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Ceferin diz ter “sérias reservas e graves preocupações” com ideia da Fifa de Copa do Mundo a cada dois anos

Presidente da Uefa, Ceferin afirmou ter “graves preocupações em relação aos planos da Fifa” e prometeu fiscalizar de perto a questão

A ideia de uma Copa do Mundo a cada dois anos vem sendo falada há muito tempo e parece ter ganhado apoio forte dentro da Fifa. A entidade tem feito uma campanha em favor da mudança, que tem por trás a Federação Saudita, muito próxima do atual presidente da Fifa, Gianni Infantino. A confederação que mais tem levantado a voz contra a ideia é a Uefa. O presidente da entidade, Aleksander Ceferin, escreveu a um grupo que representa diversos torcedores que está preocupado com os planos da Fifa e promete fiscalização contra a medida.

A Fifa tem feito bastante força e um dos grandes entusiastas, ao menos da boca para fora, é Arsène Wenger. Em agosto, falamos como essa ideia tem um caráter econômico, mas também muito político por trás. Em março, voltou a falar sobre isso em julho. Parece haver uma ideia fixa e outros personagens do futebol estão sendo usados pela Fifa para ajudar a convencer o público, como Michael Owen e Yayá Touré.

O presidente da Uefa escreveu para o Football Supporters Europa, uma associação que representa vários grupos de torcedores no continente. Segundo o dirigente, o grupo tem “preocupação extremamente válidas e importantes” sobre o potencial dano ao jogo que uma Copa a cada dois anos poderia causar.

“A Uefa e suas associações nacionais têm sérias reservas e graves preocupações em relação aos planos da Fifa”, disse Ceferin. O presidente da Uefa ainda afirmou ao diretor executivo da FSE, Ronan Evain, que a entidade iria “fiscalizar de perto e responsabilizar por completo” a Fifa em relação à ideia, mostrando que os europeus farão uma oposição forte à ideia.

“Me permite assegurar que a Uefa está com vocês e os torcedores nessa importante questão. Temos que trabalhar juntos para defender os interesses do jogo e reforça a nossa posição de torcedores como os principais interessados”, disse Ceferin.

“Considerando o grande impacto que essa reforma pode ter em toda a organização do futebol, há um espanto generalizado de que a Fifa pareça estar lançando uma campanha de relações públicas para forçar sua proposta, enquanto qualquer proposta dessa forma não tenha sido apresentada às confederações, associações nacionais, ligas, clubes, jogadores, técnicos e toda comunidade do futebol”, continuou o dirigente.

A resposta de Ceferin aconteceu porque a FSE enviou um documento à Uefa dizendo ser contrária à ideia de ter uma Copa do Mundo a cada dois anos. “Se acontecer, o novo calendário terá um impacto diverso no equilíbrio local, doméstico, continental e internacional de competições. Isso irá provavelmente irá prejudicar torneios como a Copa da Ásia, a Copa das Nações Africanas, a Copa América, a Eurocopa, a Copa Ouro e a Liga das Nações, que têm tanta importância para os torcedores que vão ao estádio quando a própria Copa do Mundo”, escreveu Evain, da FSE.

Evain trabalhou com torcedores de cinco confederações diferentes para contestar a proposta da Fifa. “A maioria dos torcedores fica ansioso pela Copa do Mundo precisamente porque é um evento único que só ocorre a cada quatro anos. Eles não têm uma quantidade ilimitada de tempo, dinheiro ou entusiasmo para gastar em voos, acomodações, ingressos ou mesmo assinaturas de TV”, disse Evain.

“Não há dúvida que o futebol tem uma necessidade desesperada de uma reforma… Como as coisas estão, o jogo é desigual, caro para assistir, e para os milhões que não têm acesso a infraestrutura de base adequadas, difícil de jogar. Mas aumentar o número de Copas do Mundo não irá resolver nenhum desses problemas. Na verdade, irá inevitavelmente torná-los piores”, afirmou ainda o diretor da FSE.

A Copa do Mundo a cada dois anos é um atento contra o futebol, porque tira a importância do próprio torneio. A Copa tem um caráter especial por ser a cada quatro anos e é importante que haja cada um dos torneios continentais das Confederações, que inevitavelmente perderiam força com a ideia. Além disso, teríamos um problema muito grande de calendário com o conflito de datas com os clubes, que teriam que liberar jogadores todos os anos para torneios – já que os continentais teriam que ser encaixados em anos que a Fifa não faz a sua Copa.

A ideia precisa ser discutida com muito mais profundidade e rigor, o que a Fifa não parece disposta a fazer. A Federação Saudita quer financiar o aumento da Copa para faturar mais, não apenas em grana, mas especialmente em influência, poder e o chamado sportswashing, limpando a sua imagem da ditadura nefasta que é. Que não tenham força para colocar em vigor esse tipo de ideia estúpida.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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