Champions League

O Olympiastadion sucumbiu aos pés do Braga, com uma incrível virada sobre o Union

O Union Berlim contava com uma grande atuação de Sheraldo Becker e abriu dois gols de vantagem, mas o Braga buscou uma virada memorável na Alemanha, com belos gols e a definição no último suspiro

O Estádio Olímpico de Berlim recebeu uma partida singular para a torcida do Union Berlim nesta terça-feira: a estreia do clube em casa numa Champions League. Os alvirrubros não decepcionaram nas arquibancadas, com os 75 mil presentes fazendo a esperada festa durante os 90 minutos. E a torcida presenciaria uma grande partida, mas com final amargo, em que o épico pendeu ao outro lado: num senhor jogo de futebol, o Braga buscou uma sensacional virada nos dez segundos finais dos acréscimos. Mesmo com a derrota, o Union fez uma apresentação razoável e buscou a vitória até os últimos momentos. Porém, os méritos maiores são dos Arsenalistas, que se refizeram dos erros de início para transformar o cenário na Alemanha. Num jogo em que perdiam por 2 a 0 fora de casa, ganharam por 3 a 2 nos últimos suspiros.

O diferencial do Braga ficou para os lindos gols no segundo tempo, que quebraram as pernas do Union Berlim. Foram jogadas muito bem trabalhadas, para as conclusões cirúrgicas de Bruma e André Castro. Ricardo Horta também teve momentos fundamentais no setor ofensivo, como liderança técnica dos portugueses. Já o Union contou com uma atuação eletrizante de Sheraldo Becker, autor de dois gols e outros problemas mais. Contudo, o time não aproveitou totalmente seus momentos e, mesmo trancando a área, os espaços de média distância se tornaram fatais.

As formações

O Union Berlim entrou em campo com seu 3-5-2 montado por Urs Fischer. Frederik Rönnow ocupava o gol, com Leonardo Bonucci acompanhado por Diogo Leite e Danilho Doekhi na zaga. Josip Juranovic e Robin Gosens davam agressividade nas alas, com o meio formado por Alex Král, Janik Haberer e Lucas Tousart. Kevin Behrens tinha a parceria no ataque de Sheraldo Becker, com a braçadeira de capitão e mais solto para flutuar. Já o 4-2-3-1 de Artur Jorge no Braga começava com Matheus no gol. Josafat Mendes, Serdar Saatçi, Sikou Niakaté e Cristián Borja formavam a defesa. Rodrigo Zalazar e Mutassim Al Musrati eram os volantes. Álvaro Djaló, Ricardo Horta e Bruma formavam a trinca de meias. Simon Banza ficava isolado no ataque.

Existia uma atmosfera eletrizante no Olímpico, com o estádio inteiro pintado de vermelho, da pista de atletismo à cobertura. Antes que a bola rolasse, a torcida do Union Berlim realizou um protesto. Exibiu faixas em que criticava a regulamentação da Uefa sobre os estádios nas suas competições, dizendo: “Vocês não se importam com o esporte, tudo o que importa para vocês é o dinheiro!”. Nesta temporada, o Union utiliza o Estádio Olímpico por opção, para contemplar os sócios do clube e para que mais gente viva a experiência na Champions. Contudo, o clube não pôde atuar no Estádio An der Alten Försterei na Conference League de 2021/22, por causa das restrições da Uefa. A permissão para jogar em casa só veio na Liga Europa 2022/23.

Becker acaba com o primeiro tempo

O Union Berlim chegou a comemorar um gol logo de cara, aos quatro minutos, mas o lance acabou anulado por impedimento. Gosens balançou as redes, mas Sheraldo Becker estava adiantado na criação da jogada. Seriam minutos iniciais mais travados, com a defesa do Union bloqueando bem os espaços do Braga e os Eisernen ainda com dificuldades de criar, buscando o lado direito com Juranovic. Os minhotos ameaçaram numa cobrança de falta sem resultados. Já os berlinenses vacilaram num contra-ataque no qual Behrens demorou demais a definir.

O Union Berlim se tornou gradativamente mais perigoso a partir dos 20 minutos. Tinha escapadas em velocidade, mas ainda não conseguia concluir com perigo. O mapa da mina estava desenhado, com a defesa do Braga exposta. O gol pintou num contra-ataque fulminante, aos 30. Juranovic roubou a bola, Kral fez o lançamento rasteiro e Sheraldo Becker disparou pela direita. O surinamês invadiu a área e tocou por baixo de Matheus, sem ter o que fazer. Na resposta dos Arsenalistas, Rönnow fez defesa segura contra Bruma. Entretanto, a superioridade dos Eisernen estava clara. Especialmente pela fome de bola de Sheraldo Becker.

