Bayern teve no PSG um adversário à altura, mas executou seu plano à risca para ficar com a Champions League

Quem esperava que o Bayern de Munique atropelasse o Paris Saint-Germain na final da Champions League 2019/20 se decepcionou. Ou, pelo contrário, apreciou um duelo elevado, de dois oponentes um à altura do outro. Bem postado defensivamente, o PSG ofereceu um desafio formidável aos bávaros, ainda que com um primeiro tempo melhor do que o segundo. Ao fim, um gol solitário de Kingsley Coman, formado pelo próprio clube parisiense, decidiu a vitória por 1 a 0 e o sexto título da história do Bayern na principal competição de clubes da Europa.
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Respondendo à dúvida dos últimos dias, o Bayern de Munique manteve sua linha defensiva alta, mesmo diante do risco a que se expunha nos contra-ataques rápidos do PSG. Especialmente no começo, a tentativa era ficar no campo dos franceses, fazendo pressão alta na saída de bola do time de Tuchel e tentando forçar os oponentes ao erro.
Aos 12 minutos, Herrera perdeu a bola na defesa para Coman, que acabou parado logo na sequência pelos zagueiros do Paris. O jogo do Bayern começava a mostrar resultado, e faltava aos jogadores do Paris um pouco mais de atenção com a bola. Antes de Herrera, Marquinhos havia cometido o mesmo erro.
No primeiro indício de qual seria o seu caminho ao ataque, Mbappé recebeu a bola pela esquerda após passe brilhante de Paredes, dividindo a jogada com Müller e quebrando linhas com um só toque. O francês, no entanto, acabou travado na hora da finalização.
Aos 18 minutos, na primeira grande chance do jogo, Neymar recebeu passe de Mbappé e, dentro da área, finalizou para grande defesa de Neuer, que pegou também o rebote do brasileiro, que tentava o cruzamento para o meio da área.
A resposta do Bayern de Munique veio quatro minutos mais tarde. Lewandowski recebeu cruzamento baixo, da esquerda, girou para cima de Kimpembe e bateu tentando tirar do alcance de Keylor Navas. Fez o suficiente para tanto, mas acabou também tirando da trajetória do gol, acertando a trave direita.
Em seguida, aos 23 minutos, em contra-ataque rápido, Neymar recebeu passe acrobático de Mbappé, arrancou com a bola do meio do campo e soltou na hora certa para Di María, pela direita, na frente da área. O argentinou tocou para trás com Herrera, recebeu de volta, mas seu chute, com a direita, foi por cima do gol de Neuer. O ataque foi tão intenso que Jérôme Boateng, com um problema muscular, teve que deixar o campo, dando lugar a Nicklas Süle. Com isso, o Bayern perdia uma de suas armas: as bolas longas do experiente zagueiro. Mesmo assim, teria ainda várias cartas na manga para chegar ao ataque.
Depois de iniciar melhor a partida e ver o PSG equilibrar as ações, o Bayern passou dos 30 aos 40 minutos diminuindo o ritmo do jogo, aumentando a posse da bola e evitando os ataques rápidos dos parisienses. Neste intervalo, ainda criou excelente oportunidade com Lewandowski, que cabeceou de dentro da pequena área para grande defesa de Navas. A chance foi criada com o que foi cada vez mais a jogada buscada pelos bávaros: amplitude pelas pontas antes de cruzar para dentro da área.
Aos 42 minutos, Neymar, no talento individual, avançou entre as linhas do Bayern e levou o PSG novamente próximo da área. Tocou para Di María, que acabou perdendo a bola enquanto buscava se livrar da marcação.
Em um encontro de dedicação máxima às ideias de jogo de ambos os lados, a busca era pelo erro do adversário, e o do Bayern chegou aos 45 minutos. Alaba errou passe dentro de sua própria área, entregando no pé de Mbappé. O francês driblou, abriu com Herrera, e o espanhol, brilhantemente, tocou de volta quase que de imediato para o camisa 7. Livre dentro da área, Mbappé bateu fraquíssimo, apenas recuando para Neuer.
Levemente melhor no primeiro tempo, o PSG ainda assim quase foi para o intervalo perdendo. Aos 46 minutos, Gnabry levou perigo pela direita, com chute sem ângulo parado por Navas. No lance seguinte, Coman foi derrubado na área por Kehrer, mas o contato não foi forte suficiente para o VAR enxergar lance de pênalti.
