O que está em jogo em Roma x Sevilla e muito mais: um guia da final da Liga Europa 2022/23
Destaques, campanhas, prováveis escalações e várias outras informações para acompanhar o jogão na Puskás Arena

A final da Liga Europa terá um duelo curioso. De um lado, um clube mais do que experiente nessa situação, o maior campeão da história do torneio, com uma campanha improvável para resgatar uma temporada bem abaixo da média. Mas toda a experiência que o Sevilla possui nesta competição específica talvez não se equipare à que José Mourinho acumulou em diversos níveis do futebol europeu no decorrer de sua longa carreira. O português terá a missão de conduzir a Roma a uma segunda glória consecutiva no continente, no momento em que tenta esquivar perguntas sobre seu futuro. Para acompanhar esse jogaço na Puskás Arena de Budapeste nesta quarta-feira, às 16h, preparamos um guia, com destaques, campanhas, prováveis escalações e várias outras informações.
Sevilla
O que está em jogo
O Sevilla é o maior campeão da competição. Com sobras. Está em busca de seu sétimo título e também quer manter 100% de aproveitamento em finais. A atual edição já serviu para expandir o seu legado na Liga Europa, com as vitórias épicas contra Manchester United e Juventus, e também pode resgatar uma temporada em que pouca coisa deu certo. Durante a maior parte dela, correu risco de rebaixamento. Monchi, o gênio do mercado, fez um dos seus piores, Julen Lopetegui pagou com o emprego e a segunda passagem de Jorge Sampaoli não foi bem sucedida. A Copa do Rei parou nas oitavas de final. José Luis Mendilibar conseguiu engatar uma reação. Não há mais perigo de queda e uma vaga na próxima Conference League é possível por meio de La Liga, embora muito difícil. Seria pouco para o Sevilla que quer não apenas disputar a próxima Champions Laegue, mas também confirmar que quem manda na Liga Europa é ele.
A campanha

O Sevilla terminou La Liga três vezes consecutivas em quarto lugar e começou a sua campanha europeia na Champions League. Teve dois probleminhas: o grupo era difícil e não estava jogando nada. O primeiro turno ainda foi comandado por Lopetegui, que perdeu em casa para os dois principais adversários, Manchester City e Borussia Dortmund, por goleada. O empate contra o Copenhague na Dinamarca dizimou as chances de avançar às oitavas de final. Sampaoli conseguiu resgatar um empate no Signal Iduna Park e venceu bem os dinamarqueses, mas era tarde demais. E mesmo se houvesse chance, o último jogo seria no Etihad Stadium. De volta à sua competição favorita, o Sevilla abriu os trabalhos vencendo o PSV por 3 a 0. Embora tenha levado 2 a 0 em Eindhoven, não correu riscos sérios de perder a vaga. A história foi diferente contra o Fenerbahçe. Ganhou por 2 a 0 no Ramón Sánchez Pizjuán e perdeu por 1 a 0 em Istambul, resistindo a uma forte pressão dos turcos. Os sinais eram pouco animadores de que conseguiria fazer frente ao Manchester United, que chegou a abrir dois gols de vantagem em Old Trafford. Com uma boa dose de sorte (dois gols contra), buscou a igualdade. Na partida de volta, a torcida incendiou o time, Harry Maguire e David de Gea falharam, e o Rei da Liga Europa renasceu. O duelo contra a Juventus foi apertado, mas a Velha Senhora arrancou o empate em Turim no apagar das luzes e conseguiu apenas uma nova igualdade na Espanha. Mesmo que a prorrogação tenha sido necessária, o Sevilla foi o melhor time nas duas partidas.
O destaque

A temporada como um todo do Sevilla não gerou muitos destaques individuais, e na Liga Europa foi uma equipe bastante coletiva. Quem chama um pouco a atenção é o centroavante Youssef En-Nesyri, que parece ter ganhado um bom impulso da campanha da seleção marroquina na Copa do Mundo. O jogador de 25 anos está no clube espanhol desde 2020, quando chegou do Leganés. Ele não havia marcado por La Liga e nem estava sendo titular com frequência antes do torneio do Catar. Retornou com outra estatura e marcou oito vezes na segunda metade do Campeonato Espanhol. É o artilheiro do Sevilla na Liga Europa com quatro gols em oito partidas. Marcou em Turim, duas vezes na vitória sobre o Manchester United e participou de um dos gols contra em Old Trafford, com uma cabeçada que desviou na testa de Harry Maguire.
Um jogador para ficar de olho