Cada escapada do Union Berlim era um susto do Braga. E a ligação direta fez a diferença novamente aos 37 minutos. Doekhi fez o lançamento e Tousart deu uma casquinha de cabeça na bola, no meio do caminho. Sheraldo Becker partiu em velocidade nas costas da zaga pela enésima vez e definiu com muita qualidade. A partida estava nas mãos dos berlinenses, com uma audível festa da torcida nas arquibancadas. Até pelo clima, o primeiro gol do Braga caiu dos céus aos 41. Depois de um escanteio, Ricardo Horta chutou de fora e Rönnow rebateu, com Sikou Niakaté fazendo no rebote. Os bracarenses até se animaram pelo empate na reta final, mas o Union conseguiu segurar a empolgação dos visitantes.

Golaço de Bruma e a inacreditável virada

O Union Berlim até parecia ter voltado melhor para o segundo tempo. Nem deu tempo de sentir muito, com o gol de empate do Braga aos seis minutos. Poucas cobranças de escanteio poderiam ser tão bem executadas: Zalazar cobrou invertendo a bola para o bico oposto da grande área. Ricardo Horta dominou livre e ajeitou para Bruma na intermediária. Foi um chute de extrema felicidade do atacante, no ângulo de Rönnow. Uma pintura. E os Eisernen sentiram o gol. O Braga seguiu melhor e Rönnow teria trabalho para evitar a virada, num chute forte de Ricardo Horta aos 16. A defesa lusitana não dava o mesmo mole do outro lado, bloqueando as ligações.

Foram duas mudanças no Union Berlim aos 18, com Tousart e Behrens dando lugar a Aïssa Laïdouni e Kevin Volland. As trocas auxiliaram os Eisernen, que melhoraram suas combinações no ataque. Matheus realizou uma senhora defesa aos 25, num chute livre de Volland, após cruzamento de Becker pela esquerda. A resposta do Braga viria com João Moutinho e Adrián Marín, saindo Zalazar e Borja. Só faltava conseguir brecar Sheraldo Becker. Logo na sequência, o atacante recebeu o passe por elevação de Laïdouni e passou por Matheus, mas ficou sem ângulo e acertou o lado de fora da rede. Já aos 33, num lance trabalhado, Becker teve todo o tempo para definir dentro da área e o chute colocado facilitou o corte da defesa.

Com o Union Berlim mais inteiro fisicamente, Urs Fischer ainda acionou Brenden Aaronson, deixando o time mais ofensivo no lugar de Haberer. Ricardo Horta e Djaló saíram no Braga na sequência, entrando Abel Ruiz e Vitor Carvalho. Aaronson teria boas participações neste momento, inclusive com uma cabeçada que assustou aos 41. Já as últimas alterações ocorreram logo depois, com Jérôme Roussillon nos alemães e André Castro nos portugueses. A torcida cantava bastante na reta final e os dois times não se entregavam, com um pouco mais de gás do Union. Kral forçou uma boa defesa de Matheus aos 48, num chute de longe.

O que ninguém esperava é que, a dez segundos do fim, o Braga emplacaria outro chutaço para definir a virada. André Castro foi um substituto providencial. Numa reposição longa de Matheus, Abel Ruiz sambou diante da marcação pela direita e Bruma fez o pivô na entrada da área. Castro arriscou o chute de fora e, mesmo com o caminho congestionado, acertou o cantinho de Rönnow. Lindo gol. Ainda restaram poucos segundos ao Union, mas a vitória era mesmo dos minhotos. O apito final resultou numa comemoração digna de título dos Arsenalistas. É um resultado que deixa o time vivo e, no mínimo, pode ser decisivo por uma vaga nos mata-matas da Liga Europa.

O Braga chega aos três pontos no grupo e deixa o Union Berlim zerado na lanterna, já em situação delicada. Após a Data Fifa, o Union terá jogos essenciais na Bundesliga, contra Borussia Dortmund e Stuttgart, antes de receber o Napoli pela Champions. O Braga pega o Rio Ave pelo Campeonato Português e o Rebordosa Atlético Clube pela Taça Portugal, antes de receber o Real Madrid.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo