Com uma tranquilidade até surpreendente, o Barcelona dominou o primeiro tempo e despachou o Napoli
O encontro com o Napoli dentro do Camp Nou poderia ser visto como um jogo perigoso ao Barcelona. O empate por 1 a 1 no San Paolo mantinha a situação aberta, bem como a fase atual dos blaugranas não inspirava muita confiança. Entretanto, a classificação veio com uma tranquilidade até surpreendente ao time de Quique Setién. Os napolitanos insistiram até os últimos minutos, mas não que tenham colocado em risco o resultado dos anfitriões. Ainda no primeiro tempo, o Barça resolveu a parada. Os catalães tiveram eficiência em suas chegadas, contaram com o poder decisivo de Lionel Messi e se protegeram razoavelmente bem atrás. A vitória por 3 a 1 carimba a vaga nas quartas de final, com o duelo diante do Bayern de Munique, marcado para a próxima sexta-feira.
Quique Setién escalou o Barcelona no 4-3-3. Sem Arturo Vidal ou Sergio Busquets para o meio-campo, o setor veio com Sergi Roberto, Ivan Rakitic e Frenkie de Jong. O croata ficava mais centralizado. Já no ataque, o trio principal com Lionel Messi, Luis Suárez e Antoine Griezmann, deixando o uruguaio no papel de referência, com os companheiros mais abertos pelos lados. Gennaro Gattuso, por sua vez, repetia seu básico 4-3-3. O destaque ficava ao trio ofensivo veloz composto por José Callejón, Dries Mertens e Lorenzo Insigne.
O Napoli não deu nem tempo ao Barcelona pensar muito, e logo provocou um enorme susto no Camp Nou com menos de dois minutos. Em passe que desviou duas vezes, Dries Mertens recebeu a bola totalmente livre dentro da área. O belga não chutou em cheio, mas mandou uma bola venenosa que deixou Marc-André ter Stegen estático. O goleiro certamente agradeceu ao ver o tiro pegando na trave. E não foi apenas este lance. Os napolitanos eram melhores durante o início da partida, trabalhando os passes com calma e aguardando uma brecha.
A primeira chegada do Barcelona, porém, rendeu o primeiro gol da partida, aos dez minutos. Messi bateu desviado e, na cobrança de escanteio de Rakitic, Clément Lenglet saltou no meio da área para concluir de cabeça. Só que o lance gera discussão: antes de pular, o zagueiro empurrou Diego Demme, que ainda derrubou Kalidou Koulibaly. O VAR examinou a jogada, mas não marcou a falta do barcelonista. A questão é a intensidade do contato. Na sequência, o tento permitiu que o Barça crescesse. O Napoli não tinha profundidade, sem penetrar a marcação.
E a tranquilidade ao Barcelona seria ampliada por uma jogada fabulosa de Messi, aos 23. O craque proporcionou uma daquelas suas arrancadas marcantes. Pegou a bola pelo lado direito e, num curtíssimo espaço, conseguiu passar por dois. Desequilibrou-se, mas manteve a bola em seus pés, e se levantou. Ainda se livrou de mais um adversário, antes de ficar com ângulo para finalizar e bater na bola, já caindo. Acertou o cantinho de David Ospina, numa pintura tanto de talento quanto de vontade, que foge do repertório do camisa 10.
O Napoli sentiu o gol e via um Barcelona sereno ser bem mais eficiente, criando suas chances. Luis Suárez tentaria deixar o seu duas vezes. Depois de uma batida para fora, forçou boa intervenção de Ospina. Na sobra, Frenkie de Jong deu um cruzamento de três dedos e mandou a bola no peito de Messi. O craque dominou e deu um toquezinho sobre o goleiro para fazer aquele que seria o terceiro. Entretanto, o VAR voltou a analisar a jogada e, desta vez, entendeu que houve um toque no braço de Messi – apesar das imagens pouco conclusivas. Assim, os dois gols de diferença seguiam.
