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Volta de Fred ao Fluminense é uma busca de retomar a felicidade, dele e do clube

A transferência estava para acontecer faz tempo e estava mais do que na cara que aconteceria já há algum tempo. Nesta sexta-feira, enfim, Fred chegou às Laranjeiras para assinar contrato com o seu novo velho clube, o Fluminense. O anúncio da contratação foi feita no domingo, 31 de maio, mas para assinar com o Tricolor, o atacante cumpriu um desafio de cinco dias de pedalada, de Belo Horizonte ao Rio, com 600 quilômetros de distância. Uma ação nobre para levantar cestas básicas. Uma forma bonita de retomar uma história que é também linda.

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“Estou muito, mas muito feliz de estar de volta. É a realização de um sonho! Ainda mais podendo ajudar tantas pessoas com essas doações. É um momento muito emocionante para mim”, disse Fred. “Passa realmente um filme na cabeça. Vivi muita coisa nesse lugar… Emociona lembrar das conversas, das experiências que tive aqui dentro. Agora é uma história que estou reescrevendo”.

“A volta do Fred tem um significado especial por ser um passo importante na reconstrução do clube. Ele é uma referência no ataque e um ídolo com grande identificação com nossa torcida. Um capítulo muito importante na história do Fluminense”, afirma o presidente Mário Bittencourt.

Fred jogou pelo Fluminense por longos sete anos. Teve participação fundamental em momentos históricos do clube. Logo que chegou, em 2009, fez parte de uma campanha de recuperação em que o time parecia condenado ao rebaixamento, mas conseguiu escapar com uma trajetória maluca, que desafiou as probabilidades.

Na 27ª rodada, o Flu era o último colocado, com 21 pontos, depois de uma derrota para o Flamengo. Estava a sete pontos do Santo André, primeiro time fora da zona de descenso. Escapar do rebaixamento parecia uma missão quase impossível. Dali em diante, foram quatro empates e sete vitórias. Na última rodada, o Tricolor empatou com o Coritiba e ficou um ponto à frente do adversário, rebaixado com 45 pontos – maior pontuação dos pontos corridos de um rebaixado. Fred foi crucial na campanha, com 12 gols.

Isso já seria motivo para Fred ser adorado nas Laranjeiras, mas ele fez muito mais. Em 2010, esteve no time que conquistou o Campeonato Brasileiro, mesmo com uma lesão grave que o afastou do final de julho ao final de setembro. O grande nome do time naquela campanha foi o argentino Darío Conca. Fred fez 14 jogos e marcou cinco gols.

Em 2011, o Corinthians foi o campeão, mas Fred lutou pela artilharia até o último jogo. Quem levou o prêmio foi Borges, do Santos, com 23 gols, mas Fred fez 22 e ficou muito próximo. Em 2012, porém, a história seria diferente. Sob o comando de Abel Braga, o Fluminense levou a taça ficando à frente do Atlético Mineiro, por cinco pontos. Fred marcou 20 gols naquela edição e se tornou o artilheiro, três gols à frente de Luís Fabiano, do São Paulo. Aquela foi a segunda taça do principal campeonato do Brasil.

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Fred foi artilheiro do Brasileirão em três edições. Além de 2012, foi também em 2014 e em 2016 – nesta edição, com um gol pelo Flu e outros 15 pelo Atlético Mineiro, para onde se transferiu no meio daquela temporada, em junho. Sua passagem pelo Galo gerou controvérsia no início, já que ele tinha surgido no Cruzeiro. Gerou ainda mais quando, em 2018, ele mudou de lado e foi para o Cruzeiro. A volta à Toca da Raposa, porém, foi menos gloriosa do que se imaginava.

Fred se machucou em março de 2018 e ficou fora até setembro daquele ano. Perdeu 31 jogos no total. Em 2019, mais uma vez não foi tudo que se imaginava. Fred jogou menos do que queria, em um time que degringolou, teve mudanças de técnicos, com a demissão de Mano Menezes e uma campanha horrível. O clube celeste acabou rebaixado e Fred terminou com apenas cinco gols em 30 jogos no Brasileirão. No total, foram 36 jogos, com nove gols marcados e um rebaixamento histórico do Cruzeiro, o primeiro na história do clube.

A história em 2020 não era muito melhor e Fred e Cruzeiro estavam destinados a se separar. O Fluminense queria a sua volta. O atacante queria voltar. Restava só acertar os ponteiros. Foi mais difícil do que o imaginado. Fred é um dos melhores atacantes do Brasil nos últimos 10 anos, com uma marca de gols notável e um currículo pesado. Por outro lado, tem 36 anos e o histórico recente de lesões suscita dúvidas.

O quanto o jogador poderá render em campo? É difícil saber. Se sabe que ele tem uma capacidade de marcar gols que poucos jogadores possuem no país, além de uma identificação enorme com o clube. Até por isso, acaba sendo positivo para os envolvidos. Fred se sente bem nas Laranjeiras, o clube e a torcida têm carinho pelo camisa 9. Ele terá o ambiente para se tornar novamente um jogador efetivo e importante.

A dúvida em relação a Fred só se dá pela duração do contrato: 21 de julho de 2022, quando o jogador terá 37 anos e o clube completará 120 anos. Pelo status de ídolo que tem e por ver jogadores como Nenê atuando em bom nível aos 38 anos faz com que a confiança seja alta pelo bom rendimento do atacante. O problema passará a ser do técnico Odair Hellmann, que precisará saber como armar o time e possivelmente não será com Ganso, Nenê e Fred. Ganso já vinha perdendo espaço e sendo reserva, o que tende a continuar.

O Fluminense busca recuperar a felicidade em um momento que vê um rival como o Flamengo dominante no país. Fred rompeu com o Cruzeiro, onde queria voltar para ser feliz, para ficar no clube que mais defendeu e que parece ter maior identificação com o jogador. A união dos dois é uma esperança de ambos em retomar os dias felizes e os sorrisos rasgados, como o atacante mostrou na volta à sede do histórico clube carioca. Ninguém espera o Fred de 2009, porque ele não existe mais. Mas o Fred de 2020 pode ajudar o clube que criou um vínculo muito forte – e que será eterno, porque está na história.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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