiriam, ainda mais depois da expulsão de Haidara, pelo segundo amarelo.
Ao apito final, o técnico Marco Rose liderou os protestos contra o árbitro Sergey Karasev. E não sem razão. O lance decisivo contou com um erro determinante (e bisonho) da arbitragem, já que o escanteio que originou o gol de Rolando não existiu, em chute que desviou em um jogador do próprio Olympique antes de sair – e, portanto, deveria render um tiro de meta. Cabe ponderar, entretanto, que o trio russo foi mal de uma maneira geral. Errou para os dois lados, inclusive contra os marselheses, com um pênalti não marcado e um ligeiro impedimento no segundo gol dos austríacos. Mais uma vez, a arbitragem influencia o que deveria ser decidido apenas na bola.
O Red Bull Salzburg, ainda assim, tem muitos méritos por seu desempenho memorável. O clube finalmente fez uma grande campanha continental, o que almejava havia mais de uma década, e justo em um momento no qual tinha tudo para ser ofuscado pelo RB Leipzig. São vários jovens talentos no time, como Caleta-Car, Lainer, Haidara, Berisha e Dabbur. Além disso, o técnico Marco Rose é outro capaz de mirar mais para a sequência da carreira. Aos 41 anos, esta é apenas a sua primeira temporada à frente de um time de primeira divisão. Nas categorias de base, levara o sub-19 do Salzburg ao título da Uefa Youth League, principal competição de juniores do continente. Olho também em René Maric, assistente de 25 anos, que despontou como analista de tática em um blog.
Já o Olympique de Marseille terá um grande prêmio à boa temporada que faz, até acima das expectativas. Rudi García comanda um bom trabalho à frente dos franceses, em um time no qual bons jogadores voltaram a mostrar o seu melhor futebol. O desgaste de uma temporada longa pesa e a dependência da qualidade individual será grande, contra um favoritíssimo Atlético de Madrid. De qualquer maneira, os celestes terão a oportunidade de jogar “em casa” contra os colchoneros e contar com o calor de sua torcida em Lyon. Mais uma noite europeia para a memória dos marselheses.