Contra um apequenado Real Madrid, Di María foi o mestre de cerimônias no baile do PSG

Ángel Di María é um dos tantos jogadores que não receberam o devido reconhecimento em seus tempos de Real Madrid. O melhor momento do argentino no clube ajudou bastante os merengues na conquista da Champions League em 2013/14. Tudo bem que a venda ao Manchester United rendeu um bom dinheiro, mas não foi exatamente uma transferência que os espanhóis quiseram evitar. E, entre idas e vindas em sua carreira, agora entre os principais jogadores do Paris Saint-Germain, Di María desfrutou em grande estilo seu reencontro com o Real. Na estreia de ambos nesta Champions, o ponta foi destrutivo nas finalizações e, com dois gols, estrelou a imponente vitória por 3 a 0 no Parc des Princes.
A um time que carece de mais peso na Champions, o PSG conquistou um resultado importante. Jogou como gente grande, teve o apoio de sua torcida e lidou muito bem com as ausências do time. Dentro de um elenco mais completo nesta temporada, Di María chamou a responsa, enquanto Idrissa Gana Gueye também foi excelente para tomar conta do meio-campo. Do outro lado, ainda falta muito para enterrar o atual trabalho de Zinedine Zidane no Real Madrid, mas os sinais não são nada bons. Que os parisienses tenham jogado muito, os merengues não se ajudaram. Não acertaram um chute sequer na meta de Keylor Navas e ofereceram avenidas na defesa, que explicam os tentos. Foi a primeira derrota dos madridistas em uma estreia de Champions desde 2006.
O Paris Saint-Germain não contava com o suspenso Neymar, assim como foram desfalques os lesionados Kylian Mbappé e Edinson Cavani. A linha de frente “alternativa” vinha composta por Ángel Di María, Mauro Icardi e Pablo Sarabia. Além do mais, Thomas Tuchel promoveu a estreia de Navas e Gueye pelo clube no torneio continental. O Real Madrid também vivia seus problemas. Sergio Ramos era a grande lacuna na zaga, suspenso, enquanto a longa lista de contundidos incluía Luka Modric e Marcelo. A aposta ficava para o estrelado trio de frente, formado por Gareth Bale, Karim Benzema e Eden Hazard.
Antes que a bola rolasse, a torcida do PSG deu um espetáculo durante a entrada das equipes em campo. Fez uma grande coreografia e cantou a plenos pulmões para empurrar o seu time. Energia que se expandiu para dentro das quatro linhas. Mesmo sem os seus astros, os parisienses começaram o duelo com uma boa dose de confiança. Conseguiam rodar bem a bola e expunham as limitações defensivas do Real Madrid. Além disso, os merengues não encontravam espaços quando retomavam a bola. Assim, a primeira finalização dos franceses já terminou nas redes, aos 14.
O lance exibiu o ótimo trato do PSG com a bola – e a fragilidade do Real Madrid na marcação. Marquinhos ganhou pelo alto e logo Juan Bernat emendou a tabela com Icardi pela esquerda do ataque. O lateral fez o passe rasteiro na linha de fundo e encontrou Di María solitário dentro da área. O argentino bateu de primeira, entre a trave e Thibaut Courtois. A impressão é de que o goleiro poderia ter feito melhor no lance. Sorte ao argentino.
O Real Madrid passou a sair mais para o jogo depois do gol e deu os seus sustos. Hazard bateu com perigo para fora e Bale mandou uma cobrança de falta por cima do travessão. De qualquer maneira, o PSG era mesmo superior. Sabia como se impor e a empurrar os merengues contra a parede. A fluidez do meio-campo parisiense era enorme e resultou no segundo gol, aos 33. Gueye protagonizava uma partidaça, dando muita intensidade. Após uma cobrança de lateral, o novato tabelou com Marquinhos e apareceu com liberdade na entrada da área. Serviu Di María, que teve tempo para dominar e acertar um chute preciso de canhota, no canto de Courtois.
Por muito pouco o Real Madrid não descontou na sequência. E seria um golaço. Bale pegou uma sobra de bola no bico da grande área e mandou por cobertura. Todavia, a pelota havia batido em seu braço e o VAR flagrou, auxiliando o árbitro na correta anulação. O galês, aliás, era o jogador merengue que mais aparecia. Ainda tentou vencer Navas outras duas vezes antes do intervalo, sem acertar o pé. Faltava organização aos espanhóis, que não viam as combinações de seus craques para romper a marcação. Zidane comanda o que mais parece um bando, não uma equipe.
O Real Madrid voltou para o segundo tempo com mais posse de bola, mas era improdutivo no ataque. O PSG se defendia com solidez e, quando saiu mais para o jogo, botou pressão lá pelos 15 minutos. Foram três boas chances em sequência. Courtois abafou Icardi, antes de Di María tentar uma cavadinha e mandar para fora. Sarabia, incomodando bastante pelo lado direito, também tentou e errou o alvo por pouco. A impressão era de que, se desejasse se arriscar mais, os franceses poderiam golear. Mas já pareciam satisfeitos com a diferença no placar, um pouco mais resguardados.
Tuchel colocou Eric Maxim Choupo-Moting e Ander Herrera na sequência do segundo tempo, nos lugares de Icardi e Marquinhos. Zidane, por sua vez, demorou 25 minutos para fazer suas primeiras alterações. Tirou os nulos Hazard e James Rodríguez, apostando em Lucas Vázquez e Luka Jovic. Por um breve período, os merengues ameaçaram mais. Benzema teve um gol anulado, por interferência do impedido Lucas Vázquez, e também deu uma cabeçada para fora na sequência. Logo Zidane colocaria Vinícius Júnior, suplantando Bale. Mas a verdade é que o esboço de reação não foi muito além e o brasileiro mal pegou na bola.
Durante os minutos finais, o PSG começou a emendar contra-ataques com maior facilidade. Encontrava um adversário desesperado e ainda mais aberto. Choupo-Moting deu seu aviso aos 39, num chute por cima do gol. E, entre aplausos a Gueye e Sarabia, os parisienses fizeram por merecer o terceiro nos acréscimos. Foi uma aula de contra-ataque dada por Thomas Meunier. O lateral roubou a bola no campo de defesa e disparou. Os franceses trocaram passes rápidos e em progressão, fazendo os merengues parecerem meros cones. Depois de receber à frente, de Di María, Meunier entregou a Bernat e recebeu de volta uma bola picada, após a saída de Courtois. Então, com a meta aberta, o belga só precisou concluir. Fim do baile.
Os três gols de vantagem foram bem mais justos à imposição do Paris Saint-Germain. Os anfitriões apresentaram uma equipe muito mais encaixada e se valeram das boas atuações individuais – inclusive dos reforços pouco badalados contratados no mercado. Com os pés no chão, os parisienses indicam certa maturidade sob as ordens de Thomas Tuchel. Falta agora demonstrar este potencial também nos mata-matas, onde os franceses acumulam eliminações dolorosas.
Já o Real Madrid amplia sua crise, em meio a uma bagunça que não indica tantas perspectivas de melhora. Qualidade no elenco não falta, mas as insistências de Zidane parecem minar o potencial da equipe. Falta jogo e também falta alma. Em uma chave contra Galatasaray e Club Brugge, ao menos, os espanhóis seguem como favoritos à classificação. No entanto, está bem claro que precisam mostrar muito mais futebol. O PSG aparece passos à frente, mesmo sem contar com os seus craques.