Champions League

Como os planetas se alinharam para transformar Choupo-Moting no mais improvável dos heróis improváveis

Eric Choupo-Moting chegou ao Paris Saint-Germain, em 2018, um ano depois de Neymar e Mbappé. Era uma contratação que contrastava com o projeto estelar dos franceses financiados pelo Catar, mas se explicava. Havia sido liberado pelo Stoke City, rebaixado à segunda divisão, e, como não dava para o PSG forçar mais a boa vontade do Fair Play Financeiro, ele pelo menos oferecia mais um corpo e certa experiência para dar um descanso aos craques nos jogos mais fáceis. O que ninguém poderia imaginar era que o PSG estava contratando o responsável por colocá-lo na semifinal da Champions League pela primeira vez em 25 anos.

Tudo bem: Neymar foi o melhor em campo e decisivo nos dois gols, mas quem deu o último toque na bola da grande virada do PSG foi o camaronês de 31 anos, que também participou bem da jogada do primeiro gol. Entrou aos 34 minutos do segundo tempo no lugar do apagado Mauro Icardi e não foram poucos – este escriba incluso – que acharam que era um daqueles momentos “agora vai!”, aquele comentário jocoso quando é pouco provável que a substituição mude o panorama.

Nascido em Hamburgo, foi no clube daquela cidade que começou uma carreira pouco além de mediana. Teve poucas chances no time principal antes de se mudar para o Mainz de Thomas Tuchel, atual treinador do PSG. E lá foi bem competente, com duas temporadas de 10 gols na Bundesliga e uma muito prejudicada por lesões. Ganhou uma promoção ao Schalke 04, ao fim do seu contrato, e teve números mais modestos. Foi rebaixado pelo Stoke City na Premier League, com apenas cinco gols marcados, e aí pintou a oportunidade.

Foi uma daquelas situações em que várias coisas se alinham ao mesmo tempo. O PSG precisava desesperadamente de mais um homem de ataque. Na temporada 2017/18, Cavani e Mbappé estiveram entre os cinco jogadores do PSG com mais minutos em campo. Neymar teria se aproximado, mas se machucou, o que deu mais tempo de jogo para Di María. Draxler também atuou bastante, geralmente no meio-campo.

Outras opções para o ataque, porém, mal foram utilizadas. Christopher Nkunku fez 684 minutos. Lucas Moura teve 79 antes de se transferir ao Tottenham, e Gonçalo Guedes jogou sete. Guedes e Lucas ainda foram embora. Com € 400 milhões comprometidos em Neymar e Mbappé, o pouco dinheiro disponível foi reservado para outras posições e expandir as opções ofensivas dependeria da criatividade.

A última peça do quebra-cabeça foi a chegada de Tuchel para comandar o PSG na vaga de Unai Emery. Nesse contexto, Choupo-Mouting surgiu como um razoável quebra galho. Era velho conhecido do treinador, tinha experiência de mais de 200 jogos de Bundesliga, capitão da seleção camaronesa e custaria bem barato. Como havia sido rebaixado à Championship, e precisava aliviar a folha de pagamento, o Stoke City concedeu a rescisão de contrato por “acordo mútuo”. Choupo-Mouting assinou por dois anos.

Seu tempo de jogo em Paris foi meramente marginal. Fez 31 jogos na primeira temporada, 13 como titular e cerca de 1,2 mil minutos no total, média de 40 por partida. Fez três gols. A chegada de Icardi diminuiu ainda mais o seu espaço, para apenas 18 jogos, oito desde o início, e 779 minutos. Havia marcado cinco vezes nesta temporada antes de enfrentar a Atalanta e ficado marcado por alguns gols perdidos inacreditáveis – como este aqui.

Ele o fez em parte porque o contrato de Edinson Cavani com o PSG chegou ao fim antes da disputa das fases finais da Champions League, adiadas por causa da pandemia, e o clube francês preferiu liberá-lo em vez de tentar uma extensão emergencial de contrato. Como fez com Choupo-Mouting. Pois é: o contrato dele acabaria em 30 de junho e foi estendido até o último dia de agosto apenas para a disputa da Champions League.

Essa foi a história que levou o camaronês ao Estádio da Luz, nesta quarta-feira. Aos 45 minutos do segundo tempo, recebeu a bola na ponta direita, centralizou e cruzou de perna esquerda. Neymar matou e centrou para Marquinhos empatar. Três minutos depois, estava na marca do pênalti apenas esperando. Neymar descolou o lindo passe para Mbappé, que cruzou e Choupo-Mouting se tornou um dos mais improváveis heróis improváveis do futebol.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.

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