Lucas Ocampos teve uma temporada meio estranha. O Ajax vendeu Antony para o Manchester United e precisou buscar uma reposição em pouco tempo. O ponta argentino, com experiência em alto nível, foi um alvo interessante. Ele teve boas temporadas no Ramón Sánchez Pizjuán, e Monchi provavelmente calculou que conseguiria tirar um valor mais alto de um clube desesperado e substituir Ocampos com Adam Januzaj, livre no mercado. O primeiro acordo foi de € 20 milhões, mas o conselho do Ajax barrou. Tarde demais para abortar toda a operação, Ocampos foi emprestado, com opção de compra, e teve poucas chances em Amsterdã. Quando abriu a janela de janeiro, o Sevilla precisava de ajuda e o chamou de volta. Foi uma boa decisão. Ele não tem sido titular sempre, mas marcou alguns gols importantes. Na Liga Europa, disputou oito partidas, metade desde o início. Se começar jogando em Budapeste ou entrar no segundo tempo, tem potencial para decidir.
O veterano na Europa

No geral, o jogador mais experiente do Sevilla é o interminável Jesús Navas, com 37 anos, ainda correndo para frente e para trás pelo corredor direito. Em competições internacionais, a sua experiência e a do volante Fernando são bem relevantes. Mas Ivan Rakitic vence pela qualidade. Ele começou a disputar Champions League em 2007, ainda pelo Schalke 04. Não chegou a participar daquele mata-mata que terminou na semifinal em 2010/11 porque saiu em janeiro para o Sevilla. Conquistou uma Liga Europa e, logo em seguida, após se transferir ao Barcelona, a própria Champions, como um dos pilares daquele time irresistível de Luis Enrique. Tem mais uma semifinal no currículo. Poucos jogadores em Budapeste conhecem mais os detalhes das principais batalhas da Europa do que ele.
O técnico

Antes da semifinal, José Luis Mendilibar foi honesto ao dizer que tem pouca experiência nesse nível e confiava que seus jogadores saberiam o que fazer para superar a Juventus. Estava certo nas duas afirmações. O basco teve uma passagem curta pelo Athletic Bilbao, mas a maior parte da sua carreira (que começou nos anos noventa) foi em clubes menores. Ficou um tempo razoável no Valladolid e no Osasuna antes de ganhar destaque com o Eibar, no qual ficou quase seis anos. Chegou a conseguir um ótimo nono lugar e fez quartas de final da Copa do Rei. Será sua primeira decisão. “Mas não dos meus jogadores ou do meu clube, nem do técnico do adversário. Tudo bem a história e a experiência, mas é um jogo de futebol. Não sei o que pesa mais”, disse. Caso seja campeão, o treinador contratado no final de março conseguirá a cereja no bolo de uma grande recuperação. Em 11 rodadas, somou quase metade (21 de 49) dos pontos do Sevilla nas 26 anteriores. Não apenas apagou o risco de rebaixamento como ainda tem chance de garantir vaga em competições europeias.
A provável escalação
O Sevilla não terá Marcos Acuña, um gênio que conseguiu ser expulso duas vezes em menos de dez dias. Ele cumpre suspensão por ter levado o segundo cartão amarelo contra a Juventus na semifinal, mas também não terminou o duelo mais recente, diante do Real Madrid. A dúvida de Mendilibar por problemas físicos é o volante Fernando, que atuou na linha central do meio-campo ao lado de Nemanja Gudelj nas quartas de final e de Ivan Rakitic na semi. O técnico basco abandonou os três zagueiros de Sampaoli a favor da boa e velha linha de quatro. Pela experiência, Jesús Navas é favorito a começar jogando na lateral direita, mas a vaga também pode ser de Gonzalo Montiel. Alex Telles deve ser o substituto de Acuña. Caso Fernando possa jogar, Gudelj deve continuar na zaga ao lado de Loïc Badé, mais utilizado que Karim Rekik na Liga Europa. Nessa formação, o mais provável é uma linha de armação com Ocampos, Óliver Torres e Bryan Gil tentando dar munição para En-Nesyri.
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Roma
O que está em jogo
A Roma tem uma torcida apaixonada, uma história rica e uma prateleira de troféus pequena. Qualquer chance de ampliá-la precisa ser aproveitada. A campanha na Liga Europa já é mais uma história bonita e emocionante para ampliar a ligação especial que foi criada entre jogadores, arquibancadas e o técnico José Mourinho. Um segundo título europeu consecutivo a cimentaria um pouco mais e a levaria a um novo patamar. Ao português, também está na mesa mais uma evidência de recuperação, após sair por baixo de Manchester United e Tottenham, mas ela já foi suficiente para recolocá-lo na indústria de especulações. Mourinho soltou mensagens cifradas antes da final sobre o seu futuro e também pode ser uma última oportunidade de festejar com esses torcedores. A Roma nunca encontrou regularidade na Serie A e será a sua última chance de retornar à Champions League, o que pode ser crucial para melhorar o elenco e convencê-lo a ficar. E o valor estético de mais uma passeata diante do Coliseu continua muito alto.
A campanha

