O Tottenham batizou seu novo estádio na Champions com uma vitória de ares heroicos sobre o City

A Liga dos Campeões guardou um confronto entre inimigos íntimos nestas quartas de final. Tottenham e Manchester City se encararam no novo estádio dos Spurs conhecendo muito bem as virtudes inimigas. Como se esperava, o fôlego se tornou fundamental para acompanhar a voltagem altíssima da batalha. Todavia, os ataques tiveram dificuldades contra defesas bem postadas e os lances de heroísmo acabaram pendendo aos londrinos. Ainda no primeiro tempo, Lloris defendeu um pênalti que poderia mudar os rumos do embate. Já na etapa complementar, quando a lesão de Kane parecia sufocar a torcida da casa, Son apareceu com muita vontade para desafogar as angústias e assegurar o enorme triunfo por 1 a 0. Apesar das grandes dúvidas sobre a volta do centroavante na próxima semana, quando acontece o reencontro em Manchester, o time de Mauricio Pochettino deu um grande passo na Champions.
[foo_related_posts]Antes que a bola rolasse, o Tottenham entrou em campo com um time de presença física atrás e qualidade técnica na frente. Harry Winks foi o escolhido para acompanhar Moussa Sissoko na proteção ao meio-campo. Mais à frente, liberdade para o trio formado por Cristian Eriksen, Dele Alli e Son Heung-min, municiando Harry Kane. Pelo Manchester City, Pep Guardiola veio com Riyad Mahrez entre as novidades mais à frente, suplantando o lesionado Bernardo Silva, quando Leroy Sané parecia o mais apto à posição. O argelino acompanhava por Raheem Sterling, David Silva e Sergio Agüero. Fernandinho e Gündogan fechavam o meio-campo, com Kevin de Bruyne servindo apenas de opção no banco. E um reforço significativo aos Spurs era o seu novo estádio, utilizado pela primeira vez na Champions. A torcida fez jus à ocasião, criando uma atmosfera vibrante e realizando uma bonita festa na recepção aos times.
Seria um início de jogo extremamente intenso, condizente ao estilo de ambas as equipes. David Silva deu um susto batendo pra fora logo no primeiro minuto, enquanto o Tottenham não demorou a responder com um tiro de Dele Alli por cima da meta de Ederson. E o lance capital aconteceu aos nove. Sterling poderia ter feito melhor, chutando prensado quando tinha a opção de Mahrez ao lado. Em teoria, escanteio. No entanto, o árbitro Bjorn Kuipers recebeu o aviso da central e foi revisar a jogada no vídeo. Observou que a bola bateu no braço aberto de Danny Rose antes de sair e anotou o pênalti. Na cobrança, porém, Agüero telegrafou o chute. Hugo Lloris acertou o canto e realizou uma grande defesa, espalmando o arremate a meia altura.
Ligeiramente melhor no início do primeiro tempo, o Manchester City encontrava muitas dificuldades diante da marcação imposta pelo Tottenham. Os londrinos apertavam a saída de bola e davam pouquíssimos espaços aos defensores celestes. E quando os visitantes passavam do meio-campo, não encontravam caminhos para invadir a área. Sissoko e Winks tinham papéis importantes para trancar a cabeça de área, impondo um jogo mais duro no duelo. A criação dos Citizens não funcionava, com David Silva jogando em uma pouco usual função mais centralizado e Agüero encaixotado. Além disso, Fernandinho abriu a caixa de ferramentas.
Aos poucos, o Tottenham começou a se soltar mais no ataque. Um grande aviso aconteceu aos 23 minutos. Em lance no qual o árbitro deixou seguir, Kane bateu à queima-roupa e Ederson realizou uma excelente defesa. A segurança do goleiro, aliás, era essencial ao City – sob as traves e na saída de bola. Tanto é que ele evitou qualquer sobressalto quando os Spurs foram superiores, nos minutos anteriores ao intervalo. Os anfitriões insistiam, mas viam os celestes se safarem. Ainda assim, até pela qualidade dos times, a falta de chances mais claras faziam a partida deixar a desejar. Por vezes, até pendeu à rispidez, com entradas duras. Fernandinho poderia ter se complicado ao acertar o cotovelo em Kane, mas o entrevero passou batido pela arbitragem e sequer recebeu o aviso do VAR.
