Brasil

Vasco sai em defesa de jovem remador do clube vítima de racismo em abordagem policial

Garoto de 14 anos, das categorias de base do remo do Vasco, foi detido acusado pelo roubo de celulares quando voltava do treino no clube

Reafirmando seu caráter social, o Vasco saiu em defesa de um jovem atleta das suas categorias de base do remo, que o clube afirma ter sido detido injustamente. De acordo com nota divulgada pelo clube, o garoto foi abordado por policiais militares em um ônibus quando voltava do treino, na Lagoa Rodrigo de Freitas, para casa, no morro de Tuiuti, próximo a São Januário, e detido acusado pelo furto de celulares, em um caso que evidencia o preconceito e o racismo das abordagens policiais no Rio de Janeiro e no Brasil. O garoto de 14 anos, que é negro, já foi liberado, mas o clube já colocou à disposição da família o seu departamento jurídico para auxiliar na defesa do jovem.

O caso aconteceu na última segunda-feira (15), mas o clube informou que foi comunicado pela família do garoto na terça-feira (16), quando o garoto já estava solto. De acordo com o clube, nem mesmo o fato do jovem ter mostrado o seu uniforme do Vasco e ter falado que era atleta do clube e que voltava do treino fez a Polícia Militar fazer contato com o clube. O menino, que foi acusado de furto de dois celulares junto com outros garotos que estavam no mesmo ônibus, teria passado horas na Delegacia sem contato com a família e o Vasco.

Diante desse caso gravíssimo, o CRVG informa que acionou seu departamento jurídico para atuar em representação de seu jovem remador buscando a indispensável reparação da injustiça praticada. O Vasco da Gama não permitirá que o nome de seu atleta seja maculado e está dando todo o apoio a sua família”, diz um trecho da nota do Vasco.

Entenda o caso do jovem remador do Vasco

De acordo com relato da família, depois do treino pelo Vasco, na última segunda-feira, o jovem foi a praia com outros atletas do clube, andou de bicicleta e pegou o ônibus 472 em Botafogo, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. Na altura da Central do Brasil, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, um grupo de jovens entrou no veículo pela porta de trás. Em seguida, policiais militares pararam o ônibus e entraram no veículo.

O atleta do Vasco e outros três garotos foram abordados pelos PMs, acusados de furtarem os celulares de duas pessoas. O jovem teria mostrado o uniforme do Vasco, que estava na sua mochila, e disse que estava voltando dos treinos. De acordo com nota da Polícia Militar (veja a nota da PM abaixo), com o grupo de jovens (sem especificar com quais deles) foram encontrados dois celulares, que foram devolvidos as vítimas.

Assim, os quatro jovens foram conduzidos à 4ª Delegacia, na Praça da República, perto da Central do Brasil. No entanto, a vítima que foi até à DP não reconheceu os adolescentes, que foram liberados, mas acabaram fichados como “adolescentes infratores”.

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Vice-presidente do Vasco fala sobre o caso

Nesta quarta-feira (17), o vice-presidente do Vasco, Carlos Roberto Osório, recebeu família do jovem atleta do clube em São Januário. Além do Departamento Jurídico, o dirigente também colocou o Departamento de História e Responsabilidade Social à disposição do garoto e seus familiares.

– Não temos todos os fatos, mas não há dúvida nenhuma que o nosso atleta, que estava voltando para casa, no coletivo, foi abordado porque entenderam que ele era suspeito. É um jovem negro, estava com cabelo descolorido, e foi abordado de uma maneira não adequada. E pior que isso, mesmo se identificando como atleta do Vasco, mostrando o que estava fazendo, foi conduzido à delegacia. Foi deixado lá durante várias horas, sem contato com a família. Isso é muito grave. E o pior de tudo é que no boletim de ocorrência ele aparece como “adolescente infrator”, acusado e registrado pelo roubo de um telefone celular – afirmou Osório em entrevista ao “SBT”.

– O Vasco da Gama não aceita esse tipo de coisa. Um dos nosso pilares é a luta contra o racismo. Nosso atleta terá todo apoio do Vasco, o departamento jurídico irá defende-lo, e nós vamos garantir que essa injustiça seja reparada e que não haja nenhuma mácula ao nome do atleta. É lamentável que 100 anos depois que o Vasco se levantou contra o racismo no futebol isso ainda seja corriqueiro na nossa cidade. Temos que parar, pensar e não podemos permitir que isso siga impune – completou Osório.

Veja a nota do Vasco

O Club de Regatas Vasco da Gama informa que foi procurado pela mãe de um atleta de 14 anos da base do remo vascaíno relatando que ontem, 15/1, seu filho foi injustamente preso dentro de um ônibus quando regressava do treino para sua casa, no morro do Tuiutí.

O menor havia sido detido por policiais militares e conduzido para a delegacia, onde foi registrado boletim de ocorrência enquadrando o jovem, que é negro, como “adolescente infrator”, acusado de furtar um aparelho de telefone celular.

O fato do jovem ter se apresentado como atleta do Vasco da Gama e mostrado documento do clube foi desconsiderado. A autoridade policial não fez contato com o Vasco da Gama.

Diante desse caso gravíssimo, o CRVG informa que acionou seu departamento jurídico para atuar em representação de seu jovem remador buscando a indispensável reparação da injustiça praticada.

O Vasco da Gama não permitirá que o nome de seu atleta seja maculado e está dando todo o apoio a sua família.

Confira a nota da Polícia Militar

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que na noite de segunda-feira (15/01), policiais militares do 5° BPM (Praça da Harmonia) foram acionados para uma ocorrência de furto na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro.

De acordo com o comando da unidade, os agentes foram acionados pelas vítimas do fato que relataram aos militares que os suspeitos da ação criminosa estavam a bordo de um ônibus da linha 472. Na ação quatro menores foram abordados pelos policiais. Com o grupo, os agentes localizaram dois aparelhos de telefone celular.

Os telefones foram devolvidos às vítimas que procuraram a guarnição. Após a solicitação dos militares, para que as vítimas acompanhassem a equipe até a delegacia, uma delas informou aos agentes que não gostaria de formalizar a denúncia sob a justificativa de que morava na mesma comunidade que os acusados.

Já a outra vítima acompanhou a equipe até a unidade policial, onde não reconheceu os envolvidos como autores do furto. Os adolescentes foram conduzidos à 4ª DP (Praça da República), onde o fato foi registrado e posteriormente, todos foram liberados.

O comando do 5° BPM (Praça da Harmonia) instaurou um procedimento apuratório para analisar a conduta dos policiais. Cabe ressaltar que a corporação não compactua com quaisquer desvios ou qualquer tipo de ato discriminatório cometido por policiais militares.

Foto de Gabriel Rodrigues

Gabriel RodriguesSetorista

Jornalista formado pela UFF e com passagens, como repórter e editor, pelo LANCE!, Esporte News Mundo e Jogada10. Já trabalhou na cobertura de duas finais de Libertadores in loco. Na Trivela, é setorista do Vasco e do Botafogo.
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