Sexta colocada no último Campeonato Italiano, a Liga Europa foi a realidade da Roma em três das últimas quatro temporadas. A exceção foi a campanha na Conference League – pelo título e pelas emoções, valeu a pena. A classificação ao mata-mata não parecia difícil, com previsão de briga interessante pela primeira posição com o Betis. Foi um pouco mais complicado do que isso. Apenas quatro pontos foram somados nas quatro primeiras rodadas, com derrota para o Ludogorets na Bulgária e para o Betis no Estádio Olímpico, além de um empate no Benito Villamarín. A Roma venceu o HJK, da Finlândia, pela segunda vez e precisava ganhar dos búlgaros na última rodada para se classificar. Saiu perdendo. Apesar do flerte, com a romada, conseguiu virar e passou aos 16 avos de final. E não pegou um caminho fácil. O Red Bull Salzburg descia da Champions League e ganhou a primeira partida. Leonardo Spinazzola liderou a vitória por 2 a 0 no jogo de volta. A Real Sociedad havia ficado à frente do Manchester United na fase de grupos, mas perdeu a primeira partida e não conseguiu marcar na segunda. O grande épico viria nas quartas de final. O Feyenoord venceu pelo placar mínimo em Roterdã, e chegou a buscar o empate aos 35 minutos do segundo tempo no Olímpico. Paulo Dybala marcou, aos 44, e a Roma fez mais dois gols na prorrogação. O último obstáculo era o Bayer Leverkusen, treinado por Xabi Alonso, um antigo comandado de Mourinho. Foi a vez do mestre, não do pupilo. Um gol solitário do garoto Edoardo Bove valeu a vantagem para a Roma, que travou absolutamente tudo na BayArena para avançar à final.
O destaque

Vamos supor que Mourinho não está fazendo um daqueles famosos jogos mentais e acreditar que Dybala terá apenas de 20 a 30 minutos de perna para esta partida. Não quer dizer necessariamente que jogará no máximo meia hora. Pode ser o período em que conseguirá fazê-lo em altíssimo nível. Mas provavelmente estará limitado em alguma medida, o que coloca a responsabilidade em outra referência. Lorenzo Pellegrini é o capitão (não sei se você sabe: isso é bem importante na Roma) e está entre os jogadores mais talentosos da sua geração do futebol italiano. Nem sempre consegue demonstrá-lo com regularidade desde que retornou ao clube no qual foi formado, após uma breve passagem pelo Sassuolo. Foi importante na fase de grupos e deixou sua marca contra o Feyenoord. Tem sido resistente em meio às muitas lesões da Roma e, independente da escalação ofensiva, provavelmente precisará chamar a responsabilidade. Na final da Conference League, Nicolò Zaniolo foi decisivo. Ele não está mais no clube. Em muitos momentos nesta temporada, Paulo Dybala comprou a briga. Ele não estará em condições ideais. O sucesso da Roma nesta partida pode depender do que Pellegrini conseguirá fazer.
Um jogador para ficar de olho