Logo no início do segundo tempo, o Manchester City parecia disposto a mudar o cenário. Sterling recebeu livre e bateu cruzado, forçando uma boa defesa de Lloris. A resposta do Tottenham veio em jogadas que tentaram pressionar Ederson, mas o goleiro abafou. Apesar de sentir dores por um choque com Nicolás Otamendi, o brasileiro resolveu ficar em campo. E, do outro lado, foram os londrinos que acabaram lamentando profundamente aos dez minutos. Em uma disputa na lateral, Kane recebeu um pisão involuntário de Fabian Delph e lesionou o tornozelo. Saiu diretamente para os vestiários, preocupando por outras contusões sofridas no local. Lucas Moura entrou em seu lugar.
O Tottenham pareceu sentir a ausência de seu artilheiro e viu o Manchester City ditar o ritmo na sequência do segundo tempo. A defesa, ao menos, compensava com enorme solidez. Quando David Silva teve espaço, Lloris saiu em seus pés para barrá-lo, em jogada logo parada por impedimento. Gabriel Jesus entrou no lugar do apagado Agüero, sem mudar muito as perspectivas de sua equipe. E apesar do domínio, os Citizens não escapavam da encaixada marcação dos Spurs, com raras oportunidades para ameaçar a meta adversária.
Do outro lado, o Tottenham ficou um longo período sem atacar, limitado ao enfadonho empate. Entretanto, passou a se soltar um pouco mais e daria o golpe fatal aos 33 minutos. Jogada de raça, com todos os méritos de Son Heung-min. Christian Eriksen deu uma enfiada precisa pela direita e aproveitou a linha de impedimento para deixar o sul-coreano com o caminho aberto dentro da área. A bola ia escapando, mas o camisa 7 evitou a saída pela linha de fundo, fintou Delph e soltou a canhota. Não foi o melhor dos chutes, só que a bola passou por baixo de Ederson e tomou o rumo das redes. Apesar das dúvidas, a arbitragem confirmou a legalidade do tento. Muita festa dos londrinos.
Pouco depois, Pochettino preferiu renovar as forças no meio, com Victor Wanyama no lugar de Winks. Também sacou Dele Alli, que sentiu o pulso, botando Fernando Llorente no ataque. Já Pep Guardiola merece as devidas críticas por demorar demais a mexer no Manchester City, em uma noite de escolhas infelizes. Só aos 44 é que vieram as substituições mais incisivas, com Kevin de Bruyne e Leroy Sané tentando salvar a lavoura, nas vagas de David Silva e Mahrez. Apesar do esboço de pressão, Lloris se manteve soberano na área e os anfitriões saíram com boa vantagem no duelo.
É meio inescapável ficar ansioso para saber se Kane estará ou não no jogo de volta, embora sua saída imediata aos vestiários não deixe grandes perspectivas. Todavia, o gol de Son permite que esta seja a preocupação principal do Tottenham, e não necessariamente ter que buscar a vitória no Estádio Etihad. Se não foi a melhor apresentação ofensiva dos Spurs, Mauricio Pochettino se valeu de dois de seus protagonistas para encurtar o caminho, bem como encaixou perfeitamente seu sistema defensivo. Pior ao Manchester City, em uma noite pouco inspirada de seus melhores jogadores e até mesmo de Pep Guardiola. O fantasma vivido contra o Liverpool na temporada passada certamente volta à tona, embora o cenário seja menos adverso. O comportamento de um time tão forte é que deixou a desejar, esbarrando na eficácia dos adversários. E, de certa forma, a sorte premiou os londrinos com uma vitória mágica em seu novo estádio.