Num jogo a mil por hora, o Dortmund contou com o supersônico Adeyemi e a resistência de sua defesa para bater o Chelsea
Adeyemi garantiu a vitória mínima para o Dortmund num contragolpe, durante segundo tempo de muito abafa do Chelsea e pouco resultado

A Champions League se caracteriza por muitos jogos intensos. E a intensidade estava no talo dentro do Signal Iduna Park nesta quarta-feira, para um grande embate entre Borussia Dortmund e Chelsea, na ida das oitavas de final. O placar de 1 a 0 não transmite totalmente o que foi a partida, diante das chances criadas e da postura ofensiva dos times. Independentemente disso, o Dortmund certamente não reclama do resultado. A vantagem é ótima para os aurinegros, especialmente pelas circunstâncias, em que o gol saiu num momento de muita pressão do Chelsea. Pela forma como os times atuaram, a promessa é de outra partidaça em Stamford Bridge – com probabilidades consideráveis de uma chuva de gols.
O Dortmund teve mais volume de jogo durante o primeiro tempo. Trocava passes com mais qualidade e rondava a área do Chelsea, mas com dificuldades para o golpe fatal. Os Blues, por mais que permanecessem acuados, tinham o contra-ataque como estratégia. E suas chances foram mais concretas, inclusive com bola no travessão de João Félix, o mais perigoso do time. A situação mudou para a segunda etapa. O Chelsea se tornou bem mais ativo e testou a defesa do Dortmund continuamente. Os aurinegros suportavam o abafa, com grande papel do antes criticado Emre Can, além de boas defesas de Kobel. E foi numa das raras brechas que pintaram que o BVB mostrou como também possui qualidade para contragolpear. Adeyemi anotou um lindo gol, ao arrancar do campo de defesa até invadir a área e driblar Kepa. Com isso, deu mais tranquilidade ao Dortmund para a meia hora final. A resistência dos alemães valeu o resultado, já que os ingleses também perderam acerto com as substituições. De qualquer maneira, a sensação é de confronto aberto a reviravoltas em Londres.
As escalações
O Borussia Dortmund manteve o desenho tático que permitiu boas vitórias recentes, num 4-1-4-1. Gregor Kobel abria a escalação, com a opção por Marius Wolf para dar mais velocidade na lateral direita. Nico Schlotterbeck, Niklas Süle e Raphaël Guerreiro completavam a linha de zaga. Emre Can reencontrou seu futebol na cabeça de área. Salih Özcan e principalmente Jude Bellingham tinham mais liberdade no meio, com Julian Brandt e Karim Adeyemi abertos nas pontas. Já o comando do ataque ficava com Sébastien Haller.
O Chelsea pôde inscrever três dos novos reforços na Champions e todos eles foram titulares. Não na defesa, onde Kepa Arrizabalaga surgia no gol, com uma linha formada por Reece James, Thiago Silva, Kalidou Koulibaly e Ben Chilwell. Enzo Fernández ocupava o meio ao lado de Rubens Loftus-Cheek. O setor mais talentoso era a trinca de meias composta por Hakim Ziyech, João Félix e Mykhaylo Mudryk. Kai Havertz era o homem de referência, mas com muita movimentação.
Primeiro tempo
A partida pegou fogo logo nos primeiros instantes. Brandt teve um chute bloqueado por Enzo Fernández, antes de Mudryk responder do outro lado e ser travado por um carrinho de Schlotterbeck no momento exato. O relógio marcava só dois minutos e mostrava como seria um duelo aberto. O Dortmund conseguia ditar o ritmo de início e se impunha no campo ofensivo, mas cometia erros na construção. Além disso, não demorou a ficar claro como a velocidade do ataque do Chelsea poderia causar problemas contra a defesa aurinegra. O som da torcida animava ainda mais a intensidade do que acontecia dentro de campo.
