Leão ruge

Barcelona 100%. Real Madrid 100%. Os dois favoritíssimos ao título espanhol não cedem espaço e, após três rodadas, já se destacam dos times “comuns”. Ou melhor, de todos menos o Athletic Bilbao. O surpreendente time basco também venceu suas três primeiras partidas, apresenta um futebol convincente e dá a sensação de que segue em evolução.
Os argumentos para tamanho otimismo foram dados no duelo contra o Villarreal neste domingo. Diante de um adversário forte, os Leones se impuseram com certa facilidade, ainda que o 3 a 2 do placar sugira um jogo equilibrado. Aliás, o marcador mais realista seria com dois ou até três gols de vantagem para os bilbaínos.
O principal responsável por essa boa campanha é o técnico Joaquín Caparrós. Como o Athletic se nega a contratar jogadores não-bascos, só há dois modos de manter times fortes: contratar os melhores nativos (o que depende de um dinheiro que os Leones não têm) ou desenvolver suas categorias de base. O treinador foi contratado em 2007 pelo seu trabalho com jovens em Sevilla e Deportivo de La Coruña. E já mostra resultados em Bilbao.
O time-base do Athletic é Iraizoz; Iraola, Ustaritz, Amorebieta e Castillo; Susaeta, Yeste, Javi Martinez e Gabilondo; Llorente e Toquero. Quer dizer, é o time-base na teoria. Nas quatro últimas partidas, vários outros jogadores entraram como titular, como David López, Koikili, De Marcos, Gurpegi, Aitor Ocio, Muniain e Etxeberría. Ainda atuaram, como substitutos, Aketxe e San José.
De todos esses, Amorebieta, Llorente, San José, Susaeta, Javi Martinez e Muniain têm idade olímpica ou tinham quando Caparrós aportou em San Mamés (Castillo, Toquero e De Marcos não entram nesta lista porque chegaram ao clube nesta temporada). Muniain é o maior exemplo do processo de renovação e busca de talento local: o meio-campista tem apenas 16 anos.
Com uma quantidade grande de garotos à disposição, Caparrós pode trabalhar melhor com o elenco, dependendo menos das figuras mais conhecidas (Yeste, Etxeberría, Iraizoz e Ustaritz). Além disso, pode poupar alguns jogadores e ter mais fôlego para os dez meses de temporada (não esqueça: o time ainda disputa a Liga Europa). Contra o Villarreal, o técnico anunciou que faria isso, dando chance para David López, Koikili e Gurpegi entrarem como titular. E o Athletic não viu seu nível de desempenho cair.
Se souber gerenciar esse grupo, o maior clube do País Basco pode ter sua segunda temporada sem passar sufoco com o rebaixamento. E, se tiver ambição, começar a construir uma trajetória mais estável e vitoriosa para a próxima década.
Estratégia suicida
Quando Atlético de Madrid e Barcelona entram em campo, é quase que obrigação fazer muitos gols. Nas últimas 15 temporadas em que se enfrentaram, a média de gols foi de 4,31 gols por partida. Nesse caminho, houve placares extravagantes como 6×1, 6×0, 5×3, 4×3 (três vezes!) e 3×3 (veja abaixo a lista).
Abel Resino pareceu gostar dessa estatística e tratou de dar continuidade a ela. Em uma estratégia ousada (se preferir, imprudente), o técnico colocou o Atlético em campo com uma formação ofensiva. Paulo Assunção era o único volante para proteger uma defesa normalmente frágil. Enquanto isso, Maxi Rodríguez, Simão e Jurado armavam o jogo para Forlán e Agüero.
Só pela escalação já se via como o Atlético estava exposto. Para agravar a situação, Ibnrahimovic fez um gol a 2 minutos de partida e obrigou o time madrileno a se abrir um pouco mais. Para manter a distribuição especial, a linha defensiva se adiantou. Foi um banquete para os atacantes do Barcelona. Xavi, Daniel Alves e Messi fizeram a festa ao aproveitar as costas dos zagueiros e laterais colchoneros.
Os gols saíram com facilidade. Com 41 minutos de partida, o Barça já vencia por 4 a 0. Os catalães se acomodaram e permitiram a reação atlética, com um gol de Agüero e outro de Forlán. No final, Messi recompôs a goleada.
Apesar do placar folgado em um clássico, Josep Guardiola, treinador blaugrana, não ficou satisfeito com o desempenho de sua equipe. Para ele, o jogo se desenhou a favor do Barcelona desde o início e as circunstâncias tornaram a vitória fácil. Mas o time teria se assoberbado no segundo tempo, além de ter mostrado poucos recursos novos.
O técnico não deixa de ter alguma razão. Os culés continuam com um time poderoso, sobretudo pelo ataque envolvente e o meio-campo espetacular na troca de passes. Isso, claro, foi fundamental na goleada sobre o Atlético de Madrid. Mas a principal razão para o resultado elástico foram as falhas dos visitantes.
Veja a lista de Barcelona x Atlético de Madrid das últimas 15 temporadas em que se encontraram (nesse período, houve dois anos em que os colchoneros estiveram na segunda divisão):
1993/94
Atlético 4×3 Barcelona*
Barcelona 5×3 Atlético
1994/95
Atlético 2×0 Barcelona
Barcelona 4×3 Atlético
1995/96
Atlético 3×1 Barcelona
Barcelona 1×3 Atlético
1996/97
Atlético 2×5 Barcelona
Barcelona 3×3 Atlético
1997/98
Atlético 5×2 Barcelona
Barcelona 3×1 Atlético
1998/99
Atlético 1×1 Barcelona
Barcelona 1×0 Atlético
1999/2000
Atlético 0x3 Barcelona
Barcelona 2×1 Atlético
2002/03
Barcelona 2×2 Atlético
Atlético 3×0 Barcelona
2003/04
Atlético 0x0 Barcelona
Barcelona 3×1 Atlético
2004/05
Atlético 1×1 Barcelona
Barcelona 0x2 Atlético
2005/06
Atlético 2×1 Barcelona
Barcelona 1×3 Atlético
2006/07
Barcelona 1×1 Atlético
Atlético 0x6 Barcelona
2007/08
Barcelona 3×0 Atlético
Atlético 4×2 Barcelona
2008/09
Barcelona 6×1 Atlético
Atlético 4×3 Barcelona
2009/10
Barcelona 5×2 Atlético
Total
12 vitórias do Barcelona, 11 vitórias do Atlético, 6 empates, 68 do Barcelona, 57 gols do Atlético
Média de gols
4,31 por jogo