Champions League

O Salzburg teve um ótimo plano de jogo e incomodou o Bayern, que saiu aliviado com o empate no final

Superior durante o primeiro tempo, o Salzburg abriu o placar e segurava o empate na etapa final, mas um gol de Coman aos 45 do 2° tempo salvou o Bayern da derrota

É muito difícil imaginar o Bayern de Munique fazendo duas partidas ruins de maneira consecutiva. A derrota para o Bochum no final de semana, porém, serviu de motivo a mais para o Red Bull Salzburg acreditar numa surpresa, pelas oitavas de final da Champions League. E o plano de jogo agressivo dos Touros Vermelhos se mostrou ideal para atrapalhar a vida dos bávaros, que não encontraram soluções imediatas aos problemas e tiveram uma atuação abaixo das expectativas na Red Bull Arena. O primeiro tempo teve o placar aberto pelo Salzburg, superior e muito mais consciente de suas virtudes. O Bayern estava exposto e pouco criava no ataque. Já na segunda etapa, o abafa dos bávaros cresceu. Os austríacos não davam tantas brechas e, embora atacassem menos, defendiam-se com muito vigor, contando com boas defesas de seu goleiro. Foi só aos 45 do segundo tempo que Kingsley Coman, o melhor do lado alemão, salvou o empate por 1 a 1. A sensação final ao Salzburg era amarga, mas o time sai com mais moral do confronto, apesar da parada duríssima na Allianz Arena.

O Red Bull Salzburg vinha desenhado num 4-3-1-2 por Matthias Jaissle, com o talento concentrado principalmente em seu trio ofensivo. Brenden Aaronson fazia a ligação, com Karim Adeyemi e Noah Okafor mais soltos no ataque. O meio ainda contava com os bons Mohamed Camara e Nicolás Capaldo. Já o Bayern vinha num 3-2-4-1 estipulado por Julian Nagelsmann. Na ausência de Manuel Neuer, Sven Ulreich era o goleiro. A defesa contava com Benjamin Pavard, Niklas Süle e Lucas Hernández, além de Joshua Kimmich e Corentin Tolisso na cabeça de área – com Tolisso mais preso na marcação, além de Pavard e Hernández fechando os lados. O quarteto de meias reunia Serge Gnabry, Thomas Müller, Leroy Sané e Kingsley Coman, com Robert Lewandowski na referência. Não houve encaixe de início.

A proposta de jogo do Red Bull Salzburg ficou clara desde os primeiros minutos, com avanços verticais e boa mobilidade de seus atacantes. A maneira como a marcação do Bayern parecia pouco encaixada permitia que os austríacos incomodassem desde já. Contudo, os alemães possuíam mais posse e criariam a primeira oportunidade aos dez minutos. Gnabry rabiscou pela direita e tentou o chute cruzado, muito bem espalmado pelo goleiro Philipp Köhn. Outra notícia ruim para os Touros Vermelhos viria na sequência, quando Okafor sentiu lesão e precisou ser substituído por Chukwubuike Adamu.

Apesar da saída do atacante, o Red Bull Salzburg não mudou o seu plano de jogo e gerava algumas situações de mano a mano, principalmente quando Adeyemi abria pelas pontas. Também era importante a solidez de sua defesa, que não concedia muitos espaços para o Bayern finalizar. Aos 21 minutos, então, os Touros Vermelhos provocaram a surpresa na Red Bull Arena e balançaram as redes. O gol surgiu num contra-ataque iniciado no campo de defesa. Mohamed Camara lançou e encontrou Adeyemi na direita. O atacante pegou a defesa bávara aberta, avançou em diagonal e deu o passe cruzado. Aaronson aparou a bola e Adamu pegou livre na esquerda, batendo de chapa para vencer Sven Ulreich. Os avisos dados pelo Salzburg se convertiam num merecido gol.

O Bayern de Munique pareceu atordoado nos minutos seguintes. Aaronson quase ampliou aos 24, encarando a marcação e exigindo ótima defesa de Ulreich. O time de Julian Nagelsmann não tinha uma posse de bola tão contínua e apresentava dificuldades na criação. A resposta só veio aos 30, numa batida de Sané para fora. A insistência dos bávaros se tornou um pouco maior na sequência, com a defesa do Red Bull Salzburg sempre atenta e conseguindo travar as finalizações. Quando Kingsley Coman conseguiu cabecear, Köhn defendeu sem dificuldades. E não que os Touros Vermelhos se contivessem ao campo de defesa. As escapadas do time demandavam muita atenção dos adversários, quase sempre com Adeyemi gerando preocupações no um contra um. Nos acréscimos, a arbitragem chegou a revisar um possível pênalti sobre o atacante, mas não marcou.