O Chelsea balançou as redes aos 16, numa cobrança de falta fechada que Thiago Silva desviou. Porém, ficou claro que o zagueiro usou a mão e o cartão amarelo foi merecido. Apesar do susto, o Dortmund não reduziu a marcha. Continuou mais ofensivo, com escapadas esporádicas, mas sem a melhor conclusão. Wolf e Bellingham quase causaram problemas em investidas pela direita. Adeyemi também apareceria pela esquerda, com dois lances mais perigosos, mas salvos pela defesa na hora da batida. O BVB conseguia trabalhar bem com passes curtos, priorizando inclusive tabelas pelo meio. Era um desenho tático que por vezes variava, com o time mais solto enquanto Emre Can prendia na cabeça de área.
O abafa do Dortmund estava claro neste momento, com velocidade e boas tramas. Aos 27, Brandt ganhou de Enzo Fernández na velocidade e abriu com Haller na área, mas o centroavante, com pouco ângulo, acertou a paulada do lado externo da rede. Até parecia que o Chelsea queria esfriar os adversários a essa altura, com uma dose de cera. O ataque dos londrinos já não aparecia tanto. A próxima chegada do time, aos 30, viria somente na bola parada. Kobel parou João Félix, mas havia impedimento na jogada. Neste momento, os Blues acertaram melhor a marcação no meio-campo e conseguiam os contra-ataques. Numa puxada de Ziyech, João Félix mandou para fora uma oportunidade frontal aos 32. Dois minutos depois, na sequência de um escanteio, a resposta do BVB surgiu num tiro de Adeyemi por cima.
Apesar dos riscos de deixar espaços à velocidade, o Dortmund não abdicou de sua postura. A equipe continuava posicionada no campo de ataque e empurrava o Chelsea para trás. Os aurinegros conseguiam variar bem o setor das jogadas, com profundidade pelos lados e também presença pelo meio. Mas os anfitriões não tinham as brechas para finalizar e corriam riscos atrás. Quase o Chelsea abriu a contagem aos 38, em mais um contragolpe. Havertz preparou muito bem o lance e João Félix fugiu de Wolf na área, antes de chutar por cima de Kobel. A bola caprichosa estalou o travessão.
As melhores combinações do Borussia Dortmund aconteciam pela direita. Wolf subia bastante e Brandt, em grande fase, encontrava espaços entre as linhas. Além disso, o entrosamento de Ben Chilwell e Kalidou Koulibaly não era dos melhores por ali. O melhor lance dos aurinegros na primeira etapa surgiu entre os dois. Brandt limpou a jogada e rolou para trás, mas o bate-pronto de Wolf seguiu para fora. Foram 11 finalizações do BVB nos 45 minutos iniciais, mas sete bloqueadas. O primeiro tempo poderia ter rendido dois ou três gols, pela intensidade das equipes, mas o zero preservava o suspense para a segunda etapa.
Segundo tempo
As duas equipes voltaram sem alterações para o segundo tempo. E o Chelsea pareceu mais disposto a tomar a iniciativa. Teve a posse de bola nos primeiros minutos e continuou perigoso na velocidade, com Mudryk logo causando preocupação pela esquerda. Recuar um pouco não era ruim ao Dortmund, para diminuir os espaços na defesa e buscar também os contra-ataques. Porém, a saída de bola era problemática e o Chelsea conseguiu seguidas recuperações na intermediária.
As faltas se tornaram recursos ao Dortmund. Bellingham foi o primeiro advertido com o amarelo. Já aos sete, Emre Can só conseguiu parar a arrancada de Reece James por todo o campo de ataque com uma falta na entrada da área. James bateu direto e forçou grande defesa de Kobel. Neste momento, a partida ficava mais tensa. O BVB dava sinais de nervosismo e o Chelsea se aproveitava. Os lances se tornavam mais pegados. Somente depois dos dez minutos é que os aurinegros voltaram a ameaçar. Adeyemi era quem aparecia e, numa roubada de bola nos arredores da área, serviu Brandt. A batida foi direto para os braços de Kepa.