Rodado, Leonardo Spinazzola provou que gosta de jogo grande. Chegou à Roma em 2019 e contribuiu com a campanha até às semifinais da Liga Europa em 2020/21. Ao fim daquela temporada, estava sendo o principal destaque da seleção italiana até sofrer uma séria lesão no Tendão de Aquiles que o fez perder quase um ano de ação. Retornou a tempo de atuar alguns minutinhos na decisão da Conference League e está fazendo uma boa temporada. Principalmente ao se manter longe do departamento médico e com a mesma energia para chegar à frente. Foi decisivo contra o Red Bull Salzburg, nos 16 avos de final, e abriu o placar contra o Feyenoord no épico das quartas de final. A Roma atua com três zagueiro, o que dá liberdade aos alas para influenciar o setor ofensivo, e Spinazzola está entre os jogadores que melhor conseguem fazer isso.
O veterano na Europa

Rui Patrício é quem fez mais partidas em futebol europeu no elenco da Roma. A maioria foi com o Sporting, que passou por várias preliminares e tem poucas campanhas longas – como a semifinal de Liga Europa, em 2011/12. Pelo tempo que passaram em grandes da Premier League, Chris Smalling e Nemanja Matic também colecionaram dezenas de jogos continentais, mas quem melhor concilia quantidade e relevância é Georginio Wijnaldum. Ele tem duas finais de Champions League consecutivas em seu currículo e, para chegar à segunda, marcou duas vezes em uma das grandes reviravoltas da competição, o 4 a 0 do Liverpool sobre o Barcelona. Teve outras duas participações em mata-mata que se somam também à experiência inicial com Feyenoord e PSV antes de se transferir à Inglaterra.
O técnico

Mourinho não quis abrir o jogo sobre o seu futuro na entrevista coletiva antes da partida. Falou com todas as letras que não houve contato com outros clubes e informou os capitães do elenco sobre os seus planos. As duas temporadas à frente da Roma conseguiram reabilitar a sua imagem. As táticas continuam não sendo as mais sofisticadas ofensivamente, mas sabe armar defesas impenetráveis, como ensinou ao pupilo Xabi Alonso na semifinal. Segue como um titã do futebol europeu, tendo administrado duas longas campanhas europeias com maestria. E principalmente, provou que, no ambiente certo, ainda consegue ser o técnico que faz os jogadores darem até a última gota de suor em campo. O técnico pelo qual os caras querem se sacrificar. Esse era seu forte e também o aspecto em que mais parecia ter perdido influência com as mudanças de gerações. Chegou a falar abertamente sobre isso. Não é o caso na Roma, na qual construiu uma relação bonita com os jogadores que têm se especializado em superar adversidades e brigar até o último minuto. Se ficará ou se sairá meio que tanto faz. O importante é que conseguiu voltar a ser um treinador relevante.
A provável escalação
Mourinho tem uma grande dúvida. Como manejar essa meia hora que, segundo ele, Dybala tem nas pernas para a final? Pode colocá-lo desde o início e tirá-lo no intervalo ou fazer o contrário. Ou deixá-lo para os últimos 30 minutos mesmo. Caso ele não comece jogando, o candidato mais provável para completar o trio ofensivo com Lorenzo Pellegrini e Tammy Abraham é Stephen El Shaarawy, um pouco mais veloz e agudo que o argentino. O português parece ter gostado de Bryan Cristante como zagueiro porque continuou utilizando-o no setor após o retorno de Chris Smalling. O zagueiro inglês voltou a ser titular nas últimas rodadas da Serie A e a expectativa é que forme um trio de zaga puro com Gianluca Mancini e Ibañez, com Cristante ao lado de Nemanja Matic na linha central. Zeki Çelik e Leonardo Spinazolla dão força pelas laterais.