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A Roma teve mais uma bonita campanha na Europa, mesmo sem título e com futuro incerto

Se foi a última caminhada com José Mourinho, com futuro incerto, pelo menos a Roma a fez valer a pena

Se foi a última jornada, que faça valer a pena, e a Roma o fez, apesar de não ter conseguido conquistar o título da Liga Europa nesta quarta-feira. A campanha não salvou uma temporada de muita irregularidade no Campeonato Italiano. Não rendeu título e nem vaga na Champions League, mas serviu para aprofundar um pouco mais a história bonita que foi construída nos últimos dois anos sob o comando de José Mourinho e que talvez esteja prestes a chegar ao fim.

A Roma não é um clube muito rico, mas está estabelecida no pelotão de frente da Serie A. Às vezes perto do topo, com nove vice-campeonatos desde o scudetto de 2000/01, às vezes mais longe. Nos últimos anos, embora esse grupo tenha ficado mais embolado com a decadência da Juventus, esteve mais longe. Esta será a quinta campanha consecutiva fora do G4. Desde a última em 2017/18, quando também ficou entre os quatro primeiros da Champions League, tem pouco do que se orgulhar nas competições de mata-mata.

Teve uma semifinal de Liga Europa, na qual foi inapelavelmente goleada pelo Manchester United, uma oitavas de final de Champions League, derrotada pelo Porto, e algumas quartas de final da Copa da Itália. A história começou a mudar com a chegada de José Mourinho, que emendou a segunda final europeia consecutiva, e a necessidade de fazê-lo com mais frequência ficou clara nas imensas (e justificáveis) comemorações do título da Conference League.

Não importava se era a terceira competição europeia em importância. A Roma estava sedenta e, principalmente, o que importa é a jornada. E Mourinho, em parte pelo seu estilo de jogo, proporciona caminhadas emocionantes, acirradas, nervosas, tensas, que, quando dão certo, geram enorme satisfação. Quando quase dão certo, satisfação menor, mas ainda houve momentos, como a vitória sobre o Feyenoord na prorrogação, que ficarão marcados na memória.

Esta é a hora em que dois fios precisam ser amarrados porque o que também levou a Roma a tanto sofrimento nos últimos confrontos da Liga Europa é a falta de profundidade em seu elenco, o que ajuda a explicar por que não conseguiu acompanhar a briga por vaga na Champions League na Serie A. Mourinho disse, com orgulho, que o seu time estava morto depois da derrota para o Sevilla e tem batido com frequência na tecla de que acima de tudo o importante é voltar para casa sabendo que derramou até a última gota de suor.

Isso é verdade, mas cada palavra que ele diz tem um propósito, e nesse caso é expressar que seus jogadores estão sendo levados ao limite porque ele administra recursos restritos. É difícil discordar porque faz semanas que os problemas físicos fazem parte do cotidiano da Roma. A condição de Wijnaldum nunca voltou ao ápice, depois da séria lesão no começo da temporada. Desde o começo de abril, Dybala não passou mais de meia hora em uma partida da liga italiana, preservado para dar tiros curtos no mata-mata. Houve uma escassez de zagueiros que levou Bryan Cristante a ser improvisado no trio de zaga.

Enquanto avançava na Liga Europa, a Roma simplesmente não conseguiu manter o ritmo no Campeonato Italiano. A última vitória foi em 16 de abril, sobre a Udinese, pouco depois do começo das quartas. São quatro empates e três derrotas desde então, o que deixa Mourinho em uma encruzilhada: ele claramente gosta do clube, conseguiu construir um bom ambiente, o elenco responde às suas táticas de motivação, mas também é um profissional ambicioso que quer condições melhores para competir.

Foi o que disse depois da final. Não abriu o jogo sobre o seu futuro e, se reforçou que não foi procurado por outro clube e ainda tem contato por um ano, também deixou claro o que precisa para permanecer. “Meus jogadores merecem mais e eu também mereço mais. Quero lutar por mais. Estou um pouco cansado de ser técnico, chefe de comunicações, o rosto que tem que dizer que fomos roubados. Quero permanecer com condições para dar mais”, disse.

Coincidência ou não, a declaração saiu no dia em que os rumores de que irá ao PSG ficaram mais fortes. Se for verdade, é até difícil imaginar que haja algo que a Roma possa oferecer que se equipare ao que ele terá à disposição em Paris. Com exceção do carinho que recebeu desde os primeiros dias na capital italiana. De qualquer maneira, no momento, os futuros do português e do projeto esportivo da Roma são incertos.

Pelo menos, eles puderam compartilhar mais uma bonita história. A Roma não chegava a uma final europeia desde o começo da década de noventa. Disputou duas seguidas. Emplacou grandes vitórias contra Red Bull Salzburg e Real Sociedad e emocionantes classificações contra Feyenoord e Bayer Leverkusen, antes de uma final acirrada (e muito longa) com o Rei da Liga Europa. Não deveria precisar de um técnico tão grande para buscar campanhas como essa. Sua torcida merece tê-las com mais frequência. Esse talvez seja o legado mais importante que Mourinho pode deixar.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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