Copa do Mundo

O Jogo do Século ainda está no inconsciente de Alemanha e França

A cena é uma das mais fortes da história das Copas. O lançamento de Michel Platini para Patrick Battiston foi perfeito, a chance para a França virar o placar contra a Alemanha Ocidental na semifinal da Copa de 1982. O atacante deu um leve desvio, que parecia o suficiente para balançar as redes. Não foi. Mas, antes mesmo que os torcedores tivessem certeza se o gol tinha acontecido ou não, sequer prestavam atenção na bola. O goleiro Harald Schumacher saiu de encontro com Battiston. Deixou o francês inconsciente, com três costelas quebradas e uma lesão vertebral. Sequer foi marcada a falta.

LEIA MAIS: Benzema cai em hora perigosa

Ainda hoje, Battiston não perdoou completamente o goleiro alemão. “Eu tenho minha ideia, porque acho que aquele lance não foi gratuito, mas não podemos determinar o que há na cabeça das pessoas, analisar as coisas sem resultado. Devemos seguir em frente”, declarou o ex-jogador, em entrevista à revista So Foot em 2012. Do outro lado, Schumacher reafirma que sua intenção era ir na bola e que repetiria a ação de novo se fosse preciso, por mais que lamente o que tenha acontecido depois e já tenha pedido desculpas ao atacante adversário.

Fato é que o lance, por si, estremeceu a relação entre franceses e alemãs, aumentou as hostilidades entre os dois países. A ponto de Helmut Schmidt e François Mitterrand, o chanceler da Alemanha e o presidente da França, precisarem ir à público para tentar abrandar a reação pública e as tensões causadas pelo confronto.

Mais do que isso, o choque entre Battiston e Schumacher é o principal momento de um dos maiores jogos das Copas. Porque, sim, ele foi chave para esquentar ainda mais o clima de um jogo que prometia muito por si só, com duas grandes equipes de cada lado. A Alemanha, então campeã da Eurocopa, com o melhor jogador da Europa na época, Karl-Heinz Rummenigge – que começou no banco por problemas físicos. Já a França, estrelada por Michel Platini, pronta para conquistar a Euro dois anos depois.

VEJA TAMBÉM: Löw tem um bom elenco, mas está dando uma de Felipão com a Alemanha

Littbarski e Platini marcaram os gols no primeiro tempo. O lance entre Schumacher e Battiston aconteceu no começo do segundo, aflorando os ânimos. Para uma prorrogação épica, com quatro gols: Marius Trésor virou o placar e Alain Giresse ampliou para os Bleus, mas o Nationalelf teve ganas para buscar o empate antes do fim do tempo extra, com Rummenigge e Klaus Fischer. Já nos pênaltis, com dois times cansados fisicamente e mentalmente, os alemães se impuseram com a vitória por 5 a 4 – mesmo perdendo uma cobrança antes, com Stielike. O esgotamento da Alemanha, contudo, a tornou presa fácil para a Itália na decisão.

Não dá para prever se França e Alemanha farão um jogo tão memorável no Maracanã quanto aquele de Sevilla, considerado por muitos entre os três melhores da história das Copas. As duas equipes são igualmente muitíssimo qualificadas e, assim como em 1982, os franceses vêm de uma campanha mais impressionante nas fases anteriores. O que não se pode negar, até mesmo por conta da cobertura feita pela imprensa dos dois países, é que o “Jogo do Século” estará no imaginário dos jogadores. E, indiretamente, Battiston e Schumacher podem continuar acirrando os ânimos 32 anos depois do choque que ficou para a história.

Abaixo, os melhores momentos do jogaço no Ramón Sánchez-Pizjuán. Para quem quiser assistir à partida completa, é só clicar aqui.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo