Champions League

Suárez, antes da volta a Anfield: “Os torcedores do Liverpool viam minha atitude e é por isso que existia aquele amor mútuo entre nós. Era inacreditável”

Antes do Liverpool x Atlético de Madrid em Anfield, Luis Suárez falou sobre sua relação com o antigo clube

Liverpool e Atlético de Madrid se enfrentarão sob grandes expectativas nesta quarta-feira, pela Champions League, depois do jogaço no embate anterior no Wanda Metropolitano. E o reencontro em Anfield terá um gosto especial a Luis Suárez, mais uma vez de volta ao estádio onde foi tão idolatrado. O atacante já esteve por lá em 2019, quando amargou com o Barcelona a histórica reviravolta dos Reds com os 4 a 0 na semifinal da Champions. Independentemente disso, o carinho deve voltar a se repetir, com a consideração que os torcedores ingleses possuem pela entrega do Pistoleiro em seus anos vestindo vermelho.

Nesta semana, às vésperas do jogo, Suárez concedeu uma entrevista exclusiva para o site da Uefa. Nela, relembrou principalmente sua trajetória no Liverpool e sua relação com os torcedores. Abaixo, traduzimos as respostas do uruguaio:

A chegada ao Liverpool e a atmosfera em Anfield

Quando me juntei ao Liverpool, eu me lembrei que esse era um time com o qual eu jogava no PlayStation. Qualquer jogador de futebol gostaria de atuar lá – qualquer criança, qualquer adolescente. Foi incrível ver a atmosfera em Anfield. Assistir aos jogos da Premier League era incrível, assim como a oportunidade de realizar um dos meus sonhos, estar presente, sentir o amor das pessoas desde o primeiro minuto.

O respeito junto aos torcedores

Acho que, cada vez que um jogador entra em campo, ele precisa perceber que tem um compromisso com o clube que representa. Então, os torcedores veem aquela paixão, aquela ambição pelo sucesso, que você luta por cada bola. Essa sempre foi minha maneira de fazer as coisas. Você pode ter jogos bons e ruins. Você pode jogar bem ou fazer seu pior jogo, mas se eles observarem seu comprometimento, que você nunca desiste, então apreciam isso. Eles puderam ver meu compromisso, meu desejo para que o Liverpool continuasse fazendo parte da elite do futebol. É verdade que passamos alguns anos em que não estávamos onde gostaríamos, mas eles viam minha atitude, e é por isso que havia aquele relacionamento, aquele amor entre nós – isso era mútuo entre eu e os torcedores. Era inacreditável e me dava uma motivação extra para jogar em Anfield.

You'll Never Walk Alone

A letra de You'll Never Walk Alone diz tudo. Você pode ter um jogo ruim, outro jogo ruim depois disso, mas eles nunca vão parar de acreditar em você. Não vão te deixar caminhar sozinho, como dizem. As pessoas não vão vaiar você se você perder uma bola. Elas continuarão acreditando em você, porque você está jogando pelo Liverpool. E essa confiança que as pessoas te davam era enorme. Alguns jogadores custaram caro e não tiveram muito sucesso, mas, quando entravam em campo, eles sentiam aquele amor das pessoas. Isso é incrível e te dá confiança.

O impacto de Brendan Rodgers

Acho que eu já estava no Liverpool por um ano e meio quando Brendan chegou, em julho de 2012. Naquela época, tive a oportunidade de assinar com outros clubes, mas ele me ligou quando eu estava de férias no Uruguai para dizer que tinha outra forma de pensar, que queria mudar o clube e sua filosofia, que queria o clube de volta na Champions e lutando para ganhar grandes títulos, que faria o time apresentar um grande futebol. Ele me pediu para acreditar e confiar nele, eu curti aquela conversa. Gostei da sua convicção, da filosofia que queria implementar no clube, então falei com meu empresário e disse que queria ficar, que queria outra oportunidade de ter sucesso no Liverpool. O primeiro ano não foi tão bom quanto queríamos, mas as ideias já estavam claras.

A decisão de ficar para 2013/14

Tive algumas conversas com o treinador, bem como com Gerrard. Foi ele quem me convenceu. Eu disse que queria seguir tendo sucesso, que queria jogar a Champions. Então ele me disse: ‘Se nesse ano continuarmos melhorando e você estiver no nível que precisa estar, na próxima temporada você poderá jogar pelo Bayern, pelo Real Madrid, pelo Barcelona ou qualquer clube que desejar. Você terá a chance de escolher, mas fique por mais um ano'. Eu me lembro daquela conversa com Gerrard e eu me lembro de tudo o que o técnico me disse. Ele me mandou mensagens como ‘fique por outro ano, apenas tente'. E, bem, naquele ano estivemos perto de ganhar a Premier League. Aquilo graças ao esforço do time, obviamente, mas especialmente pela filosofia e convicção que Brendan Rodgers nos transmitiu como técnico.

As lendas do clube

Apesar de Fernando Torres ter saído a esta altura, e por mais que tivesse sido fantástico jogar com ele, só de compartilhar os vestiários com jogadores com Gerrard, Martin Skrtel, Danny Agger, Pepe Reina e Jamie Carragher, lendas do clube que conquistaram grandes coisas, era inacreditável para mim.

A evolução de Jordan Henderson

Acho que ele é um jogador que evoluiu muito. Quando ele chegou ao Liverpool, veio com o rótulo de quem custou muito. Era jovem, inglês, vindo do Sunderland. Isso pode ter colocado alguma pressão sobre ele, mas, à medida que sua confiança cresceu com o time, ele absorveu muitas coisas de Gerrard e de jogadores experientes como Carragher, de mim. Acho que, como capitão, ele amadureceu muito. Ao longo de sua carreira, ele ajudou o clube a crescer, com sua personalidade e jogando um futebol melhor. É um modelo para o futebol inglês. Ganhar um título da Premier League pelo Liverpool deve ter sido fantástico, e isso o fez maior do que já era.

A derrota no jogo anterior

Acho que, neste tipo de jogo, contra grandes equipes e na Champions League, os detalhes podem ir contra você. Cada pequeno detalhe, o menor dos erros, um milissegundo em que você esteja distraído… na Champions League, você paga por isso. É óbvio. Se do primeiro ao último apito você não joga com convicção, com personalidade e com desejo de vencer, se você se distrair num jogo de Champions, paga por isso. Acho que isso aconteceu contra o Liverpool. Começamos muito bem, mas eles são fortes, inteligentes e muito experientes, estiveram na frente durante os primeiros minutos, até que reagimos. No segundo tempo, depois da expulsão de Griezmann, sentimos um pouco termos um homem a menos, mas continuamos jogando com o mesmo padrão. O ritmo era muito forte e eles começaram a nos atacar um pouco mais, até o pênalti.

Como será o reencontro

Logicamente, cada equipe tem seus pontos fortes e fracos. Sabemos como o Liverpool é bom nos contra-ataques, quando eles dão a bola para seus rápidos atacantes. Sabemos que eles têm alguns pontos fracos que podemos explorar a nosso favor e devemos explorá-los novamente no próximo jogo. Temos que prestar atenção porque, além de usar essas qualidades, eles terão um jogador extra, que é a torcida em Anfield, e isso torna as coisas mais difíceis para a gente.

A relação com Diego Simeone

O treinador desempenha um papel importante na confiança do jogador. E, quando ele vê que o jogador não tem muita confiança durante o treino ou o próprio jogo, ele vai falar com você e te convence que você é capaz de se sair bem, dizendo: ‘Há uma razão para você jogar pelo Atlético. O último jogo não foi nada, você tem que continuar tentando'. É quando o jogador recupera a confiança. Acontece muito com vários jogadores aqui, que fazem alguns jogos ruins e então falam com ele, e voltam a jogar de forma fantástica no próximo jogo porque o treinador os persuadiu. Ele tem muita paixão pelo futebol e foi jogador, então sabe do que nós precisamos nestes momentos duros. É por isso que ele é um dos melhores treinadores do mundo. Ele tem um ótimo histórico no Atlético. Isso é por causa de sua personalidade e de sua forma de viver o futebol – e, claro, também de seu conhecimento técnico e sabedoria.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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