O Milan teve muita solidez defensiva, segurou a insistência do Napoli e reavivou sua história na Champions com uma senhora classificação
O Milan construiu uma importante vantagem no primeiro tempo e conteve o assédio constante do Napoli no ataque, com direito a pênalti defendido por Maignan, até que o empate saísse tarde demais aos celestes

O Napoli se permitiu sonhar na Champions League. Fez a melhor campanha de sua história no torneio e, com o Scudetto encaminhado, parecia forte o suficiente para sonhar com a Orelhuda. O momento decisivo no torneio continental, porém, se combina com a pior fase do time de Luciano Spalletti nos últimos meses. Não em postura, mas em efetividade. E o sonho dos celestes esbarrou num Milan gigante, digno de sua história na Champions. O elenco de Stefano Pioli pode não ter os craques de outros tempos, mas soube encarar um desafio deste tamanho nas quartas de final europeias. Depois da vitória por 1 a 0 no San Siro, os visitantes retornaram com o empate por 1 a 1 do Estádio Diego Armando Maradona. A defesa milanista teve uma atuação monstruosa, Rafael Leão de novo implodiu a zaga adversária nos contragolpes e Mike Maignan foi até mais heroico, ao pegar o pênalti de Khvicha Kvaratskhelia na reta final. O gol de Victor Osimhen, no último minuto, veio tarde demais para uma reviravolta. O resultado ratificou a passagem de um Milan mais decisivo que o Napoli.
De certa maneira, o roteiro da partida de ida não mudou tanto nessa volta. O Napoli teve volume de jogo desde o primeiro tempo, mas esbarrava num sistema defensivo muito bem postado do Milan e tomava sustos nos contragolpes. O gol poderia ter vindo antes, com um pênalti de Olivier Giroud que Alex Meret defendeu. O goleiro salvaria outra bola excelente contra o centroavante. Mais uma similaridade foi a bronca com a arbitragem, na reclamação de um pênalti não marcado sobre Hirving Lozano. E se a situação dos napolitanos já parecia incômoda, com as lesões sofridas por Matteo Politano e Mário Rui, piorou numa jogadaça de Rafael Leão que entregou o tento a Giroud.
A segunda etapa voltou com o Napoli ainda mais aceso. Conseguia ser até mais perigoso, especialmente nas investidas de Kvaratskhelia. Entretanto, o passar dos minutos pareciam abalar a confiança dos celestes. A zaga do Milan afastava seguidos cruzamentos e a criação de jogadas dos anfitriões era bastante limitada. Isso até que um penal também colocasse o Napoli na marca da cal, aos 37 minutos. Maignan apareceu para um milagre, ao espalmar o tiro de Kvaratskhelia. Restavam mais de dez minutos no relógio e os napolitanos não se entregaram, mas o gol de empate de Osimhen surgiu somente no último minuto, sem evitar a lamentação. Os milanistas avançam às semifinais com autoridade. À espera, quem sabe, de um dérbi titânico contra a Internazionale.
Escalações
O Napoli tinha desfalques sentidos, com as suspensões de Kim Min-jae e André-Frank Zambo Anguissa. A grande notícia ficava mesmo pela antecipada volta de Victor Osimhen como titular no ataque. Alex Meret abria a formação, com a zaga composta por Giovanni Di Lorenzo, Amir Rrahmani, Juan Jesus e Mário Rui. O meio reunia Tanguy Ndombélé, Stanislav Lobotka e Piotr Zielinski. Na frente, um perigoso trio formado por Matteo Politano, Victor Osimhen e Khvicha Kvaratskhelia. Desta vez, Hirving Lozano e Eljif Elmas ficaram como opções no banco.
O Milan pôde repetir a formação que venceu a partida de ida. Mike Maignan era o primeiro protagonista na escalação, ao proteger a meta. A linha defensiva trazia Davide Calabria, Simon Kjaer, Fikayo Tomori e Theo Hernández. Rade Krunic e Sandro Tonali protegiam a cabeça de área. A ligação ficava a encargo da trinca de meias formada por Brahim Díaz, Ismaël Bennacer e Rafael Leão. Na frente, Olivier Giroud era o homem de referencia.