Não era um jogo em ritmo necessariamente corrido. O Barcelona se protegia bem ao redor de sua área, quando o Napoli trocava passes, e também não tinha pressa para atacar. Todavia, após tantas noites infelizes nos últimos meses, desta vez o encontro parecia fluir a favor do Barça. Muito mal na partida, Koulibaly permitiu que Messi tomasse à sua frente e o zagueiro chutou o pé do atacante, na tentativa de afastar a bola. O árbitro Cüneyt Çakir conferiu a disputa no vídeo e anotou o pênalti. Com Messi sentindo a pancada, Suárez converteu aos 46. E nos longos acréscimos, os napolitanos se reavivaram pouco antes do intervalo. Do outro lado, Rakitic derrubou Mertens e Lorenzo Insigne cobrou o penal, descontando. Ainda houve tempo para os italianos ameaçarem o segundo, em jogada pela linha de fundo que Gerard Piqué afastou.
O Napoli precisava de dois gols e seria natural ao time tomar a iniciativa durante o segundo tempo. Stanislav Lobotka entrou no meio-campo e os celestes passaram a pressionar mais, especialmente com bolas alçadas na área. Só não conseguiram finalizar com qualidade. Na maior brecha do Barcelona neste início, Insigne testou em cima de Ter Stegen. Os blaugranas passariam a apostar mais nos contra-ataques e tiveram algumas boas escapadas, mas nada que ameaçasse Ospina. O grande mérito dos catalães neste momento era a forma como o time se defendia com solidez, sem conceder espaços ao Napoli.
Por volta dos 15 minutos, o Barcelona se adiantou um pouco mais em campo. Trocou passes no ataque e, quando o Napoli pegava a bola, passou a pressionar na marcação. Os celestes correram alguns apuros neste momento, precisando rifar a bola para não entregar de bandeja aos anfitriões. Aos 25, Gattuso responderia com mais mudanças. Matteo Politano e Hirving Lozano foram as apostas. E logo no primeiro lance, o mexicano recebeu o cruzamento de Insigne, mas pegou mal na bola e mandou longe do gol. Faltava aos celestes jogarem um pouco mais no chão – ou colocarem logo Arkadiusz Milik na área.
O Barcelona não se esforçava muito para buscar o quarto gol. Enquanto isso, o Napoli ainda acreditava e tentava pressionar. A necessária entrada de Milik aconteceu aos 34 minutos, ao lado de Eljif Elmas. No primeiro chuveirinho, o centroavante já cabeceou para dentro, mas estava impedido. E os napolitanos permaneceram forçando em busca de sua sobrevida. Lozano apareceria mais uma vez, em conclusão quase sem ângulo, que Ter Stegen deixou bater na trave. A primeira troca do Barça ocorreria só aos 38, com o apagado Griezmann dando lugar ao garoto Monchu.
E a persistência do Napoli, mesmo que sem contundência, marcaria o desfecho da noite. Mais desgastado, o Barça concedia um pouco mais de espaços, enquanto os italianos empurravam. Mas não que isso tenha gerado tantas ocasiões assim antes do apito final. Ter Stegen só precisaria trabalhar nos acréscimos, rebatendo uma bola fechada de Giovanni Di Lorenzo na linha de fundo. Os napolitanos até terminariam o jogo com mais finalizações, 14 contra 8. Porém, as estocadas no primeiro tempo valeram a classificação ao Barcelona.
O Napoli deixou a desejar. Faltou mais agressividade aos celestes, até pelas peças disponíveis no ataque. De qualquer forma, o resultado não surpreende. A esperança de classificação dos italianos também se concentrava sobre o mau momento do Barcelona, e este não deu as caras no Camp Nou. Com segurança, o Barça segue em frente. Resta saber se isso bastará para encarar o Bayern de Munique nas quartas de final. O nível de exigência será muito maior, por todas as alternativas de jogo e pela capacidade individual dos bávaros. A intensidade será outra, imposta pelos adversários. Mas o fato de ser um único duelo pode contribuir para que o Barça surpreenda. Tem craques para isso, afinal. Tem Messi.