Chikwubuike Adamu. do Salzburg (DANIEL KRUG/APA/AFP via Getty Images/One Football)

O Bayern de Munique tentou se mostrar mais ligado na volta para o segundo tempo e acelerava os passes. Porém, o Salzburg seguia à espreita e, aos quatro minutos, Nicolas Seiwald chutou para defesa segura de Ulreich. O destaque nesses primeiros movimentos, ainda assim, era o excelente posicionamento dos Touros Vermelhos atrás. Não davam respiro nem mesmo ao apagado Lewandowski. Faltava apenas encaixar os contragolpes, com algumas bolas perdidas no meio da transição.

Com o passar dos minutos, o Bayern aumentou a sua pressão ofensiva. A posse de bola era dominada pelos bávaros, que empurravam o Salzburg para trás, mas ainda tinham problemas para encontrar uma brecha. As jogadas quase sempre partiam da esquerda, com Coman, mas não tinham continuidade na área e acabavam bloqueadas – até Thomas Müller, sem querer, fez isso. Oumar Solet era uma muralha no miolo de zaga do Salzburg. O goleiro Köhn só voltou a fazer uma defesa com 19 minutos, e agarrou sem problemas o tiro de Sané. O arqueiro teria mais dificuldades aos 27, quando Coman passou pela marcação na esquerda e, mesmo com pouco ângulo, exigiu uma defesa difícil para escanteio.

O Red Bull Salzburg raras vezes saía ao ataque. Quando conseguiu um escanteio, rifado pela defesa, correu o risco de tomar o empate num contra-ataque do Bayern aos 31. Sané chutou para mais uma boa defesa de Köhn, que via a bola ficar viva na pequena área, mas ainda conseguiu segurar o chute nos pés de Gnabry. A primeira mudança de Nagelsmann só aconteceu depois disso, sinal claro da escassez de opções no banco, com Eric-Maxim Choupo Moting na vaga de Gnabry. Marcel Sabitzer logo suplantou Corentin Tolisso, enquanto Nicolas Seiwald deu lugar para Luka Sucic no Salzburg.

Neste momento, o Red Bull Salzburg parecia mais disposto a matar o jogo. O Bayern se salvaria do pior num contra-ataque de três contra dois, aos 35. Adeyemi forçou uma defesaça de Ulreich com o pé e, no rebote, Adamu chutou com a meta aberta, mas Pavard conseguiu afastar na pequena área. Tal lance pareceu conter um pouco mais os bávaros, que ameaçariam outra vez aos 40, num cruzamento fechado de Coman que ninguém desviou e passou ao lado da trave. Adeyemi sairia neste momento, muito aplaudido.

Kingsley Coman, do Bayern (KERSTIN JOENSSON/AFP via Getty Images/One Football)

Por fim, a insistência do Bayern encontrou uma raríssima fresta para o empate aos 45. Pavard cruzou da direita e Thomas Müller deu uma casquinha na bola, de cabeça, na meia-lua. Coman apareceu livre no segundo pau e se antecipou à marcação para definir de primeira, no canto. Se tinha alguém que merecia o gol na equipe, era o francês. Nos acréscimos, os alemães até pareciam mais inteiros para uma virada. Todavia, se um gol demorou 90 minutos, em quatro não daria para fazer muito mais. No máximo, teriam um bom cruzamento paralisado por falta sobre o goleiro Köhn.

Apesar do empate cedido no final, o Red Bull Salzburg merece elogios. Os Touros Vermelhos vinham de boas campanhas nas duas edições passadas da Champions e incomodaram o próprio Bayern em 2020/21, mas sem vencer. O time atual sofreu diversas mudanças e, de certa maneira, até parecia menos consistente que os anteriores, por encarar um grupo mais acessível. Quando chegou a inédita participação nos mata-matas, porém, o Salzburg provou o seu valor. Teve um plano de jogo ótimo e bons talentos, sobretudo Adeyemi na frente, mas também Solet e Camara na marcação. Entretanto, diante do abafa adversário, o empate cedido no fim veio de maneira dolorosa.

Já o Bayern deixa um pouco mais claro que a fase em 2022 não o favorece. Há desfalques importantes, mas a falta de liga do time parece bem mais problemática agora, até pelo nível coletivo impressionante apresentado nos dois últimos anos. A qualidade individual de Coman foi o que salvou, diante das poucas ideias contra um rival muito bem postado. Mas fica aparente como o time precisará melhorar para o reencontro em Munique, mesmo que o favoritismo para a classificação se mantenha.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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