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Maignan é um goleiro decisivo como raros, virtude coroada com sua defesa essencial no pênalti contra Kvara

Maignan já tinha feito defesas fundamentais no fim de todos os jogos dos mata-matas que participou nesta Champions, mas nada como o penal que retardou o empate do Napoli

Ter um grande goleiro transforma as perspectivas de qualquer time. E o Milan sabe muito bem disso, por experiência própria, ao longo de toda a temporada. Um dos principais motivos para as oscilações vividas pelos rossoneri foi a ausência de Mike Maignan por lesão. Ciprian Tatarusanu estava milhas abaixo do titular e, hoje, parece difícil ao clube encontrar no mercado alguém com a capacidade do francês a um preço acessível. Maignan é o típico arqueiro que decide não só partidas, mas campeonatos. Une muita segurança com uma capacidade incrível de brilhar em momentos decisivos. E se essa aptidão apareceu ao longo dos mata-matas da Champions League, nada à altura do que ocorreu nesta terça-feira em Nápoles. Aos 37 do segundo tempo, Maignan defendeu o pênalti de Khvicha Kvaratskhelia e teve influência enorme na classificação do Milan, com o empate por 1 a 1 no Estádio Diego Armando Maradona.

Quando Maignan chegou ao Milan, depois de brilhar no Lille campeão da Ligue 1, tinha uma missão dura e ao mesmo tempo aberta. Por qualidade do antigo titular, não seria tão simples substituir Gianluigi Donnarumma. Pela forma como o italiano deixou Milanello, porém, o francês encontrou mais corações abertos entre os rossoneri. E tudo se tornou mais fácil pela forma como o camisa 16 mostrou serviço em seu primeiro ano na Itália. Foi uma temporada fantástica, não só para se firmar como o melhor goleiro da Serie A, como também para fincar o pé entre os melhores da posição no mundo. O Scudetto passou diretamente pelas mãos do novato. A torcida não se lembrava mais de Donnarumma nem para xingá-lo. Aclamar Maignan era suficiente.

Os últimos meses é que foram realmente duros para Maignan, com a lesão que o tirou de grande parte da temporada e ainda custou sua presença na Copa do Mundo. A fase era tão boa que muita gente defendia que o novato pudesse tomar a titularidade de Hugo Lloris, capitão na conquista do Mundial anterior, mas de momento menos impressionante que o concorrente pela posição. Restou a Maignan ver de longe e trabalhar calado. Trabalhar muito, porque as previsões de sua recuperação não se cumpriam e o Milan sofreu um pouco mais com sua ausência na meta.

A volta de Maignan foi providencial, se não para salvar a lavoura na Serie A, pelo menos para alimentar os sonhos na Champions. Foram cinco meses parado e, quando retornou à competição, o francês já estava voando. Encarou a segunda partida contra o Tottenham, na Inglaterra, e garantiu o empate por 0 a 0, suficiente aos milanistas. A defesa que realizou nos acréscimos do segundo tempo contra Harry Kane sublinhava como os rossoneri voltavam a ter um grande goleiro. Um goleiro que decide jogos.

Os compromissos pela Serie A valeram para que Maignan recuperasse o ritmo. Assim, estava na ponta dos cascos para lidar com o bombardeio do Napoli no duelo dentro do San Siro, pela ida das quartas de final da Champions. Os companheiros de zaga auxiliaram bastante, mas o arqueiro também trabalhou quando necessário. Durante a primeira etapa, foi bastante seguro nas batidas de fora da área, sobretudo. Já o segundo tempo seria ainda mais desafiador, em especial por outra intervenção essencial nos minutos finais. Giovanni Di Lorenzo mirou o alto das redes e o francês pegou. A vitória por 1 a 0, mais uma vez, acabava guardada em suas luvas.

E o mesmo se viu em Nápoles, nesta terça-feira. O Napoli acertou o alvo menos vezes, muito porque a defesa do Milan estava encaixadíssima. Davide Calabria voltou a dificultar o trabalho de Kvaratskhelia, enquanto Simon Kjaer foi soberano no miolo de zaga contra Victor Osimhen, com Pierre Kalulu e Theo Hernández também se desdobrando. Mesmo Rade Krunic se esfolou demais para evitar finalizações claras dos napolitanos na cabeça de área. Quase todo arremate vinha mascado ou para fora. Uma hora, contudo, Maignan ia ter que aparecer. Isso aconteceu aos 37 minutos, num pênalti marcado para os celestes, que dava uma brecha para transformar a história do confronto.

Kvaratskhelia precisou encarar Maignan na marca da cal. Era quem mais chamava o jogo na noite, era quem possuía qualidade para esse tipo de batida. O ponta chutou rasteiro e tentou acertar o canto. O francês caiu para o lado certo e fez uma defesa monumental, ainda mais importante que aquelas contra Harry Kane ou Di Lorenzo. Maignan não evitaria o empate do Napoli, de Osimhen. Contudo, retardou a reação de uma forma imprescindível, para custar minutos preciosos aos celestes. Até voltou a fazer uma intervenção difícil contra Kvaratskhelia, num cruzamento venenoso já nos acréscimos, antes que o tento surgisse no minuto final.

A forma como os jogadores do Milan comemoraram com Maignan depois do pênalti defendido só reforça a estatura que o goleiro possui hoje no elenco. Qualquer rossonero em campo sabe que pode esperar o melhor com um camisa 1 dessa estirpe na retaguarda. Faz muita diferença. Já do outro lado, a imposição do francês também intimida os adversários. Talvez a perna de Kvaratskhelia tenha pesado um pouco mais pelo histórico de seu adversário, ainda mais dentro dessa Champions. E quem vier pela frente sabe que não será tão fácil vazar a meta milanista, porque o time sólido começa por um arqueiro que alavanca mais essa capacidade de competir.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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