Nos primeiros dez minutos do segundo tempo, o Bayern seguiu dominando a posse de bola e empurrando o PSG em seu campo. Ao longo da segunda etapa, teria sucesso em secar as poucas fontes de ataques dos parisienses, os contragolpes rápidos.
Aos sete minutos de segundo tempo, o clima do jogo começou a esquentar. Neymar tinha acabado de levar uma pancada de Goretzka e revidado imediatamente com um lençol, irritando os jogadores do Bayern, em especial Gnabry. Em um lance na sequência, o alemão acertou o brasileiro na beira do campo, e Paredes tomou as dores do companheiro. Gnabry e o argentino acabaram levando o cartão amarelo. Dali em diante, momentos mais tensos entre os adversários se intensificaram, mas sem sair do controle.
Ao longo da partida, o Bayern havia aumentado sua incidência de lance pelos lados, implementando também viradas de jogo para pegar o PSG desprevenido. Em um desses lances, veio o gol da partida.
Na entrada da área, Lewandowski fez um belo pivô para Kimmich, e o alemão acertou um cruzamento nada menos do que genial na cabeça de Coman. Sozinho pela esquerda, nas costas de Kehrer, o francês, formado no próprio PSG, cabeceou e abriu o placar.
Explorando mais uma vez o espaço nas costas de Kehrer, a partir da inversão rápida de jogo, Müller cruzou da direita para a chegada de Coman, que bateu e viu Thiago Silva afastar rente à linha do gol.
Aos 19 minutos de segundo tempo, precisando ter mais a posse de bola e propor o jogo, Tuchel colocou Verratti no lugar de Paredes. O italiano, em condições normais, teria sido o titular, mas ainda busca recuperação completa de uma lesão sofrida pouco antes do reinício da Champions League.
Três minutos mais tarde, Neymar abriu com Di María, que cruzou em diagonal para Mbappé. O francês não conseguiu alcançar a bola para a finalização, e Neuer segurou com tranquilidade. Aos 25, Di María mais uma vez apareceu na criação, dando passe brilhante para a infiltração de Marquinhos dentro da área. Sem o dom de finalizador, o brasileiro parou em outra defesa de Neuer.
Para a reta final do segundo tempo, o Bayern promoveu duas modificações, com a entrada de Perisic e Coutinho nos lugares de Coman e Gnabry. Do lado do PSG, Herrera, que tinha ido bem sobretudo no primeiro tempo, deu lugar a Draxler. Já aos 35 minutos, Bernat sentiu lesão e teve que sair para a entrada de Kurzawa. Paralelamente, Di María foi substituído por Choupo-Moting. Tolisso, por fim, entraria no lugar de Thiago para os minutos finais.
Nenhuma dessas alterações, no entanto, mudou o jogo. O Bayern seguiu seguro na liderança do placar, sem sofrer perigo e conseguindo anular quaisquer instantes de criatividade do PSG, que foram poucos. Neymar, ao fim do duelo, já sofria com o cansaço e começava a acumular pequenos erros. Ainda assim, passou por seus pés o mais próximo que tivemos de uma boa chance do Paris Saint-Germain na etapa final.
Aos 47 minutos, Verratti acertou lindo passe de longa distância para Mbappé, no contra-ataque. Com toda a defesa do Bayern à sua frente, o francês tomou seu tempo e esperou a melhor oportunidade para definir. Tocou então por trás dos zagueiros do Bayern para a ultrapassagem de Neymar. Sem ângulo, o brasileiro dominou girando e tentou o chute, e a bola passou em frente ao gol, quase alcançando Choupo-Moting, na pequena área.
Já com semblante de derrotado, o PSG não conseguiu buscar o gol que o colocaria de novo na disputa.
O 1 a 0 foi magro, mas garantiu ao Bayern de Munique a sua segunda tríplice coroa na história, a primeira tendo sido alcançada justamente na conquista passada da Champions League, em 2012/13. Ao todo, são seis conquistas de Liga dos Campeões para os bávaros. Esta, no entanto, guarda seu próprio elemento especial: é a primeira vez que um campeão termina a competição com 100% de aproveitamento.
O PSG, decepcionado por chegar tão longe e ver o sonho ruir, ainda tem o que celebrar. Essa foi a primeira vez que o clube alcançou a final da sua tão sonhada competição. E, como bem sabemos, na Champions, chegar longe – e com frequência, claro – é importante para um dia levantar a taça. Com os últimos aprendizados, o Paris se colocou em uma posição diferente, que o fortalece para as próximas edições.