25 jogadores marroquinos que marcaram o futebol do país no Século XX
Aproveitamos a despedida de Marrocos na Copa do Mundo para relembrar a história de 25 jogadores do passado, desde os tempos prévios à independência

Marrocos possui uma história no futebol muito rica, que nem sempre é valorizada. Os Leões do Atlas podem não ter grandes sucessos na Copa Africana de Nações, com apenas um troféu, mas quase sempre fazem bonito em Copas do Mundo. Das seis aparições dos marroquinos em Mundiais, apenas em 1994 não foram bem. A estreia em 1970 encerrou um hiato de 36 anos sem africanos no torneio. Deram trabalho à Alemanha Ocidental e empataram com a Bulgária. Na volta, em 1986, viraram a primeira seleção africana em mata-matas, líder na chave de Inglaterra, Polônia e Portugal, fazendo os alemães suarem para avançar nas oitavas. A queda na fase de grupos de 1998 é amarga porque Marrocos teve ótimas atuações, o mesmo para 2018. Agora, 2022 rompe fronteiras e dispensa apresentações. E isso porque o sucesso dos nativos marroquinos em Mundiais não se restringe ao próprio país. Basta lembrar o que fez Just Fontaine em 1958. Ou então só imaginar o estrago que Larbi Ben Barek causaria se a guerra não parasse as Copas nos anos 1940.
Abaixo, para resgatar a história do futebol de Marrocos, fizemos uma lista de 25 grandes jogadores marroquinos no Século XX. Foram considerados destaques desde os tempos do Protetorado Francês e do Protetorado Espanhol, ainda no período colonial. Entretanto, há também outros tantos craques da nação independente a partir de 1956. O impacto por clubes foi considerado principalmente para os nomes até a década de 1950. Já depois, os feitos com a seleção e as grandes campanhas internacionais valeram mais à relação. É uma forma de reconhecer que contribuiu a uma trajetória tão notável do país, que culminou nas semifinais do Mundial de 2022.
Larbi Ben Barek
O primeiro grande astro do futebol marroquino e também a primeira grande estrela negra a atuar no futebol europeu, idolatrado até por Pelé. Ben Barek cresceu em Casablanca e praticou diferentes modalidades, mas apresentava uma aptidão especial para o futebol. O atacante habilidoso e inteligente começou no Idéal, em 1934, antes de se transferir à USM Casablanca, grande potência da época. Conquistou títulos, defendeu a seleção do protetorado marroquino e chamou atenção da França. Transferiu-se para o Olympique de Marseille, onde foi um dos destaques na temporada 1938/39, que abriu as portas na seleção francesa. Com o início da Segunda Guerra Mundial, Ben Barek voltou para a USM e levantou mais troféus, assim como teve uma rápida passagem pelo Wydad. Ao final dos conflitos, assinou com o Stade Français em 1945 e se firmaria como uma das principais estrelas do Campeonato Francês, bem como dos Bleus. Em 1948, contratado pelo Atlético de Madrid, o Pérola Negra viveu seu ápice com o bicampeonato espanhol sob as ordens de Helenio Herrera. Ainda voltou em 1953 para mais uma passagem mais curta pelo Olympique de Marseille, antes de retornar ao norte da África como jogador-treinador da USM Bel-Abbès na Argélia e do FUS Rabat. Depois de aposentado dos gramados, ainda foi o primeiro técnico da seleção marroquina após a independência.
Abdelkader Hamiri
Hamiri era visto como o principal concorrente de Ben Barek no Campeonato Marroquino do início dos anos 1940. Nascido em Mohammédia, o atacante se mudou para Casablanca, onde iniciou sua história com o Wydad. Foi o primeiro grande ídolo dos alvirrubros, presente inclusive na primeira partida do clube. Ganharia o apelido de “Bombardeiro”, pela ferocidade de seus chutes. Ao final da Segunda Guerra Mundial, Hamiri se transferiu para a França. Começou voando no Red Star e se tornou o primeiro marroquino a marcar uma tripleta no futebol europeu, mas as lesões atrapalharam sua progressão. Rodou depois por Stade Français, Bordeaux e Toulouse, antes de voltar para ser campeão pelo Wydad no fim dos anos 1940. Também teria mais uma passagem pela França, por Cannes e Sète. Acumulou títulos ainda como técnico, inclusive dirigindo a seleção.