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Primeiro tempo
Como era de se esperar, pela atmosfera em Nápoles e por aquilo que se viu no primeiro jogo, o Napoli começou em cima. Kvaratskhelia inclusive teria um cartão de visitas sobre Calabria, seu marcador implacável na ida, com uma caneta sobre o capitão rossonero – mas que não teve continuidade, com os espaços fechados pelos visitantes. A pressão se traduziu numa falta cobrada por Mário Rui que a barreira desviou, ainda assim com perigo ao lado da trave, antes de uma sequência de escanteios. Agora dava para apostar bem mais nos cruzamentos, com a presença de Osimhen no meio da área. A defesa milanista era logo testada. Mike Maignan realizou sua primeira defesa aos nove minutos, tranquila, mas depois de um bom avanço individual de Kvara.
O Milan não tinha saída de jogo. Muito porque o Napoli exercia uma pressão sufocante. A recuperação dos celestes era muito rápida, inclusive nos arredores da área, embora o passe final não saísse perfeito. As principais jogadas, assim, surgiam mais por iniciativa individual. Foi desta maneira que Politano cortou para dentro e chutou para fora aos 13. Kvaratskhelia por vezes exagerava nessa individualidade, neutralizado por Kjaer e Calabria em pouco tempo. Já as primeiras escapadas do Milan aconteceram por volta dos 15 minutos, mas sem dar muitos frutos, com uma falta cobrada por Tonali que terminou nos braços de Meret.
Durante 20 minutos, o Milan precisou atuar com máxima resiliência. E a defesa ia muito bem, para travar o assédio constante do Napoli. Politano mais uma vez chutou para fora. Foi então que, mais uma vez, Rafael Leão desequilibrou do outro lado. Num avanço em velocidade, no qual os rossoneri já tocavam a bola na área celeste, o atacante acabou atropelado por Mário Rui depois do passe. O pênalti, contudo, não era garantia de gol. Meret fez toda a diferença para manter as esperanças napolitanas. Giroud bateu com força, mas com pouca precisão O arqueiro acertou o canto e espalmou firme, para manter o placar zerado.
A partida se tornou mais aberta nesse momento. O Napoli não abdicou da postura, mas o Milan encontrava mais espaços. E de novo Meret frustrou Giroud aos 28. O centroavante teve um chute frontal, com espaço na área. O goleiro já estava caindo, mas conseguiu defender com a perna. No rebote, Leão isolou de fora da área. Se por um lado os milanistas subiam, por outro os napolitanos conseguiam acelerar um pouco mais. Mas, numa boa arrancada de Politano, além de Theo Hernández desarmá-lo com perfeição, o ponta se lesionou na pisada. Como se não bastasse, Mário Rui também sentiu na sequência e precisou deixar o campo. Aos 34, Lozano e Mathías Olivera entraram, queimando as duas primeiras substituições dos celestes.
O Napoli continuou no abafa, independentemente das mudanças. E se a arbitragem deixou os celestes insatisfeitos na ida, também deu motivos para questionamentos nessa volta. Numa disputa dentro da área, Rafael Leão deu um carrinho contra Lozano e a bola espirrou para fora. As imagens indicavam que o português pegou primeiro o pé do mexicano. Apesar disso, o VAR não chamou a revisão no monitor. E se a oportunidade não vinha na marca da cal, os napolitanos não eram precisos o suficiente na hora de criar. Impressionava como a zaga milanista prevalecia em todas as bolas.
O nome de Rafael Leão era imperativo na partida. Também porque o Milan necessitava de uma bola para criar problemas, sempre maiores quando o atacante aparecia. Seria ele o protagonista do gol aos 43 minutos. Num contragolpe nascido a partir de um erro de Ndombélé no domínio, Leão arrancou ainda do campo de defesa. Deixou três adversários comendo poeira com suas passadas largas e seus dribles. Mesmo a tentativa de deslocá-lo no jogo de corpo dentro da área não deu certo, quando Rrahmani bateu na massa e se estatelou. Com muito espaço na área, o ponta deu um passe para o lado e entregou o presente para Giroud se redimir. Enfim o centroavante guardou, com a meta escancarada.
O fim da primeira etapa veria o Napoli grogue. Teve uma escapada perigosa num contra-ataque e também um gol anulado de Osimhen por toque no braço. De qualquer forma, eram poucos lances concretos para o volume de jogo que os celestes tiveram em toda a primeira etapa. A defesa do Milan se posicionava muito bem para fechar os espaços e interceptar os lances, se metendo em chutes mais agudos ou passes. Mesmo com seis minutos de acréscimos, os napolitanos não conseguiram uma resposta.
