Champions League

Guardiola fez escolhas estranhas, mas nenhuma delas pesou mais do que o acaso na eliminação do City

Guardiola deu sinais de que não se importa com opiniões externas ao escalar o Manchester City, neste sábado, para enfrentar o Lyon pelas quartas de final da Champions League. A maior crítica ao seu trabalho é a maneira como ele muda demais sua equipe para partidas decisivas do torneio europeu. No português mais claro possível: a maneira como ele inventa. Fugiu mais uma vez do convencional na derrota por 3 a 1 no José Alvalade, mas isso não teve tanto peso quanto a boa atuação dos franceses e, especialmente, o mais puro acaso.

Guardiola escalou a equipe com três zagueiros, com Fernandinho pelo lado direito ao lado de Eric García e Aymeric Laporte. A amplitude que é tão importante para seu estilo foi dada pelos laterais Kyle Walker e João Cancelo, pela esquerda, com Rodrigo e Gündogan no meio-campo. Sterling e De Bruyne apareciam um pouco mais avançados formando um triângulo com Gabriel Jesus na frente.

Se o que ele queria era abrir espaços para Sterling e De Bruyne infiltrarem entre o lateral e o zagueiro adversário, deu certo. Só faltou a ele pensar algumas jogadas adiante porque, se eles estavam ali, para quem passariam a bola? Houve boas situações em que ambos apareceram com espaço nas laterais da pequena área, mas Jesus, que havia feito boas partidas pela ponta nesta Champions, estava cercado de zagueiros. O único passe que virou boa finalização caiu nos pés de Rodri. Não é sua especialidade.

Aos 11 minutos do segundo tempo, quando perdia por 1 a 0, Guardiola recuou em sua ideia inicial. Tirou Fernandinho, abriu Mahrez na direita, Sterling na esquerda e colocou De Bruyne mais solto atrás de Jesus. Melhorou. Sterling recebeu nas costas da defesa, limpou o zagueiro e agora tinha De Bruyne para rolar a bola, e o chute do belga foi preciso como sempre.

Faltavam 20 minutos. O Lyon fazia pouco além de se defender. O City pressionava. Havia um cheiro de inevitabilidade no ar que quase se tornou concreto quando Sterling cruzou perfeitamente da esquerda, aquela bola linda para Gabriel Jesus estufar as redes. O atacante brasileiro pegou muito mal e nem acertou o gol.

Foi logo na sequência que o Lyon encontrou um contra-ataque. Laporte tropeçou – há quem ache que foi falta -, Karl Ekambi, em aparente posição de impedimento, deixou a bola passar entre as suas pernas, sinalizando que não participaria da jogada, e Dembélé, em condição legal, saiu de trás. Não chutou muito bem, mas a bola bateu na perna de Ederson e entrou.

Seis minutos depois, Jesus fez boa jogada, cruzou rasteiro, e Sterling, sem goleiro, na entrada da pequena área, conseguiu bater por cima do travessão. E dois minutos depois, o Lyon emendou outro contra-ataque, Ederson cometeu uma falha, e Dembélé fechou o caixão.

Ainda havia alguns minutos para tentar um milagre, e Guardiola nem usou a terceira substituição, mesmo com Foden e Bernardo Silva no banco e Gündogan fazendo um jogo ruim, o que também foi um pouco estranho. A segunda, para quebrar os dois volantes e colocar David Silva em seu último jogo pelo Manchester City, saiu apenas aos 39 minutos do segundo tempo.

Essa é a sequência de fatos. Não quer dizer que o City fez um bom jogo – não fez – ou que Guardiola armou bem a equipe – não armou -, mas o Lyon fez dois gols que, com um pouquinho mais de azar, não teria feito, e o City perdeu dois gols que, com um pouquinho mais de sorte (e concentração e capricho), teria feito.

Esse conjunto de casualidades foi mais determinante ao resultado final do que a escalação meio estranha de Guardiola, junto com um problema antigo do Manchester City com o qual, aí sim, o treinador catalão não conseguiu lidar nesta temporada: a bola nas costas da sua defesa.

Foi o que custou pelo menos uma briga mais próxima com o Liverpool na Premier League e o que, na origem, gerou os dois primeiros gols deste sábado. O terceiro foi um contra-ataque três versus quatro, e Ederson falhou, mas surgiu de um problema relacionado. A bola ficou viva na altura do meio-campo e, apesar de mais de uma oportunidade para ganhá-la ou afastá-la, ficou com o Lyon.

A defesa do City, e o próprio Guardiola admite, não conta com zagueiros rápidos o suficiente para atuar com uma linha tão alta, uma das pedras angulares do seu sistema, e precisa ser reformulada rapidamente. Mesmo Laporte, o melhor zagueiro do time, teve uma noite ruim, Eric García parece de saída para o Barcelona (e ainda é muito jovem), e Otamendi e Stones não fizeram uma boa temporada. Tanto que Fernandinho quebrou o galho na posição, também por causa de uma onda de lesões no setor.

Acontece, porém, que se há um excesso de situações em que os zagueiros precisam correr atrás dos atacantes adversários é porque a pressão ao jogador que faz o lançamento para o contra-ataque falhou. Organizar esse tipo de movimento defensivo é uma das especialidades de Guardiola, uma de suas marcas registradas, e ele não foi tão eficiente nesta temporada, talvez em parte porque Fernandinho poucas vezes atuou como volante.

Entre Monaco, Liverpool e Tottenham, seus carrascos na Champions League, o Lyon era o adversário mais acessível. Pela diferença de poder financeiro, não era admissível ser eliminado, e algumas decisões de Guardiola, como deixar David Silva, Mahrez, Bernardo Silva e Phil Foden na reserva, e nem usar todas as substituições, foram estranhas. Há problemas defensivos que precisam ser consertados no campo de treinamento e no mercado.

Mas, se Jesus faz aquele gol, ou se Sterling faz aquele gol… Houve erros, mas nenhum pesou mais do que o acaso.

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Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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