Abdel Salem
Nascido em El-Jadida, cidade construída pelos portugueses, Abdel Salem foi um dos principais defensores de Marrocos naqueles primórdios. Começou sua carreira no Wydad, também presente nos primeiros elencos da história do clube a partir de 1939. Já em 1945, igualmente aceitou uma proposta para se profissionalizar no Campeonato Francês. O Olympique de Marseille o levou e ganhou um homem de confiança por uma década. Salem esteve presente na defesa em dez temporadas e totalizou 256 partidas pela Division 1. Foi o primeiro jogador marroquino a levantar a taça, em 1947/48. Além disso, também teve um vice na Copa da França em 1953/54, nos tempos em que era companheiro de Ben Barek. Permanece ainda hoje como o 15° com mais partidas pelos marselheses.
Ben Kaddour M'Barek
M’Barek nasceu em Casablanca e, assim como Larbi Ben Barek, deu seus primeiros passos no Idéal. O defensor se transferiu para o Bordeaux no fim dos anos 1940 e fez história. Embora rebaixado com o time, auxiliou na conquista do acesso imediato. Mais do que isso, deu sustentação para que os girondinos fossem campeões nacionais logo em seu retorno à Division 1. M'Barek seria nome frequente naquela campanha em 1949/50. Foi o segundo marroquino a faturar a competição na França. Seguiu no clube até 1952, com direito a mais um vice da liga e também um vice na Copa da França. Depois passou pelo Montpellier e pelo Grenoble, mas sem o mesmo sucesso.
Abdesselem Ben Mohammed
Ben Mohammed é um dos maiores ídolos da história do Wydad Casablanca. O atacante defendeu o clube por quase uma década, de 1943 a 1952, e conquistou um tetracampeonato marroquino. Compunha o chamado Trio Dourado, ao lado de Mohamed “Chtouki” Anwar e Driss Joumad. Todos eles se transferiram à França, mas Ben Mohammed foi quem teve mais sucesso. Manteve ótimas médias de gols pelo Bordeaux, a ponto de ganhar uma convocação para a seleção francesa em 1953. Pelos girondinos, também seria vice-campeão da Division 1 e perderia uma final da Copa da França. No final da carreira, defenderia o Nîmes.
Lahcen Ben Mohamed
“Chicha”, como era conhecido, foi o melhor jogador que Marrocos produziu no antigo Protetorado Espanhol. O ponta era extremamente habilidoso e costumava ser elogiado por Ben Barek como o melhor jogador em atividade no país. Foi companheiro do Pérola Negra na USM Casablanca, mas teria maior fama com a camisa do Atlético de Tetuán. Seria parte do time que conquistou o acesso à primeira divisão do Campeonato Espanhol e protagonizou os rojiblancos na naquela temporada 1951/52, apesar do rebaixamento imediato. Anotou 11 gols, incluindo uma tripleta nos 3 a 3 contra o Espanyol e dois nos 4 a 1 para cima do Atlético de Madrid – sem Ben Barek na ocasião. O atacante habilidoso depois rodaria por outros clubes marroquinos, incluindo o FUS Rabat. Fez parte da seleção entre 1957 e 1961.

