Brasil

Willian construiu uma carreira de respeito na Europa antes de voltar para onde tudo começou

A torcida corintiana terá a oportunidade de viver a experiência que foi abreviada em 2007: a de torcer por um jogador identificado com ela como é Willian

Willian foi quase uma miragem no Corinthians. Apenas 41 jogos e dois gols, todos no mesmo jogo. Logo depois, foi vendido ao Shakhtar Donetsk, no que acabou se provando a pá de cal nas esperanças de escapar do rebaixamento naquele ano de 2007. Apesar de tão breve, foi suficiente para o corintiano notar que havia algo especial naquele menino do terrão e para, mesmo à distância, manter uma identificação com ele. Agora, essa experiência poderá ser vivida mais plenamente porque, após construir uma carreira de respeito na Europa, Willian voltou para onde tudo começou.

A negociação estava em andamento há alguns dias e sua conclusão foi curiosamente confirmada primeiro pelo Arsenal. A rescisão do contrato de Willian com o clube inglês foi anunciada já com o destino. Como se o clube quisesse deixar claro à sua torcida que só liberou o atacante de 33 anos para voltar ao Brasil. Porque, sem problemas físicas relevantes, ele ainda teria espaço na Europa. Ao longo de todos esses 14 anos, Willian construiu merecidamente a reputação de ser um dos jogadores mais regulares do continente.

Isso às vezes entrou em conflito com o que se espera de um jogador de Seleção. Willian ganhou suas primeiras chances com Mano Menezes, mas disputou apenas os dois primeiros amistosos. Retornaria em 2013, com Felipão, e seria presença constante até a Copa América de 2019. A regularidade que vale tanto em campeonatos de pontos corridos, por exemplo, não funciona tão bem em um contexto no qual se espera um pouco mais de fogos de artifício, mas a posição do ponta nas convocações do Brasil raramente foi injustificada.

No Shakhtar Donetsk, ele fez 37 gols em 221 partidas, o que pode parecer pouco, mas é relevante para um garoto promissor que saiu do Brasil com questionamentos sobre a qualidade da sua finalização. O clube ucraniano é uma porta de entrada boa ao futebol europeu pela sua presença constante na Champions League e com um projeto frequentemente bem amarradinho. Dá para chamar a atenção, como fez Willian em 2012/13, com quatro gols na fase de grupos – incluindo dois contra o Chelsea que ajudaram a eliminar o então atual campeão precocemente e demitir Roberto di Matteo.

Após seis meses pelo Anzhi, a hora chegou de dar um salto na carreira. O Tottenham parecia na dianteira, mas o Chelsea apareceu para furar o negócio de última hora. Os Blues passaram por muita coisa nos anos seguintes. Tiveram o retorno de Mourinho, foram campeões com Antonio Conte, tentaram Maurizio Sarri, mas sempre puderam contar com a regularidade de Willian. Os números ajudam a provar isso. Pela Premier League, por exemplo, foram 38 gols e 38 assistências em 259 rodadas, praticamente uma participação direta a cada três jogos. Uma boa marca para um jogador da sua posição que nem sempre foi titular.

A temporada em que mais atuou foi a que Mourinho foi demitido, em 2015/16, e o Chelsea terminou com Guus Hiddink como interino. Perdeu um pouco de espaço com Conte, mas, apesar de o total de minutos ter diminuído, continuava entrando em quase todas as partidas, com 34 e 36 rodadas do Campeonato Inglês disputadas nos dois anos do italiano. Também foi bastante utilizado por Maurizio Sarri e, depois de ser titular de fato com Frank Lampard, buscou a estabilidade de um contrato de três temporadas com o Arsenal.

Não deu certo no norte de Londres. Sofreu algumas lesões, o que é raro na sua carreira, e foi titular apenas 16 vezes na Premier League, 21 no total. É um pequeno ponto de interrogação ao seu retorno ao Brasil, mas temos que enfatizar o contexto das turbulências pelas quais o Arsenal passa nos últimos anos. Não é exatamente o projeto esportivo mais sólido do futebol inglês.

Por outro lado, Willian sempre se provou um jogador confiável, regular, com o qual o time dele pôde contar semana após semana. A finalização ficou ótima, aliás, e as cobranças de falta são fatais. Consegue atuar pelos dois lados e ainda está em boa idade – 33 anos – para jogar bem no futebol brasileiro. Os indicativos são positivos e, principalmente, fica à torcida corintiana a chance de enfim poder ter a experiência que lhe foi cortada tão precocemente em 2007.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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