Grupo G: Real Madrid, Roma, CSKA Moscou e Viktoria Plzen
Por que vale a pena acompanhar esse grupo
Em 2017/18, a Roma “caiu mas não romou”: foi eliminada nas semifinais da Liga dos Campeões, mas deixou em sua torcida um incomum sentimento de orgulho – ainda mais após a inesquecível superação do Barcelona, nas quartas de final. E de um jeito ou de outro, após começo deficiente, o Real Madrid adotou no mata-mata a autoridade de clube que quase simboliza o que é a Champions, para ser o primeiro tricampeão europeu em sequência desde 1975/76. Só que imediatamente depois disso, Zinedine Zidane preferiu que sua saída marcasse o início de uma reformulação – e se ainda havia dúvidas sobre essa sensação, não houve mais com a saída de Cristiano Ronaldo, um dos símbolos desta era do futebol, símbolo absoluto desta era de grandeza madridista. Desde então, martelam as duas perguntas: “O Real Madrid seguirá nas cabeças sem Zidane e Cristiano Ronaldo?” e “Será a Roma capaz de igualar o desempenho altamente honroso na Champions?”. Só de ver o início das respostas a essas perguntas, já vale ver o que o grupo G trará, com CSKA Moscou e Viktoria Plzen como “antagonistas coadjuvantes”.
O estádio que faz a diferença
A importância do Luzhniki é clara, estádio da final da recente Copa do Mundo que foi. Casa do Viktoria Plzen, a Doosan Arena (ou Štruncovy Sady, como a Uefa o nomeia) tem aquele ar charmoso de vários estádios de médio porte em países menores da Europa – são “arenas”, mas não tão luxuosas quanto o nome faz crer. Só que é difícil rivalizar com Santiago Bernabéu e Olímpico de Roma: além de serem dois dos estádios mais conhecidos do mundo, ganham um ambiente todo especial quando o assunto é Liga dos Campeões. Em ambos, a torcida consegue ajudar as respectivas equipes a se sobressair. Porém, se sobressair é coisa um pouco mais fácil quando se trata de Real Madrid na Champions. Assim, ver o que a torcida da Roma pode empurrar os jogadores aurirrubros se torna algo mais notável. Por isso, e só por isso, o Estádio Olímpico de Roma pode fazer um pouco mais de diferença – não que o Bernabéu não faça…
Adversários na Copa, colegas no clube
Já que não há “lei do ex” no grupo G, vale destacar como o destino junta no Real vários jogadores que se enfrentaram na Copa recém-passada. Tome-se por exemplo Thibaut Courtois, que se destacou na (e celebrou a) classificação da Bélgica às semifinais da Copa, eliminando o Brasil defendido por Casemiro e Marcelo. Só que Courtois amargou a queda nas semifinais, diante da França que tinha em Raphaël Varane um titular absoluto na zaga. E na final, não bastasse o título europeu, Varane celebrou o título mundial, contendo vários nomes da Croácia, que tinha como destaque seu colega de clube Luka Modric.
Ambição na fase de grupos
Real Madrid – Já não há mais Cristiano Ronaldo, o craque entre craques. Mas há craques: Marcelo, Toni Kroos, Luka Modric, Gareth Bale, Isco, Marco Asensio. Há coadjuvantes de altíssimo valor: Casemiro, Daniel Carvajal, Raphaël Varane, Sergio Ramos, Thibaut Courtois. Caberá a eles imporem máximo respeito desde o princípio (respeito meio abalado pela queda na Supercopa da Europa e pelo mau começo no Campeonato Espanhol). E provarem, sob Julen Lopetegui – que também tem lá o que provar -, que um coletivo estelar pode brilhar do mesmo jeito após perder sua estrela suprema, para alcançar um tetra europeu que não se vê desde 1958/59.
Roma – Até seria possível dizer que o nível de exigência diminuiu para os Giallorossi: para um clube acostumado a decepcionar, a participação na Champions da temporada passada causaria um contentamento capaz de amainar as desconfianças. Mas elas seguem aí, com o começo irregular no Campeonato Italiano e as perdas na janela de transferências (Alisson, Radja Nainggolan e Kevin Strootman, as mais sentidas). Cabe aos que ficaram e aos que vieram provar que as atuações valorosas de 2017/18 não foram passageiras, que a Roma segue com um time respeitável no âmbito continental.