Abderrahmane Mahjoub
Mahjoub possui a primazia de ter sido o primeiro jogador marroquino a disputar uma Copa do Mundo. O meio-campista nasceu em Casablanca e defendeu a USM local. Não demorou muito a se transferir para o Racing de Paris. Foram duas temporadas na equipe, até ser emprestado para o Nice. A temporada na Côte d'Azur foi um sucesso, com a conquista da Copa da França em 1954. Seria a deixa para que, em grande fase, passasse a integrar a seleção francesa e disputasse o Mundial de 1954. Embora sem tantas chances em campo, fora das convocações a partir de 1955, o meia arrebentou no retorno ao Racing de Paris na sequência dos anos 1950. Ganhou o apelido de “Príncipe do Parque”, diante da maestria exibida no Parc des Princes. Ainda teria bons momentos com o Montpellier, que liderou de volta à primeira divisão, antes de encerrar a carreira no Wydad durante a década de 1960. Depois da independência, Mahjoub integrou a seleção de Marrocos de 1960 a 1963. Também foi técnico dos Leões do Atlas em duas passagens, levando o time à Copa Africana de Nações em 1972.
Just Fontaine
Filho de pai francês e mãe espanhola nascido em Marraquexe, Fontaine nunca negou seu amor a Marrocos. Goleador nato, o centroavante é mais uma cria da USM de Casablanca, pela qual conquistou o Campeonato Marroquino em 1952. O sucesso era tamanho que, um ano depois, o garoto de 20 anos chegou ao Nice. Seria estrela num dos times mais fortes do Campeonato Francês, com 52 gols em 83 partidas pelas Águias. Conquistou a Division 1 e também a Copa da França. Já em 1956, o artilheiro virou uma contratação estelar do fortíssimo Stade de Reims, que acabara de ser vice na Champions. Arrebentou. Foram quatro temporadas em altíssimo nível com os alvirrubros, que renderam dois títulos da Division 1, um da Copa da França e duas artilharias da liga, além do vice da Champions de 1959 – quando também foi o máximo goleador do torneio. Mas nada se compara ao estrago que fez na Copa de 1958 pela França. Se demorou a ser convocado com frequência por causa da seleção militar, o marroquino marcaria seu nome pelos Bleus no Mundial da Suécia. Foram absurdos 13 gols em seis partidas. O problema de Fontaine eram as lesões, que o fizeram se aposentar em 1962, depois de duas temporadas em que mal entrou em campo pelo Reims. Totalizou 30 gols em 21 partidas pela seleção francesa. Posteriormente, o veterano passou a presidir o sindicado de jogadores e também foi técnico. Chegou a dirigir Marrocos de 1979 a 1981, com direito a uma campanha até as semifinais da Copa Africana em 1980.
Hassan Akesbi
Um dos maiores atacantes do futebol francês na década de 1950 foi Hassan Akesbi. O centroavante nascido em Tangier ganhou espaço no Campeonato Marroquino através do FUS Rabat. Entretanto, seus grandes momentos aconteceram a partir de 1955, aos 20 anos, quando se transferiu para o Nîmes. Virou um dos maiores goleadores da Division 1, com 140 gols em suas seis temporadas pelos Crocodilos. Ainda hoje é o maior artilheiro do clube na competição. O problema é que os vices atormentavam o Nîmes: foram três consecutivos na liga, de 1958 a 1960, além de outros dois na Copa da França, em 1958 e 1961. Um alento para Akesbi veio quando ele se transferiu para o Stade de Reims em 1961/62. Substituto do contundido Just Fontaine, o centroavante finalmente ergueu a taça da Division 1 logo em sua chegada. Passaria duas temporadas na equipe, antes de jogar pelo Monaco e voltar ao Reims. Encerrou a carreira pelo FUS Rabat. Com a camisa da seleção de Marrocos, Akesbi anotou nove gols em 11 partidas. Foi a principal estrela do time na primeira vez que os Leões do Atlas disputaram as Eliminatórias, em 1961, mas a equipe perdeu na repescagem intercontinental contra a Espanha.