Uma diferença do Chelsea em relação ao Dortmund é que, quando o time subia ao ataque, não tinha receio de finalizar. Enzo Fernández teria alguns tiros sem tanto perigo. Depois, aos 17, Mudryk parou em Raphaël Guerreiro num passe rasteiro dentro da área. Na sequência, a sobra ficou com Reece James e o lateral chutou no alto, para mais uma boa defesa de Kobel. O momento era todo dos Blues. E quase viria o gol na cobrança de escanteio, numa bola desviada no meio da área e que João Félix não conseguiu concluir no segundo pau. Entretanto, quando o BVB parecia mais acuado, um contragolpe mudou todo o cenário.
O próprio escanteio do Chelsea é que gerou o avanço do Borussia Dortmund – e o gol, brilhantemente anotado por Adeyemi, aos 18. O ponta dominou ainda na intermediária defensiva e tinha um latifúndio para correr. Enzo Fernández tentou acompanhar, mas sequer se aproximou da velocidade do alemão e comeu poeira. Depois de deixar o volante na saudade, Adeyemi invadiu a área e driblou Kepa. Ficou fácil para só rolar à meta vazia, garantindo a vantagem inicial ao BVB. Logo depois, Haller seria substituído sob muitos aplausos, com a entrada de Anthony Modeste. Já o Chelsea botou Marc Cucurella e Mason Mount, nos lugares de Chilwell e Mudryk. Nesta sequência de mudanças, Julian Ryerson passou a ocupar a lateral no lugar do exausto Wolf.
O Chelsea sentiu o gol. Permaneceu no campo ofensivo, mas sem a mesma agressividade que se notava antes do tento. Enquanto isso, o Dortmund também encaixou melhor a sua marcação. Conseguiu ocupar melhor os espaços nos arredores de sua área e não concedia muitas chances de resposta. Somente depois dos 30 é que os Blues realmente criaram perigo de empatar. Num lance em que Koulibaly teve muito espaço na área, o zagueiro chutou forte e a defesa de Kobel espirrou para trás. Ótimo na noite, Emre Can salvou em cima da linha de carrinho.
Adeyemi foi substituído por Jamie Bynoe-Gittens aos 34. O Dortmund precisava melhorar suas transições, com dificuldades para acionar Modeste nas ligações diretas. O Chelsea rondava e geralmente conseguia pelo menos uma falta. Com o garoto, os contra-ataques aurinegros melhoraram. Mas os azuis também voltaram a ter um contragolpe com Havertz, num lance em que Süle pressionou o erro do atacante – e os londrinos reclamavam de um pênalti, que não foi anotado. A situação seguia aberta para os dois lados nos minutos finais. Já aos 38, quando a brecha pintou a João Félix, o arremate dentro da área saiu fraco e facilitou a Kobel.
O Chelsea não desistiu do empate, mas faltava um pouco mais de qualidade na criação ofensiva. As mudanças não fizeram muitos efeitos positivos e o time pressionava por volume de jogo, mas não por bombardear os adversários. O clima até esquentou aos 44, numa entrada forte de Ryerson na lateral, que gerou confusão entre as duas equipes. Mount e Süle receberam amarelos no empurra-empurra. Os Blues pareciam até morosos nos acréscimos, com passes mais lentos e cruzamentos sem resultado. Quando Enzo Fernández finalmente soltou a sapatada aos 49, Kobel voou para espalmar no ângulo e garantir o resultado com uma defesaça. O goleiro também foi essencial ao resultado.
Os números no Signal Iduna Park indicam que o confronto segue aberto para o reencontro em Stamford Bridge. O Chelsea dominou o segundo tempo com 66% de posse de bola e 16 finalizações, oito delas no alvo. Porém, esbarrou num goleiro inspirado e numa defesa que também conseguiu pressionar algumas oportunidades. A resistência do Dortmund, até pelo histórico caótico do clube atrás, serve de mérito. Não será fácil segurar a vantagem na Inglaterra, pelos muitos valores individuais dos adversários, mas os aurinegros também possuem suas armas.