CSKA Moscou – Há dois tipos de ambição para a equipe russa. Uma razoável: continuar nas competições continentais, tentando alcançar a terceira posição do grupo e indo para a segunda fase da Liga Europa. Outra, bem mais complicada: tentar surpreender Real Madrid ou Roma, sonhando com as oitavas de final.
Viktoria Plzen – Não cabe esconder a realidade: a equipe campeã da República Tcheca deverá ser coadjuvante no grupo. Restará tentar oferecer o máximo de dificuldades a Real Madrid, Roma e CSKA Moscou. O que vier a partir disso será muito lucro.
Ponto forte
Real Madrid – Neste ponto, seria quase obrigatório repetir o começo do item anterior – ou seja, citar os vários nomes capazes de definir qualquer partida a favor dos Merengues. Para não ser enjoativo, melhor apontar outro ponto forte madridista: dos outros 31 clubes da fase de grupos, nenhum tem a tradição que o Real tem na Liga dos Campeões. Ponto. Ou alguém se arrisca a debater o maior campeão do torneio, com 13 títulos?
Roma –Se a Roma perdeu nomes importantes, os que chegaram mantêm o que pode ser considerada a grande força do time de Eusebio di Francesco: a qualidade coletiva. Se Alisson faria falta no gol, o sueco Robin Olsen mostrou firmeza e mereceu a aposta da contratação; Iván Marcano chega para ser útil na zaga; e se é inegável que o grande destaque do meio-campo se foi com a saída de Nainggolan, também é verdade que o setor teve três ganhos com as vindas de Steven N’Zonzi, Javier Pastore e Bryan Cristante. Ou seja: alguns nomes saíram, outros chegaram, mas o nível técnico romanista segue satisfatório.
CSKA Moscou – A experiência. O time do Exército Vermelho até perdeu nomes muito conhecidos nesta temporada, com o fim das carreiras de Sergei Ignashevich e dos irmãos Berezutski (Vasili e Alexei). No entanto, nomes frequentes e entrosados não faltam: Igor Akinfeev no gol, Mário Fernandes na direita (jogando mais avançado, no 3-5-2 do técnico Viktor Goncharenko), Kirill Nababkin na zaga, Georgi Schennikov se alternando entre a defesa e o meio…
Viktoria Plzen – Como no CSKA Moscou, a experiência é o principal trunfo do clube da cidade de Plzen em campo. Sobram nomes na região dos 30 anos, acima ou abaixo, na equipe básica escalada comumente pelo técnico Pavel Vrba: o goleiro Matus Kozacik, o defensor David Limbersky, os meias Jan Kopic e Milan Petrzela. Serviu para campanha muito decente na Liga Europa da temporada anterior, chegando às oitavas de final.
O craque
Real Madrid – Após muito tempo, este posto não é ocupado por um certo português. Tudo bem: opções não faltam. E no momento atual, a qualificação vai para Luka Modric – pelo que fez na Copa do Mundo e pelo que faz habitualmente no meio-campo madridista. Já tem 33 anos, pode não aguentar um ritmo de jogo rápido? Tudo bem: em geral, num bom dia, quem define o ritmo do jogo é o croata.
Roma –Se a grande força da Roma é a qualidade coletiva, fica difícil destacar um único nome – ainda mais após a saída de Nainggolan, brilhante em alguns momentos de 2017/18. Há bons jogadores, mas ainda lhes falta algo para poderem ser apontados como “o cara” em Trigoria – aqui talvez Cengiz Ünder seja o grande exemplo. No entanto, se é para se falar num nome, Javier Pastore é o maior candidato a comandar o time dentro de campo. Seja mais avançado num time com três atacantes, jogando pela esquerda, ou como armador sozinho num time com três zagueiros, o argentino ganha oportunidade fabulosa para recuperar o terreno perdido na carreira.
CSKA Moscou – Está certo que o CSKA aposta na experiência. No entanto, do meio para a frente, a juventude tem sido mais escolhida nas escalações. E Nikola Vlasic simboliza isso: recém-emprestado pelo Everton, o croata de 20 anos já tomou de Alan Dzagoev a posição neste começo de temporada, sendo o principal criador de jogadas ofensivas.
