Resistência e geografia peculiar: Conheça o Bodo/Glimt, sensação da Liga Europa
Após eliminar Olympiacos e Lazio, clube norueguês faz semifinal contra o Tottenham

Quem tem acompanhado a Liga Europa na atual temporada certamente se deparou com um “intruso” de nome curioso entre os semifinalistas. Estamos falando do modesto e já histórico Bodo/Glimt, da Noruega, que medirá forças contra o Tottenham em busca de uma vaga na decisão continental.
Nono colocado na fase de liga do torneio, o Bodo/Glimt passou pelo Twente no playoff com um 6 a 4 no agregado. Até aí, nada de muito anormal, já que o time neerlandês não é considerado um grande clube em seu país e muito menos a nível internacional. As façanhas norueguesas, no entanto, começariam a partir das oitavas de final.
Com um 3 a 0 contundente e incontestável, o Bodo bateu o Olympiacos em casa e encaminhou sua classificação — a derrota por 2 a 1 na Grécia só confirmou a passagem de fase. O adversário das quartas? A tradicional Lazio, bicampeã italiana e campeã da Supercopa da Uefa.
E mesmo azarões no confronto, não é que os noruegueses despacharam a equipe biancoceleste? Em pleno Estádio Olímpico de Roma, o time visitante bateu os donos da casa nos pênaltis, após empate por 3 a 3 no agregado.
Mas afinal de contas, o que o Bodo/Glimt representa na Noruega? Qual é a história do clube e quais são seus principais feitos? Abaixo, a Trivela respondeu esses e outros questionamentos relacionados à grande surpresa da Liga Europa 2024/25.
Fundação do clube e geografia peculiar da cidade

Fundado em 19 de setembro de 1916 na cidade de Bodo, o Fotballklubben Bodo/Glimt nunca foi um clube financeiramente poderoso. Pelo contrário. Seu plantel é composto por jogadores da base e contratações locais — sejam oportunidades de mercado ou jovens (indicados/analisados pelo scout) com potencial de revenda.
Dentre as muitas curiosidades desse clube que já entrou para a história da Liga Europa, está a sua localização geográfica peculiar: eles jogam numa das cidades mais setentrionais do futebol europeu.
Bodo tem pouco mais de 50 mil habitantes e fica situada na extremidade de uma península que constitui a margem norte do fiorde Saltfjorden — grande entrada de mar entre montanhas rochosas —, na costa atlântica, a 80 km a norte do Círculo Polar Ártico.
No inverno, Bodo vive em escuridão quase que permanente. Durante dezembro e janeiro, o sol mal nasce no horizonte. Em contrapartida, no verão, o fenômeno “sol da meia-noite” se manifesta. O que isso significa? Que o sol permanece visível acima do horizonte por 24 horas consecutivas, sendo possível jogar uma partida de futebol à 1h da manhã, em plena luz do dia.
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Dificuldade de logística e preconceito
O Bodo/Glimt já sofreu muito preconceito por conta de sua localização. Um exemplo claro disso foi o clube só ter estreado na primeira divisão em 1977. A Federação Norueguesa de Futebol barrou a entrada de times do norte até 1971, sob o argumento de serem pouco competitivos em relação a equipes do sul, além de alegar dificuldades logísticas para realização das partidas.
Somente em 1972 os clubes do norte foram autorizados a competir pela promoção para a elite. E quando finalmente conquistaram esse direito, tiveram que superar uma nova armadilha imposta pelos cartolas da federação: enquanto os times do sul eram promovidos diretamente, os do norte — mesmo que ficassem à frente na tabela — tinham que disputar um playoff extra.
Em 1975, o Bodo venceu o título da Copa da Noruega como um time da segunda divisão — foi o primeiro troféu nacional para um clube do norte. No entanto, mesmo tendo alcançado o feito, a equipe não foi autorizada a ascender diretamente para a primeira divisão — precisou jogar um playoff e acabou derrotado.
Enfim promovido em 1976, o Glimt surpreendeu o país com um segundo lugar logo em sua primeira temporada na elite (1977). Ali, a instituição mostrou que o norte podia bater de frente e competir ao mesmo nível que o sul.
Do rebaixamento aos títulos: a reconstrução do Bodo/Glimt

O ano de 2017 representou uma verdadeira virada de chave no Bodo/Glimt. Rebaixado para a segunda divisão, o clube decidiu se reorganizar e voltar mais forte, com projeto estruturado e ambições bem definidas. Sua refundação baseou-se em dois pilares: sustentabilidade e desenvolvimento.
A ideia da diretoria era construir um modelo economicamente viável, com jovialidade promissora e raízes comunitárias. Como conseguiram isso? Com o seguinte ciclo: observar atentamente os talentos locais no mercado e pincelá-los, desenvolver esses talentos (além das joias da base) e vendê-los a bons preços, gerando recursos para reinvestimento.
Da equipe psicológica, passando pela postura no mercado, até os métodos de treinamento: o Bodo se profissionalizou em todas as áreas e colheu o sucesso. Em 2020, conquistou seu primeiro título de Campeonato Norueguês em 104 anos de história. E fez isso de maneira invicta, com 19 vitórias em 23 partidas e estabelecendo um recorde de gols na liga.
No ano seguinte, a equipe teve sucesso na defesa do título e ergueu novamente o troféu. E não parou de ganhar. O Glimt empilhou mais dois canecos e se consolidou como um dos clubes mais respeitados da Noruega.
Mais do que isso, se tornou um símbolo de orgulho e resistência para uma cidade e região historicamente marginalizada pelo futebol norueguês. Abaixo, confira os principais feitos da instituição:
Títulos e feitos da história do Bodo/Glimt
- 4x campeão do Campeonato Norueguês (2020, 2021, 2023 e 2024)
- 2x campeão da Copa da Noruega (1975 e 1993)
- Semifinalista da Liga Europa — derrotou times como Braga, Porto, Besiktas, Olympiacos e Lazio
- Goleou a Roma de José Mourinho por 6 a 1 na Conference League 2021/22
Tottenham será colocado à prova no alçapão norueguês

Além dos já citados acima, outro segredo do sucesso do Bodo/Glimt é seu estádio. A equipe é muito forte jogando em casa. Inaugurado em 1966, o Aspmyra Stadion passou por várias reformas e ampliações ao longo dos anos, e hoje tem capacidade para 8.270 espectadores.
Originalmente, o Aspmyra foi projetado como um estádio multiuso com pista de atletismo. Todavia, com o tempo, passou a ser dedicado ao futebol. O estádio recebeu melhorias significativas entre 1999 e 2001, incluindo a construção de novas arquibancadas e a instalação de iluminação artificial, permitindo que fosse aprovado para partidas da Uefa.
Viagem difícil, clima difícil, bom público e time sonhando alto: é isso o que o Tottenham terá de enfrentar quando for a Bodo. Antes disso, porém, a equipe londrina recebe o Bodo/Glimt na capital inglesa. Quem avançar, enfrentará o vencedor de Manchester United e Athletic Bilbao.
Semifinal da Liga Europa (ida e volta)
- Tottenham x Bodo/Glimt — Tottenham Hotspur Stadium — quinta-feira, 1 de maio, às 16h (horário de Brasília)
- Bodo/Glimt x Tottenham — Aspmyra Stadion — quinta-feira, 8 de maio, às 16h (horário de Brasília)