Mustapha Bettache
Mustapha Bettache nasceu em Casablanca e começou na US Athletic, antes de se transferir para o Wydad Casablanca. Foi uma figura importante dos alvirrubros no início da década de 1950, inclusive ao conquistar o título nacional. Entretanto, seu auge aconteceu mesmo na França. Seriam oito temporadas com a camisa do Nîmes, reforçando a colônia marroquina ao lado de Akesbi, num time treinado pelo argelino Kader Firoud. Bettache estaria presente nas seguidas frustrações dos Crocodilos, entre os três vices no Campeonato Francês e os dois na Copa da França. Em 1963, voltaria a Marrocos para encerrar a carreira no Raja Casablanca. O defensor esteve presente nas primeiras formações da seleção de Marrocos como país independente e disputou as Eliminatórias para a Copa de 1962. Depois seria um técnico de relativo sucesso, com vários títulos à frente do Wydad.
Driss Bamous
Driss Bamous tinha o peso de ser o grande craque de Marrocos na geração que levou o país à sua primeira Copa do Mundo. O meia fez toda a sua carreira no FAR Rabat, clube do exército que dominou o Campeonato Marroquino na década de 1960. E chegaria em alta para as Eliminatórias da Copa de 1970, com grandes atuações e gol decisivo diante de Senegal. Já no Mundial, Bamous usou a faixa de capitão nas três partidas. Deu trabalho para a Alemanha Ocidental na estreia, em que os marroquinos só perderam por 2 a 1 de virada. Também teria papel importante no empate por 1 a 1 contra a Bulgária. Era o condutor de um time respeitado pelo bom toque de bola. Ainda jogou as Olimpíadas de 1964. Aposentou-se da seleção com 63 partidas e nove gols. Depois de se despedir dos gramados, ocupou o cargo de presidente da federação marroquina. Estava à frente da entidade na época em que o time voltou a uma Copa do Mundo, em 1986. Já em sua carreira no exército, chegou ao posto de general de brigada.
Allal Benkassou
Mais uma lenda do FAR Rabat, Allal Benkassou participou dos sucessos do clube na década de 1960. O destaque na equipe impulsionou o goleiro à seleção e ele participaria de momentos importantes na ascensão dos Leões do Atlas. Foi o camisa 1 da equipe durante os Jogos Olímpicos de 1964. Também esteve presente na Copa do Mundo de 1970. Fez boa partida contra a Alemanha Ocidental, até levar a virada, enquanto também encarou o Peru. Permaneceu na equipe nacional até 1972, quando retornou às Olimpíadas pela segunda vez e disputou sua inédita Copa Africana de Nações, eleito o melhor goleiro do torneio. Em sua carreira militar pelo FAR, ocupou a posição de sargento.
Mohamed El Filali
Dono da camisa 10 da seleção na Copa de 1970, El Filali nasceu na Argélia, numa cidade próxima da fronteira, mas cresceu em Marrocos. Seu primeiro clube foi o Mouloudia d'Oujda, que também fica na região fronteiriça. Seria um dos destaques da equipe na década de 1960 e se projetou à seleção. Anotou gols importantes na classificação dos Leões do Atlas ao Mundial de 1970 e encarou as três partidas daquela Copa como titular. Bastante técnico e habilidoso, manteve a toada ao jogar as Olimpíadas e a Copa Africana de Nações em 1972. Chegou a passar rapidamente pelo futebol argelino, mas voltou para ser campeão marroquino pelo Mouloudia, na única conquista da história da agremiação.
Ahmed Faras
Faras teve a honra de ser o craque de Marrocos na principal conquista da seleção. O atacante vestiu uma única camisa por clubes, a do Mohammédia, liderando a agremiação aos maiores títulos de sua história – o Campeonato Marroquino e duas Copas do Trono. Mesmo assim, foi na seleção que viveu seu auge. O atacante ainda era um coadjuvante na Copa de 1970, mas esteve presente. Já em 1972, marcou três gols na Copa Africana de Nações e mais três nas Olimpíadas – numa tripleta contra a Malásia. Seguiu imparável nos anos seguintes, com destaque ao altíssimo nível em 1975, quando recebeu o prêmio de Melhor Jogador Africano do Ano. Já em 1976, Faras liderou a campanha do título na Copa Africana de Nações. Marcou três gols na competição e também recebeu o prêmio de MVP. Foram 14 anos na ativa pelos Leões do Atlas, com cinco torneios internacionais disputados. É o maior artilheiro da equipe nacional e o segundo com mais aparições, totalizando 36 gols em 94 partidas.
