É uma pena que uma trajetória brilhante como a de David Silva tenha terminando antes do que precisava
Uma lesão séria no joelho durante a pré-temporada da Real Sociedad levou o campeão do mundo e um dos melhores meias das últimas décadas a encerrar a carreira nesta quinta-feira
A notícia era esperada. Mas não deixa de ser triste. Porque um jogador que conquistou tanta coisa, entre seleção espanhola, Manchester City, Valencia e Real Sociedad, e, principalmente, que tratou tão bem a bola merecia se aposentar em seus próprios termos. No entanto, o fim da brilhante trajetória de David Silva foi antecipado por uma séria lesão nos ligamentos do joelho, sofrida durante a pré-temporada. Mesmo com a perspectiva de disputar mais uma Champions League, o jogador de 37 anos não quer passar pelo longo e duro processo de reabilitação que teria pela frente. Nem precisa. A sua missão no futebol está mais do que cumprida.
A aposentadoria de Silva começou a ser noticiada pela imprensa espanhola no fim de semana, após ele se machucar em um treinamento com a Real Sociedad, no qual se preparava para disputar a 20ª temporada da sua carreira profissional. Habita o Anoeta desde 2020, quando encerrou uma década de serviços prestados ao Manchester City, e, além de uma Copa do Rei, também conseguiu contribuir para uma classificação à Champions League. Contratado como substituto de Martin Odegaard, que retornava ao Real Madrid, emprestou toda a sua elegância e experiência para um dos projetos mais sólidos da Espanha nos últimos anos. Acabou tendo uma prorrogação marcante em sua trajetória.
– É um dia triste para mim. É um dia em que tenho que dizer adeus para o que dediquei toda minha vida. O dia em que tenho que dizer adeus para colegas que são como uma família para mim. Eu sentirei muito a falta de vocês. Ches, armeros, celtinas, citizens e txuri-urdines, obrigado, porque vocês fizeram com que eu me sentisse em casa – disse.
Muchas gracias…fútbol pic.twitter.com/HoB6TPojAd
— David Silva (@21LVA) July 27, 2023
Um campeão de primeira linha
Tudo começou pelo Valencia. David Silva estreou em 2004, pelo time B, e passou a temporada seguinte emprestado ao Eibar, na época treinado por José Luis Mendilibar, atual comandante do Sevilla. Fez apenas dez partidas na segunda divisão. Em seguida, ganhou experiência na elite em cessão para o Celta de Vigo e começou a ser utilizado pelo time principal dos Ches em 2006/07. Passou quatro temporadas disputando La Liga com o Valencia, durante as quais se firmou como uma das maiores promessas do futebol espanhol e europeu.
Silva fez parte de uma geração excepcionalmente talentosa de meias espanhóis que conseguiam compensar com a inteligência e a técnica a relativa falta de potência física, ao lado de Xavi, Iniesta, Fábregas e companhia. Tem apenas 1,70 metros e nunca foi um velocista, mas fazia mágica com a bola e acelerava com o cérebro.
Sabia rodar a bola com rapidez, manter o ritmo da troca de passes, mesmo que fosse talvez o mais incisivo desse pacote. Encaixava no estilo de jogo da Espanha que ficou famoso na virada daquela década. Depois de ganhar sua primeira oportunidade com a seleção em 2006, foi titular na conquista da primeira Eurocopa. Reserva no título da Copa do Mundo, teve um papel importante no bicampeonato europeu, o canto do cisne da era dourada da Fúria. Até marcou na final contra a Itália.
Àquela altura, havia se estabelecido como um craque. Ele ajudou o Valencia a se classificar duas vezes à Champions League, com um terceiro lugar, e conquistou a Copa do Rei em 2007/08. Deu cinco assistências naquela campanha, uma na semifinal contra o Barcelona e duas na decisão diante do Getafe. Em 2010, foi contratado por cerca de € 30 milhões no segundo mercado de verão de Abu Dhabi no Manchester City, na época em que € 30 milhões era muito dinheiro.
Era até possível questionar se a questão física pesaria no ritmo alucinante da Premier League. Não pesou. O Manchester City encerrou seu jejum de títulos ingleses em 2011/12 com 15 assistências de David Silva. Em 309 jogos de Campeonato Inglês, marcou 60 vezes e deu 93 passes decisivos. Em média, uma garantia de participação direta em 15 gols por temporada. Não é para qualquer um. E o seu futebol ganhou um novo dinamismo quando passou a ser treinado por Pep Guardiola que sabe como poucos como utilizar um meia com as características de Silva.
A lacuna da sua carreira foi não ter conquistado a Champions League. Teve uma década de tentativas no Etihad Stadium, mas em um período no qual o City tinha dificuldades na competição. A melhor campanha terminou na semifinal, com Manuel Pellegrini, em 2015/16, às vésperas da chegada de Guardiola. De qualquer maneira, em 2020, despediu-se como uma lenda do Manchester City. Um dos três jogadores desse período, ao lado de Vincent Kompany e Sergio Agüero, que ganhou uma estátua nos arredores do estádio.
Escolheu bem o destino para a fase veterana da sua carreira. A Real Sociedad emendava boas campanhas, mas estava batendo na trave na hora de se classificar à Champions League. Havia perdido uma referência no meio-campo com o retorno de Odegaard ao Real Madrid. Silva mais do que preencheu esse vácuo. Conseguiu acrescentar a conquista da Copa do Rei ao seu currículo, embora tenha disputado apenas a final contra o Athletic Bilbao. A partida, válida pela edição 2019/20, foi realizada apenas em abril de 2021 por causa da pandemia.
A sua última temporada foi a em que mais vezes defendeu a Real Sociedad em La Liga, com 28 rodadas, e teve um papel importante para solidificar o quarto lugar e finalmente classificá-la à Champions League. Estava saudável e, mesmo sem números assustadores, era visível a sua importância, tanto que renovou contrato para mais uma temporada, talvez a sua última. É verdadeiramente uma pena que não terá a oportunidade de disputá-la e se despedir como gostaria.
Quais títulos David Silva conquistou?
- Copa do Mundo (2010)
- Eurocopa (2008, 2012)
- Premier League (2011/12, 2013/14, 2017/18, 2018/19)
- Copa da Inglaterra (2010/11, 2018/19)
- Copa do Rei (2007/08, 2019/20)
- Copa da Liga Inglesa (2013/14, 2015/16, 2017/18, 2018/19, 2019/20)
- Supercopa da Inglaterra (2012, 2019)