Champions League

Infantino defende cautela sobre punição a clubes da Superliga e melhora do Fair Play Financeiro

Presidente da Fifa afirma que punir os clubes pode levar a uma punição a jogadores, técnicos e torcedores; ele defende medidas que melhorem o Fair Play Financeiro

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, defendeu cautela na punição aos clubes envolvidos no projeto da Superliga Europeia. Para o dirigente, é preciso tomar cuidado porque uma punição pode acabar envolvendo jogadores, técnicos e torcedores daquele clube, que não tiveram nada a ver com a malfadada ideia. O presidente da entidade que dirige o futebol mundial ainda defendeu o Fair Play Financeiro e acredita que é preciso aprimorá-lo para encontrar um equilíbrio.

“Nós temos que evitar falar sobre guerra quando se trata de futebol”, afirmou Infantino ao jornal francês L’Equipe. “Especialmente em um momento como este, que o mundo todo está lidando com uma pandemia sem precedentes”.

“É a tarefa das federações nacionais, da Uefa e da Fifa tomar as decisões apropriadas”, continuou o presidente da Fifa. “Mesmo nas mais delicadas situações, eu sou a favor do diálogo e não dos conflitos. Um líder tem o dever de se perguntar por que tudo isso aconteceu e, a partir dessa pergunta, construir um futuro diferente falando e ouvindo a todos, principalmente os torcedores, que são o coração do futebol”.

“Algumas sanções podem ter consequências importantes, então devemos assumir a responsabilidade por elas. Ainda precisa ser entendido que medidas nós estamos falando. Eu ouço que clubes devem ser punidos, mas isso também pode significar punir os jogadores, técnicos e torcedores dos clubes envolvidos, que podem não ter nada a ver com o projeto da Superliga”, defendeu Infantino.

Ainda que tenha defendido que as punições podem ser prejudiciais, o presidente da Fifa admite que é preciso ter um controle maior em relação às finanças dos clubes. Para Infantino, é preciso aprimorar o Fair Play Financeiro.

“O Fair Play Financeiro pode não ter perfeito, mas foi necessário e produziu bons resultados. Há 10 anos, o Fiar Play Financeiro salvou o futebol de clubes na Europa”, afirmou o dirigente da Fifa, que conhece bem o sistema. Ele foi secretário-geral na presidência de Michel Platini na Uefa, de 2009 a 2016, quando se tornou presidente da Uefa. Foi na gestão que ele participava que a Uefa introduziu o Fair Play Financeiro.

“Nós temos que encontrar o equilíbrio certo entre medidas para proteger dos excessos, enquanto mantendo um ambiente atrativo para investimentos sólidos. A chegada de novos investidores que desejem desenvolver um clube é obviamente bem-vinda, mas é necessário ter regras que garantam que se um dia eles saírem, não deixem o clube em ruínas”, disse Infantino.

É preciso lembrar que todas as punições acabam prejudicando jogadores, técnicos e torcedores, mas isso é parte da questão. Por vezes vimos clubes serem punidos pelo próprio Fair Play Financeiro e os jogadores, técnicos e torcedores também acabaram punidos.

Não houve esse questionamento quando o Fenerbahçe, um dos mais importantes clubes da Turquia e tradicional na Europa, ficou fora da Champions League como punição. Ou mesmo que o Milan, há alguns anos, tenha ficado fora da Liga Europa também por medida do Fair Play Financeiro. E, além disso, clubes como Manchester City e PSG terem escapado de punições tão duras quanto essas levaram a uma sensação que esses clubes são protegidos, no fim das contas, pelo seu poder financeiro e político. É por isso que essa justificativa de Infantino é problemática.

conforme a Uefa divulgou em 2018.

Além da questão de sustentabilidade financeira dos clubes, há também uma questão de tentar tornar o futebol um pouco mais equilibrado. É preciso que os clubes possam investir apenas aquilo que eles conseguem arrecadar, talvez com uma margem de investimento – no regulamento atual, o Fair Play Financeiro permite até 20% do orçamento de investimento dos donos, desde que do próprio bolso deles.

O problema é que alguns clubes vão além disso ou tentam maquiar as contas, como Manchester City e PSG já fizeram, e como Juventus e Barcelona tentam fazer. Esses dois últimos estão no limite do regulamento que diz que os clubes podem gastar até 70% da sua receita em salários.

Outro ponto importante dito por Infantino, sobre entender por que algo como a Superliga acontece, exige que os clubes e as ligas olhem para si mesmos. Se querem que haja mais equilíbrio e imprevisibilidade, é preciso que haja mais equilíbrio nas contas. Sem pensar em como dividir o bolo de forma mais equânime e também que esse dinheiro chegue nas ligas, e não fique restrito aos clubes que participam da Champions League, é um passo crucial para termos um futebol europeu mais interessante a médio e longo prazo.

Isso não quer dizer que todos os clubes devem receber o mesmo dinheiro, mas que ao menos as diferenças sejam menores e seja possível que as ligas desses clubes se beneficiem. A Holanda fez isso espontaneamente: uma parte do dinheiro recebido pelos clubes do país nas competições europeias serve para ser distribuído na liga holandesa. É uma forma de financiar a pirâmide.

Este, aliás, é um ponto crucial. Enquanto não se pensa na pirâmide, é impossível pensar em um futebol sustentável. Por isso é importante que uma parte da arrecadação dos maiores campeonatos sejam reinvestidos nas federações dos países. Localmente, é importante que a Premier League tenha uma parte da receita destinada à Football League (que gere da 2ª à 4ª divisão) e também às divisões inferiores, geridas pela Football Association (FA). Isso já acontece por lá e precisa ser pensada de forma a melhorar o sistema.

Esse é o tipo de coisa que se faz pouco no Brasil, por exemplo. Seria importante que uma parte do dinheiro que a Série A do Campeonato Brasileiro gera seja distribuído para baixo, para a Série B, Série C e Série D. Porque sem uma pirâmide sustentável, o futebol do topo também se torna inviável – por aqui, por vezes já é. Só que isso só é possível com uma organização coletiva. Se nem para vender direitos de TV os clubes possuem uma negociação coletiva, que dirá para pensar em mais do que seus próprios umbigos.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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