Abdelmajid Dolmy
Dolmy é considerado por muitos como o maior ídolo da história do Raja Casablanca. É o recordista de partidas pelo clube e muito identificado com os alviverdes. Volante baixinho e exímio lançador, chegou a ser sondado por clubes europeus, mas nunca quis deixar Casablanca – a sua cidade natal. Defendeu ininterruptamente o Raja de 1970 a 1987, antes de aceitar uma proposta gorda do novo rico CLAS Casablanca. Foi exatamente nesse período de ausência que os alviverdes conquistaram pela primeira vez o Campeonato Marroquino e também a Champions Africana, com a volta de Dolmy ao Raja em 1990. Pela seleção, o Maestro atuou de 1973 a 1988. Foi campeão da Copa Africana de Nações em 1976, com quatro edições disputadas no torneio, e esteve nos Jogos Olímpicos de 1984. Já o auge aconteceu quando o veterano vestiu a camisa 6 na Copa de 1986. Teve ótimas atuações, em especial no empate por 0 a 0 com a Inglaterra, quando ganhou nota 9 na rigorosa avaliação da France Football.
Badou Zaki
Para muitos, o melhor goleiro africano da história, em competição com Thomas N'Kono. Zaki nasceu em Sidi Kacem e começou na AS Salé, antes de virar uma lenda do Wydad Casablanca a partir de 1978. Nesta época, acumulou títulos nacionais e passou a ser convocado para a seleção. Presente na Copa Africana em quatro oportunidades, de 1980 a 1992, também disputou os Jogos Olímpicos em 1984. Porém, nenhuma dessas aparições internacionais se compara ao que fez na Copa do Mundo de 1986. A campanha de Marrocos até as oitavas de final só foi possível pelos milagres do arqueiro, muito seguro e imponente sob os paus. Não à toa, os marroquinos só tomaram um gol na fase de grupos, mesmo encarando Polônia, Inglaterra e Portugal. Nos mata-matas, a Alemanha Ocidental esbarrou no paredão até o fim do segundo tempo, quando o morrinho artilheiro auxiliou o tento de Lothar Matthäus. Foi eleito um dos melhores arqueiros do Mundial e recebeu o prêmio de Jogador Africano do Ano. A fama o levou ao Mallorca, onde também foi ídolo. Recebeu prêmios de melhor goleiro de La Liga e foi capitão do time vice-campeão da Copa do Rei em 1990/91. Pendurou as luvas em 1993, após uma rápida passagem pelo FUS Rabat. E virou um técnico de sucesso, que levou Marrocos à final da CAN 2004 – num time que contava com Walid Regragui na lateral direita.
Mohamed Timoumi
Mohamed Timoumi chegou a ser comparado como o “Pelé Marroquino”, tamanha sua qualidade com a camisa 10 dos Leões do Atlas. Era um meia-atacante de múltiplas virtudes e o grande astro do futebol local na década de 1980. Nascido em Rabat, Timoumi defendia o modesto Union Touarga, até ser contratado pelo FAR Rabat em 1982. Virou lenda no clube do exército, a ponto de conduzi-lo à conquista da Champions Africana de 1985, ano em que também recebeu o prêmio de Melhor Jogador Africano. Já em 1986, chegou em alta para a Copa do Mundo e dava agressividade ao jogo de bom toque praticado pelos marroquinos. Ao final da primeira fase, Sócrates chegou a elogiá-lo como melhor jogador do torneio até então. Só não deu para bater a Alemanha Ocidental nas oitavas. Pela seleção, ainda disputou as Olimpíadas de 1984 e duas edições da Copa Africana. Depois do Mundial, rodou por Murcia, Lokeren, Al-Suwaiq, CLAS Casablanca e se aposentou no FAR.