Segundo tempo
O Napoli reiterou sua agressividade na volta para o segundo tempo. Logo no primeiro minuto, os celestes conseguiram a melhor chance na partida até então. Kvaratskhelia conseguiu passar por Calabria na linha de fundo e, mesmo com pouco ângulo, tentou o chute forte. Com Maignan batido, a bola passou zunindo pelo travessão. Apesar desse embalo inicial, os napolitanos voltaram a esbarrar na barreira humana formada pelo Milan ao redor de sua área. Os rossoneri nem conseguiam muitos contra-ataques, mas cada arrancada de Rafael Leão parecia causar um novo pesadelo nos anfitriões.
As melhores jogadas do Napoli dependiam de Kvaratskhelia nesse momento. Aos 12 minutos, o georgiano rabiscou na área e proporcionou uma arte: passou no meio de dois, mas de novo faltou um pouco mais de cuidado na finalização, com uma pancada que subiu demais. Já a primeira mudança do Milan aconteceu aos 14, com Brahim Díaz desgastado dando espaço a Júnior Messias. A insistência, de qualquer forma, era dos napolitanos. Os anfitriões pensavam menos antes de finalizar, algo visto num tiro sem direção de Lozano. E uma postura mais ofensiva do Napoli se reafirmava com Elmas na vaga de Ndombélé. Logo depois, aos 19, mais um susto. Num escanteio dos celestes, Olivera subiu livre e cabeceou torto, para fora.
Com o plano de jogo dando certo, o Milan apenas trocava peças para renovar as energias. Giroud saiu aos 23, para a entrada de Divock Origi. E os lances dos rossoneri voltavam a ficar mais abertos. Leão furou uma acrobacia na área, pouco antes de quase sair um contragolpe dois contra um. O Napoli seguia mais adiantado em campo, com suas principais chegadas garantidas por escanteios. A defesa milanista rifava praticamente todas, soberana no jogo aéreo. Rrahmani conectou uma cabeçada para fora aos 29, sem força e nem precisão. Logo o beque deu lugar a Leo Ostigard, enquanto Giacomo Raspadori suplantou Zielinski.
O Napoli rodava a bola em procura de uma solução. De novo, o que daria a esperança para os celestes foi um pedido de pênalti, enfim marcado. Di Lorenzo tentou o passe na linha de fundo e, no carrinho, a bola bateu no braço aberto de Tomori. Kvaratskhelia cobrou e Maignan sublinhou como faz ainda mais diferença no confronto, ao voar no canto para espalmar. Agora foi um chute com mais jeito que potência, rasteiro, para o milagre essencial do arqueiro aos 37. Depois do abalo no moral napolitano, Rafael Leão deixou o gramado e Alexis Saelemaekers virava uma opção com mais gás para os contragolpes. Logo tentaria a sorte, mas parou em Meret.
Não foi o pênalti perdido que derrubou o Napoli. A equipe seguia com muita valentia no ataque, por uma brecha que fosse, mesmo que ficasse claro como o pênalti tinha um custo alto. O Milan também perdeu concentração e fôlego, sem a mesma firmeza atrás. As chances voltaram a se suceder depois dos 44. Primeiro, num escanteio, Olivera cabeceou e desviou para fora. Depois, ninguém triscou o cruzamento de Kvaratskhelia e Maignan teve trabalho para rebater. Por fim, o gol de empate saiu aos 48: na sequência de um escanteio cobrado por Raspadori, Osimhen finalmente se impôs no alto e cabeceou nas redes. Mas já não havia tempo. Um minuto depois, o apito derradeiro desatou a comemoração dos milanistas.
O Milan avança na Champions com motivos para estufar o peito. Depois da goleada na Serie A, conseguiu segurar o Napoli no torneio continental. Os celestes tiveram seus méritos no confronto, por postura e por insistência, mas passaram longe de ser a equipe irresistível de outras partidas nessa temporada. Muito também pela capacidade dos milanistas em protegerem sua área e em serem fulminantes em seus ataques. Maignan sai como personagem principal, mas toda a linha defensiva merece elogios. Já na frente, como no Scudetto passado, Rafael Leão fez a diferença.