Apesar da queda, o City não pode se esquecer da atuação excepcional de seus craques
Quando os torcedores do Manchester City forem recontar esta desclassificação para o Tottenham na Liga dos Campeões, o mote principal é claro: o gol anulado pelo VAR, que interrompeu o coito nas arquibancadas do Estádio Etihad e permitiu que os Spurs segurassem a vaga nas semifinais. No entanto, os Citizens também precisam se lembrar da insistência de seu time. Precisam valorizar a perseverança, que por muito pouco não teve o mesmo destino daquele lendário jogo contra o Queens Park Rangers. Sobretudo, porque os craques não se apequenaram. Por motivos diferentes, os principais talentos da equipe pareciam estar mordidos e ficaram a centímetros de concluir uma virada memorável. Precisa resistir ao menos o reconhecimento ao que protagonizaram.
[foo_related_posts]Kevin de Bruyne é grande candidato a melhor em campo. Principalmente, porque escancarou o erro de Pep Guardiola ao deixá-lo de fora no primeiro jogo. O belga, como lhe apetece, ditou o ritmo do meio-campo. Deu seus passes precisos e comandou a faixa central. Todavia, parecia especialmente disposto a atacar e a abrir caminhos ao City. Foram três assistências para quatro gols. Duas vezes encontrou Raheem Sterling desimpedido, na outra o presente foi a Sergio Agüero. Em todas, chamou a marcação para si e criou, além dos passes, também os espaços para que os companheiros aproveitassem. Acima da média.
Combinando-se com De Bruyne pelo lado direito, muitas vezes aparecia Bernardo Silva. O português não jogou o duelo em Londres por problemas físicos e se tornou muito mais útil à equipe do Riyad Mahrez. Partiu para cima da marcação e certamente provocará pesadelos em Danny Rose, que não conseguiu acompanhá-lo a todo o tempo. Nem sempre o ponta acertou a conclusão de suas jogadas. Ainda assim, quando o fez, mudou os rumos do duelo. Arrancou um empate aliviante ao City e criou a virada com um passe de calcanhar fantástico. É uma das referências da temporada, especialmente por se mostrar um talento maior do que já se sabia.
Se o segundo tempo de Bernardo Silva não foi determinante, o Manchester City viu Agüero se agigantar. Teve uma atuação para relembrar que ele, mais do que qualquer outro, é o craque que mudou a história recente do clube. O gol do centroavante veio em seu melhor estilo, partindo em velocidade e chutando com muita força. Brigou por todas as bolas e foi o homem mais lúcido do ataque quando mais se sentia dificuldades. Ele nunca desistiu. Poderia ter garantido a classificação numa cabeçada muito bem defendida por Hugo Lloris. E ainda ficou a um triz de ser o garçom fatal, no passe para Sterling que terminou anulado por seu infeliz impedimento. Depois da apresentação ruim em Londres, perdendo pênalti, Agüero quis mudar a sua sorte.
Por fim, Sterling poderia ter confirmado sua temporada excepcional com uma atuação irrepreensível. Nem precisou ser o mais preponderante na linha de frente do City. Em compensação, foi cirúrgico. Anotou um golaço para abrir o placar, foi oportunista para virar. Esteve próximo de outro tento no início do segundo tempo, frustrado por Lloris quase em cima da linha. Até que o sabor doce do heroísmo final fosse tirado de sua boca, com justiça. Em um ano no qual as lesões foram um problema persistente aos celestes, o inglês ascendeu como o principal personagem. Ainda tentará se condecorar na Premier League.
Além do VAR e dos heróis, o Manchester City também precisa refletir sobre seus erros. Não dá para admitir a quantidade de falhas que a defesa cometeu, em absolutamente todos os gols. Da mesma maneira, se não inventou como no primeiro jogo, Pep Guardiola não foi muito feliz em suas alterações. Tudo fica submetido a uma questão de detalhes, mas é fato que os Citizens acabarão remoendo este revés para o Tottenham por um bom tempo. A vitória aconteceu, mas não da maneira necessária, acumulando os problemas da ida. E o resultado final não reconhece da maneira devida o trabalho de tantos jogadores acima da média.