Mustapha El Biyaz
Principal referência defensiva de Marrocos na vitoriosa década de 1980, El Biyaz atuava como lateral e principalmente como zagueiro. Era um marcador difícil de superar, mesmo sendo relativamente baixo. Sua carreira por clubes começou no Kawkab Marraquexe. Passou pelo Raja Casablanca na década de 1980, antes de retornar ao Kawkab. Depois teria uma curta passagem pelo Penafiel, mas precisou se aposentar cedo, aos 28 anos. Ainda assim, teve tempo de vestir a camisa da seleção por cinco anos. Jogou as Olimpíadas de 1984 e duas edições da Copa Africana de Nações, além da Copa do Mundo de 1986. Foi no Mundial que o camisa 4 recebeu o reconhecimento entre os melhores beques da história do país. Foi desfalque exatamente na eliminação contra a Alemanha Ocidental.
Aziz Bouderbala
Meio-campista de classe e muita qualidade na armação do time, Aziz Bouderbala foi um nome onipresente nos sucessos de Marrocos na década de 1980. Nasceu em Casablanca e começou no Wydad, onde se tornou um dos xodós da torcida a partir de 1978. Já em 1984, iniciou sua jornada europeia por diferentes clubes. Teve seus melhores momentos no Sion, antes de compor um endinheirado Racing de Paris que chegou à final da Copa da França, onde foi companheiro de David Ginola e Enzo Francescoli. Ainda atuou no Lyon, antes de passar também por Estoril e St. Gallen, até finalmente se aposentar no Wydad. Ainda assim, sua história na seleção conseguiu ser maior. Convocado a partir de 1979, disputou quatro edições da Copa Africana de Nações. Não chegou a ser campeão, mas acabou eleito o melhor do torneio em 1988, quando o time caiu nas semifinais. Já na Copa do Mundo de 1986, o meia serviu entre as referências na histórica campanha aos mata-matas, dono da camisa 8. Terminou aquele ano como segundo no prêmio de Melhor Jogador Africano, só atrás de Zaki.
Abdelkrim Merry
Da geração da década de 1980, Krimau, como era apelidado, teve a carreira mais longeva na Europa. O atacante nasceu em Casablanca, mas assinou com o Bastia quando ainda estava entre os juniores. Viveria momentos importantes do clube, titular nas finais da Copa da Uefa de 1977/78, quando os corsos perderam para o PSV. Já a partir de 1980, o centroavante rodou por vários clubes do país. Defendeu times tradicionais como Lille, Strasbourg e Saint-Étienne, enquanto suas melhores fases foram por Metz e Le Havre. Por conta de sua história na Europa, não seria tão frequente na seleção de Marrocos, mas disputou duas Copas Africanas e foi o dono da camisa 9 na Copa do Mundo de 1986. Anotou o último gol na histórica vitória sobre Portugal.
Mustapha El Haddaoui
El Haddaoui une duas gerações mundialistas diferentes de Marrocos. O meia de boa chegada ao ataque oferecia velocidade e potência. Era um dos prodígios do Raja Casablanca, antes de se transferir para o Lausanne em 1985. A partir de então, fez o seu nome na Europa, com longa rodagem pelo Campeonato Francês. Passaria por Saint-Étienne, Nice, Lens e Angers, antes de se aposentar no Jeanne d'Arc de Senegal. Presente na seleção a partir das Olimpíadas de 1984, vestiu a camisa 7 na Copa do Mundo de 1986 e manteve seu lugar cativo na faixa central. Ainda disputou duas Copas Africanas de Nações. Já veterano, em 1994, era o único remanescente do Mundial do México nos Estados Unidos. Usou a 10 e a braçadeira de capitão, mas a campanha terminou com uma coleção de derrotas, sem um ponto sequer.