Viktoria Plzen – Entre tantos jogadores tchecos e eslovacos, a principal aposta está no atacante Michal Krmencik. Seu começo no Campeonato Tcheco 2018/19 foi ótimo: sete gols em oito jogos. Qualquer bola na rede pela Liga dos Campeões será de grande valia.
Mister Champions
Real Madrid – Ele é um grande zagueiro. Mas ele é um jogador cuja competitividade passa dos limites aceitáveis. Ele costuma fazer o gol certo na hora certa – a final de 2013/14 é a prova definitiva. Mas ele costuma ser o vilão a causar as confusões – a final da Champions passada também mostrou isso. Ele é tudo isso. De todas as facetas, a torcida do Real Madrid prefere a do capitão que ergueu a “orelhuda” nas últimas três temporadas – requisito suficiente para que Sergio Ramos seja indiscutivelmente o “Mister Champions”.
Roma –O “Capitan Futuro” já é presente há um bom tempo. Entretanto, se Francesco Totti terminou sua antológica trajetória ajudando a Roma a voltar à Liga dos Campeões, Daniele de Rossi segue firme como outro símbolo giallorosso. Titular absoluto neste começo de temporada, o meio-campista de 35 anos tem tudo para seguir sendo a marca de experiência e história que a Roma se acostumou a ter. E agora que não defende mais a seleção italiana, poderá dedicar todo o tempo de carreira ao clube que tanto conhece.
CSKA Moscou – Há algum tempo que a equipe moscovita já não ameaça tanto na Liga dos Campeões – e na Liga Europa, só despertou na temporada passada, ao chegar às quartas. Ainda assim, Igor Akinfeev segue como nome que evoca as lembranças de ótimas campanhas na Champions. Com alguns nomes mais velhos parando aos poucos, o goleiro de 32 anos ainda tem tempo para se firmar como um nome ainda mais icônico do que já é no CSKA. Até porque ninguém jogou mais pelo clube do que ele: 572 partidas, desde 2003.
Viktoria Plzen – Desde 2010/11, o Viktoria aparece nas competições europeias – seja na Liga dos Campeões, seja na Liga Europa. Surgido no clube em 2002/03, desde 2008/09 titular absoluto da equipe, o zagueiro David Limbersky esteve em todas essas presenças em torneios continentais. Aos 35 anos, é figura cada vez mais fundamental e experiente.
A contratação
Real Madrid – Houve vindas úteis: Mariano e Álvaro Odriozola. Houve vindas que podem vir a ser algo grande algum dia: Vinícius Júnior. Mas se houve uma contratação daquelas que o Real Madrid faz comumente para deixar claro que é um titã europeu, ela foi Thibaut Courtois. Keylor Navas já não consegue mais superar as desconfianças (às vezes injustas) sobre sua capacidade? Pois bem: melhor goleiro da Copa recém-encerrada, o belga está aí para tentar encerrar os temores da torcida sobre o nome debaixo das traves.
Roma – O pai Patrick opinou: achava melhor que o rebento ficasse onde estava, no Ajax. O próprio clube holandês queria a permanência, por bem ou na marra. Mas aos 19 anos, Justin Kluivert já se achou capacitado para dar o salto que desejava: tentar se destacar num centro capaz de disputar coisas maiores no âmbito continental. Na Roma, o jovem holandês começou tendo relativa importância no início de temporada, com boas atuações. Se continuar assim, logo conseguirá provar a todos que é adulto no futebol, ganhando responsabilidades maiores. E qual jovem não sonha convencer o pai de que é capaz de fazer as coisas sozinho?
CSKA Moscou – O supracitado Vlasic é o nome encarregado de pensar o jogo no meio-campo. Mas de nada adiantará se outra novidade nos Cavalos não justificar a contratação junto ao Hull City: aos poucos, o uruguaio Abel Hernández começa a ser escalado como titular no ataque. Caberá a ele fazer os gols de que o CSKA precisa.
Viktoria Plzen – Na janela de transferências, o campeão tcheco apostou primordialmente em nomes da própria HET Liga. Uma delas ainda entra e sai dos titulares, mas deverá ser usada na Liga dos Campeões com certa constância: o atacante nigeriano Ubong Ekpai, vindo do Zlín.