Mustapha Hadji
Para muita gente, o jogador marroquino mais habilidoso do século. Também aquele que reaproximou Marrocos da França através do futebol. Hadji nasceu em Ifrane, mas se mudou à França quando tinha 10 anos e cresceu perto da fronteira com a Alemanha. O futebol seria um elemento de integração do jovem, presente nas escalações do Nancy desde 1991. O talento era evidente e ele chegou a ser convocado para as seleções francesas de base, mas escolheu os Leões do Atlas. A partir de 1993, seria um nome central na equipe marroquina. Não se deu bem na Copa de 1994, mas liderou o ótimo time de 1998. Dono da camisa 7, Hadji anotou um gol no torneio e sustentou o sonho de classificação de Marrocos, que derrotou a Escócia e empatou com a Noruega. Seu momento era tão bom que ele se tornou o quarto (e último) jogador do país a vencer o prêmio de Melhor Africano do Ano. Ainda esteve presente em duas edições da Copa Africana. Por clubes, saiu do Nancy em 1996. Defendeu o Sporting, fez parte de um fortíssimo Deportivo de La Coruña, deixou sua marca em Coventry City e Aston Villa, passou também por Espanyol, Emirates, Saarbrücken e Fola Esch. Aposentou-se apenas em 2010 e, depois disso, foi por oito anos assistente da seleção, presente inclusive no Mundial de 2018.
Noureddine Naybet
O maior defensor da história de Marrocos, e sem muito questionamento quanto a isso. Naybet nasceu em Casablanca e teria o início de sua carreira atrelado ao Wydad, vencedor inclusive da Champions Africana. O Nantes abriu as portas da Europa ao zagueiro, numa passagem curta e mesmo assim marcante, antes de defender também o Sporting com sucesso. Já a partir de 1996, virou um dos pilares do Deportivo de La Coruña que acumulava taças na Espanha. Dono de enorme presença física e privilegiado senso tático, conquistou La Liga e Copa do Rei, enquanto ainda foi semifinalista da Champions. Saiu de lá apenas em 2004, para encerrar a carreira no Tottenham. Naybet é o jogador com mais partidas na história da seleção de Marrocos, com 115 aparições no total. Disputou as Olimpíadas de 1992 no início da carreira. Foram seis edições na Copa Africana de Nações, inclusive presente no vice de 2004. E era uma das figuras centrais nos times que disputaram as Copas de 1994 e de 1998. Chegou a ser escalado na “seleção africana de todos os tempos” montada pelo IFFHS.
Youssef Chippo
Meio-campista, Chippo garantia equilíbrio ao lado de Hadji nos times de Marrocos ao longo dos anos 1990. O meia é natural de Boujad e iniciou sua trajetória pelo KAC Kenitra. O grosso de sua carreira seria vivido no exterior. Rodou pelo Oriente Médio com Al-Hilal, Al-Arabi, Al-Sadd e Al-Wakrah, mas também foi campeão pelo Porto e superou os 100 jogos pelo Coventry City. E era um dos principais destaques dos Leões do Atlas por mais de uma década. Jogou as Olimpíadas de 1992 e quatro edições da Copa Africana, até 2006 – embora ausente no vice de 2004. Também esteve entre os destaques dos marroquinos na campanha da Copa do Mundo de 1998, geralmente escalado na meia direita.
Salaheddine Bassir
Bassir foi o principal artilheiro da seleção na década de 1990, ainda hoje como segundo maior goleador da história dos Leões do Atlas. O atacante de Casablanca vestiu a camisa do Raja em seus primórdios, antes de ser ídolo do Al-Hilal. Na Europa não teria tanto impacto, mas jogou por equipes como o Deportivo de La Coruña, o Lille e o Aris, antes de retornar ao Raja para o fim da carreira. Vestiu a camisa de Marrocos de 1994 a 2002, com sua melhor fase exatamente às vésperas da Copa de 1998. Foi o artilheiro do time nas Eliminatórias e também balançou as redes duas vezes na histórica vitória contra a Escócia, insuficiente para a classificação na rodada final. Jogou três edições da Copa Africana e foi um dos jogadores acima dos 23 anos nas Olimpíadas de 2000. Teve uma respeitável marca de 27 gols em 59 aparições com os Leões do Atlas.